Goiás não garante a procedência do gado
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2000
Por Antônio José do Carmo
Goiânia, 19 (AE) - A Secretaria da Agricultura de Goiás está lacrando os caminhões de gado e dando atestado de sanidade animal aos bois que saem daquele Estado com destino a São Paulo, mas não tem condições de garantir se eles vieram clandestinamente do Mato Grosso do Sul, onde o Ministério da Agricultura impôs restrições sanitárias que impedem o livre trânsito dos animais.
A principal suspeita é a falta de fiscalização em estradas da divisa e o aumento de até 400% no transporte de boi vivo ou abatido ocorrido nos últimos meses só em uma das passagens, a GO-178, que dá acesso ao Estado de São Paulo utilizando o município de Cassilândia, no Mato Grosso do Sul.
Pelos números oficiais, os dez municípios daquela região possuem rebanho de 1,75 milhão de cabeças. Mantendo a média de desfrute nacional para abate anual em torno de 10%, os analistas consideram normal um transporte diário de até 500 cabeças de gado/dia nesse período de safra. Mas, entre animais vivos e abatidos estão saindo diariamente da região de 3 mil a 4 mil cabeças de gado. São até 140 caminhões de gado por dia e outros 40 de carne resfriada.
Os caminhoneiros fazem roteiro em zigue-zague pela divisa. Depois do embarque da carga, a primeira apresentação é feita aos fiscais sanitários goianos que dão credibilidade à carga carimbando os documentos e colocando um lacre na porta da carroceria. Goiás, São Paulo e Paraná são Estados sem restrição para comércio de gado e por isso a carga segue sem problemas.
As guias de trânsito são liberadas pela Agência Rural, órgão criado pela Secretaria da Agricultura de Goiás, responsável pelo controle sanitário animal no Estado. O chefe dessa repartição em Itajá, Sinval Barbosa da Silva, disse que não vai à fazenda verificar a boiada antes de liberar uma guia de transporte. Ele acredita na declaração do fazendeiro. Para conferir os dados, apenas verifica num fichário de papel cartolina se o pecuarista de fato é dono da quantidade de bois que afirma estar retirando da propriedade. Essa quantidade também é dita por ele, sem contestação.
Na fiscalização rodoviária, o fiscal Fabiano Gonzaga Jaime apenas confere se a quantidade de bois em transporte é igual ao número declarado. Essa semana o caminhoneiro Marcos Esteves, que transportava uma carga de gado para Fernandópolis, ao passar pela barreira sanitária da GO-178 disse que os animais foram embarcados numa fazenda em Itajaí, mas ele passou por Aporé, um dos caminhos por onde é transportado o gado clandestino vindo do Mato Grosso do Sul. Moradores de Aporé, como Jeferson dos Santos, que trabalha como peão de boiadeiro, disse que o transporte de gado do MS nunca foi paralisado. "A fiscalização da divisa conhecida como Figueira é pouco frequentada pelos funcionários do governo", disse Santos.