São Paulo, 02 (AE) -Os vereadores governistas que estão na Comissão Especial que analisa o pedido de impeachment do prefeito Celso Pitta (PTN), na Câmara Municipal, usarão critérios técnicos para arquivar a denúncia apresentada pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). A estratégia foi definida pelo líder do Governo na Câmara, Brasil Vita (PPB), Wadih Mutran (PPB) e Paulo Roberto Faria Lima (PMDB)
em conjunto com os principais articuladores do Palácio das Indústrias para enfrentar a batalha que começa nesta semana.
Vita e Mutran devem ser confirmados como representantes do PPB entre amanhã e terça-feira. O líder do Governo, que estava resistente, dirá que reconsiderou a partir do apelo da bancada do PPB. Na verdade, ele atende a pedido do próprio Executivo, formalizado na sexta-feira.
Além de ser o mais antigo e experiente parlamentar paulistano em exercício, Vita é advogado militante e cuidará da parte técnica. Como os assessores políticos do Palácio das Indústrias sabem que os vereadores da oposição devem tentar algumas manobras políticas, apostam em Mutran para fazer a defesa.
Wadih Mutran, que controlou politicamente a Administração Regional da Vila Maria, é conhecido pela forma pouco ortodoxa como combate a oposição e defende Pitta em plenário. Não pensa duas vezes em berrar ou provocar intencionalmente os manifestantes da galeria da Câmara para defender as posições do governo e garantir que as sessões prossigam ou sejam encerradas de acordo com o interesse dos governistas.
Olho - Na semana passada, Mutran provocou risos entre os próprios colegas ao utilizar um machucado no olho para fazer política. "Não estou enxergando o teclado", disse, para justificar o fato de não ter votado o pedido de criação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) contra o Executivo.
Quando o bloco de apoio a Pitta decidiu enterrar a CPI dos Fiscais e um pedido de impeachment apresentado pelo PT em uma única sessão, Mutran apresentou um requerimento para prorrogar a CPI dos Fiscais por apenas três dias. Fora alertado por colegas de que seria "crucificado" pela opinião pública, mas não recuou.
À época, justificou a decisão explicando que esse era o tempo do qual precisava para esclarecer algumas dúvidas. O desempenho e o empenho pró-Pitta em plenário levou a ex-mulher do prefeito, Nicéa Pitta, a escolhê-lo como candidato à presidência da Câmara. Pitta nega até hoje, mas declinou a sua preferência. E perdeu. O vereador Armando Mellão, hoje no PMDB, foi eleito numa articulação com parte da oposição.
Os governistas poderão até pedir diligências, se julgarem necessário, mas intenção é não esgotar os dez dias de prazo que a comissão dispõe para analisar a denúncia da OAB-SP. O prefeito e os articuladores políticos do Palácio das Indústrias negam, entretanto, qualquer interferência no processo.
Independência - Na semana passada, o prefeito Celso Pitta afirmou que não interferiria na independência do Legislativo. O secretário do Governo Municipal, Carlos Meinberg, negou ter influenciado as indicações dos partidos.
Mesmo assim, um influente vereador da base governista lembrou que os parlamentares e o Executivo teriam tempo suficiente para conversar antes da votação da abertura de uma Comissão Processante.
Um vereador do PTB, que pediu para não ser identificado, disse que Meinberg chegou a pedir ao líder do partido, José Amorim, que retardasse a indicação de seu representante enquanto as articulações com o PPB não fossem encerradas. Amorim negou a conversa, mas reagiu em seguida: "Quem te contou isso?" Meinberg admitiu ter conversado com Amorim, mas negou qualquer pedido.
O secretário do Governo Municipal também confirmou ter recebido Faria Lima algumas vezes em seu gabinete na semana passada. "Foram conversas normais, pois receber vereadores faz parte da rotina da Secretaria do Governo Municipal", argumentou Meinberg.
A entrada da "tropa de choque" de Pitta em cena altera um pouco o cenário imaginado para a Comissão Processante contra o prefeito. Até a semana passada, a hipótese mais provável dos aliados de Pitta era a indicação apenas de parlamentares que suportariam sozinhos o ônus político de encerrar o pedido de impeachment ainda na fase preliminar. Por causa disso, a comissão foi apelidada pelos vereadores de "camicase" ou "suicida".