Governo convida lutadores de jiu-jítsu para campanha contra preconceito
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sábado, 19 de fevereiro de 2000
Por Mônica Ciarelli
Rio, 20 (AE) - A Secretaria de Segurança vai convidar os principais lutadores de jiu-jítsu no Brasil para participarem de uma campanha publicitária contra o preconceito e a violência aos homossexuais. O primeiro convite foi feito hoje pelo subsecretário Luiz Eduardo Soares aos lutadores Royler Gracie e Viltor Belfort durante um encontro entre representantes do esporte e de entidades de defesa dos direitos dos homossexuais, na academia Espaço Vital, na Barra da Tijuca, na zona oeste.
Royler Gracie aproveitou a reunião para pedir desculpas aos homossexuais pela violência cometida por alguns lutadores. "Está na hora de parar com essas agressões a quem não sabe lutar", afirmou. "Atleta sério não tem tempo para fazer badernas." Na semana passada, o presidente da Federação de Jiu-Jítsu do Rio e tio do Royler, Robson Gracie, foi acusado de estimular a discriminação sexual no esporte.
Robson é pai de Ryan Gracie, 25 anos, acusado de esfaquear Marcus Vinícius da Rosa na boate Ilha da Fantasia. Royler defendeu a prisão de seu primo, Ryan, se ficar comprovada a culpa. "Todos têm que pagar", disse. "Se é da família tem que pagar e se é de fora também." O slogan da campanha publicitária será "intolerância zero, respeito dez". Além dos lutadores, a secretaria quer a participação de artistas. Soares quer sensibilizar cantores para a promoção de um show destinado a divulgar o movimento. Os recursos arrecadados serão colocados em um fundo com o objetivo de financiar novas campanhas contra o preconceito no Estado.
A secretaria pretende também distribuir folhetos sobre as consequências da discriminação de homossexuais em competições, nas revistas especializadas no esporte e também em publicações dirigidas ao público homossexual. "O preconceito é sinônimo de uma sociedade selvagem", frisou Soares. "Esse poderia ser o início da aproximação das academias e o mundo gay." Outra iniciativa é utilizar o projeto de delegacia virtual para facilitar o cadastro dos lutadores de Jiu-Jítsu do Rio, que poderá ser feito via internet. "Em uma semana vamos disponibilizar uma ficha de inclusão dos atletas na internet, isso vai melhorar a vigilância", explicou o secretário de Segurança. Ele lembrou que o cadastro é obrigatório desde 1997.
Preconceito - A mãe e empresária do lutador Vitor Belfort, Maria Jovita Viera, revelou que houve um protesto de atletas contra a participação dele na revista homossexual Sui Generis. Belfort foi capa em fevereiro da revista com uma matéria sobre a paz entre lutadores de Jiu-Jítsu. "Os problemas causaram a interrupção de um patrocínio que estava sendo negociado há meses", afirmou. "Uma das coisas que tem que se mudar é a cabeça do lutador."