O curso de Geografia da UEL (Universidade Estadual de Londrina) comemorou no dia 1° de março 65 anos de história. Para o encerramento do evento de aniversário na noite da última sexta-feira (3), a convidada foi a geógrafa e professora Maria Adélia Aparecida de Souza. Comemorando 60 anos de profissão e com críticas à atual formação dos geógrafos, ela afirmou que a UEL é a única universidade que sempre a respeitou.

Ela ministrou a palestra “Refletindo sobre a terra, o mundo e a vida humana” para alunos de diversos cursos. A reportagem conversou com Souza antes do evento. “Esse curso de Geografia [da UEL], que eu posso até criticar, é o que mais me respeitou. Eu sou invisível na história da geografia brasileira”, destacou.

Capixaba, enquanto estudava Geografia na USP (Universidade de São Paulo), ela veio para Londrina pela primeira vez na década de 1960 para coletar dados para uma pesquisa acadêmica. “Aqui eu falo de Geografia. Aqui eu fui convidada para fazer a seleção de um concurso público para escolher um professor, que para mim é um aspecto muito importante. Eu tenho 60 anos de profissão, sou formada na USP, fui prefeita na USP, fui chefe de gabinete do reitor da USP, só não fui a primeira reitora porque eu não tenho perfil político. E a geografia brasileira não me vê, mas o Nilson [Nilson Cesar Fraga, coordenador do curso de Geografia da UEL] me viu”, conta.

Depois de mais de um ano coletando informações em Londrina, Maria Adélia Aparecida de Souza foi para França estudar, retornando 10 anos depois. No período, foi aluna do economista Celso Furtado, que estava exilado no país, a pedido do seu orientador, o geógrafo Pierre Monbeig. Para ela, a Geografia no Brasil está em dissolução: “e não é por causa da pandemia, mas porque os cursos estão velhos e o mundo mudou”.

Ela ressalta que as universidades não estão sabendo ensinar Geografia, pontuando a queda no número de estudantes matriculados nos cursos ao redor do país. “Nós estamos em constante mudança, que requer essa revisão de conteúdo em todas as áreas”, afirma.

Amiga de Milton Santos, que é considerado por ela o maior geógrafo do mundo, ela afirma que a academia não se aproveita das obras dele, mas faz uma ressalva: “ler não é estudar, tem que estudar”.

VERTICALIZAÇÃO

Única planejadora territorial do Brasil, Souza é enfática ao afirmar que não houve o correto uso do espaço em Londrina, que é uma das cidades mais verticalizadas do país: “assim como não houve em todo o Brasil”. Ela cita como exemplo a tragédia que assolou a região de São Sebastião, no estado de São Paulo, e o trânsito caótico da capital paulista.

Ela é crítica do crescimento vertical das cidades. “Quando você densifica, você cria o que o Milton [Santos] chama de Meio Técnico Científico Informacional. Você tem que criar meios densos tecnicamente, com fibra óptica, rua asfaltada, que custa dinheiro. E de onde você tira esse dinheiro? Da periferia”, explica.

Segundo ela, o problema do Brasil é a falta de uma política urbana brasileira, com o objetivo de realocar empregos e renda. “As cidades estão interligadas, sendo que uma atuação em um ponto altera todo o sistema”, finaliza.