Abidjan, 24 (AE-AP) - Conhecido como um dos países politicamente mais estáveis da áfrica, a Costa do Marfim (oeste do continente) foi abalada hoje (24) pelo anúncio de um golpe militar contra o presidente Henri Konan Bedié.
"A partir deste momento, Bedié não é mais o presidente da república", declarou o general Robert Guei, ex-chefe do Estado Maior do Exército. "Vamos formar um comitê de salvação nacional, que será anunciado em breve."
Guei, de 58 anos, referiu-se também a uma "série de providências já adotadas", que incluem a dissolução do Parlamento, do governo (chefiado pelo primeiro-ministro Daniel Kablan Ducan), do Conselho Constitucional e da Suprema Corte.
Horas antes, dezenas de soldados haviam tomado algumas ruas do centro da capital - roubando carros estacionados e saqueando lojas - , edifícios de emissoras de rádio e televisão e o aeroporto da capital. Os amotinados exigiam a melhoria em seus soldos e o pagamento de bônus relativos à sua participação em missões das forças de paz da ONU no centro da áfrica (Minurca).
"O general Guei aproveitou-se de uma reivindicação puramente material da tropa para dar um golpe", acusou o embaixador da Costa do Marfim na França, Jean-Marie Kacou-Gervais.
Pela manhã, o presidente Bedié e o primeiro-ministro Ducan haviam recebido uma comissão dos rebeldes e prometeram atender às exigências deles desde que retornassem aos quartéis e entregassem as armas. "Procedendo dessa maneira, ninguém será punido", disse o presidente, isolado em sua residência por um comando rebelde.
Pouco depois, o porta-voz presidencial, Daniel Kadja, procurava reduzir a gravidade da situação, recomendando calma à população. "Não há necessidade para entrar em pânico."
Guei confirmou o cerco militar da residência do presidente, mas fontes diplomáticas garantiram que Bedié não se encontrava mais ali. Ele teria sido levado por agentes à paisana para a sede da embaixada da França - país do qual a Costa do Marfim tornou-se independente em 1960. O país é o maior produtor de cacau do mundo, mas enfrenta uma séria crise econômica e os efeitos sociais decorrentes.
Depois de tomar o aeroporto de Abidjan e interromper o tráfego aéreo (desde a madrugada de hoje nenhum avião desce ou levanta vôo dali), os soldados, alguns usando bonés de beisebol, libertaram todos os presos políticos - entre os quais 11 oposicionistas partidários do ex-primeiro-ministro Alassane Ouattara - e isolaram o setor financeiro da capital e a área administrativa.
No aeroporto ficaram cerca de 70 soldados, disparando suas armas esporadicamente para o ar e brincando no interior dos aviões ali estacionados. Todos os acessos à capital foram bloqueados.
Nas ruas do centro, sempre disparando tiros para o ar, continuaram a saquear lojas e construir barricadas virando alguns ônibus e caminhões abandonados, enquanto Guei aconselhava a população a permanecer em suas casas.
Hoje pela manhã havia grande preocupação no setor financeiro da cidade. Na quinta-feira, o ministro da Defesa, Bandama NGatta, havia mandado tropas supostamente leais ao governo à região para reforçar a guarda do Banco Central da Costa do Marfim.