Governo admite que recessão só diminuirá em agosto
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domingo, 23 de abril de 2000
Por Ariel Palácios, especial para a AE (assinatura obrigatória)
Buenos Aires, 24 (AE) - "Teremos que esperar até julho ou agosto". Esta foi a previsão do secretário de Programação Econômica da Argentina, Miguel Bein, que declarou à imprensa que somente para essa época o país poderá recuperar o nível de atividade anterior à crise de junho de 1998. Segundo Bein, estes dois anos de drástico esfriamento da economia constituíram-se na recessão mais longa desde os anos 80. Além de longa, ele sustentou que foi a crise mais dura, superando os efeitos da crise mexicana.
Para o secretário, alguns setores da economia já estão dando sinais de recuperação, como o alumínio, aço e papel. Bein afirmou que medições preliminares indicam que o PIB (Produto Interno Bruto) teria crescido 2% no primeiro trimestre deste ano.
Segundo ele, dificilmente o desemprego apresentará uma redução de destaque na medição que será anunciada em maio. O secretário afirmou que o emprego nas empresas privadas nas grande cidades cresceu 0,5%, "o que é pouco, mas aumenta". A queda no desemprego, sustenta, será notada na medição de outubro.
Enquanto o governo espera a recuperação para daqui a três ou quatro meses, a população prepara-se para tempos mais prolongados de vacas magras: segundo uma pesquisa da Fundação Mercado, 71% das famílias argentinas planejam manter seu atual nível de gastos pelo resto do ano tal como está hoje, e não aumentá-lo sob hipótese alguma. Para outros 24%, o panorama é mais severo: eles planejam a redução dos gastos.
Desta forma, no total, 95% dos argentinos pretendem ter uma vida sóbria neste ano, o que indica que o consumo interno não subirá.
As dificuldades vividas pelo bolso dos argentinos se evidenciam no pagamento dos condomínios: segundo especialistas imobiliários, um terço dos moradores de 70% dos 120 mil edifícios da cidade de Buenos Aires atrasam esse pagamento. Desde 1989, o número de processos por atrasos nos condomínios aumentou 400%.
A recessão argentina causou a queda do número de autônomos ou independentes. Há dez anos o número de autônomos era de 25,3% da força de trabalho argentina. Os milhares de demitidos por causa das privatizações utilizaram as indenizações para abrir pequenos negócios, nos quais prosperaram os pequenos supermercados e lavanderias.
Mas a crise acabou com estes pequenos comércios e o sonho de ser patrão de si mesmo. Hoje, os autônomos passaram a ser 20,3% da força de trabalho do país. Dos que deixaram de ser autônomos para voltar a ser assalariados, 71% (466 mil trabalhadores) não possuem carteira assinada. A pobreza também aumentou entre os que ainda permanecem autônomos: há vinte anos, somente 2,6% destes trabalhadores eram pobres. Hoje, a pobreza atinge 25% dos autônomos.