Rubens Burigo Neto
De Curitiba
Os 63 caminhões e dois ônibus encontrados pelo Serviço de Inteligência da Polícia Militar, a P2, num galpão dado como suspeito em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, não passam de veículos recuperados pelo Banco Santander de clientes inadimplentes. A interdição, há uma semana, foi uma precipitação da P2 e da Promotoria de Investigações Criminais (PIC) à procura de provas para incriminar o empresário de desmanches de carros, Paulo Gilberto Pacheco Mandelli, acusado de roubo, receptação de veículos, e participação no esquema de distribuição de drogas.
Essa informação ganhou força durante toda a semana que passou, no circuito bancário de Curitiba, e foi confirmada na sexta-feira à Folha pelo advogado de Mandelli, Antônio Figueiredo Basto. Para confirmar essa versão, Basto mostrou o volume de documentos dos veículos, que provam tratar-se de bens com busca e apreensão autorizados pela Justiça de vários Estados, junto aos devedores.
Todos os documentos apresentados pelo advogado mostam que os autos de reintegração de posse foram autorizados para o Banco Santander Noroeste S/A ou à Santander Noroeste Leasing S/A. ‘‘A única relação do meu cliente (Paulo Mandelli) com esse endereço é que ele intermediou a locação entre o banco e o dono do galpão’’, assegurou Basto. Ele também negou a hipótese de que Mandelli seria o depositário fiel do Santander, razão que teria levado o banco a não se manifestar após a notícia ter ganhado a imprensa.
Na tarde de sexta-feira, antes de a Folha ter acesso aos documentos, um dos diretores do banco, Evandro Pagy, negou com veemência que os caminhões pertençam ao Santander, e considerou a informação ‘‘improcedente’’ e ‘‘completamente absurda’’. De acordo com informações colhidas junto à rede bancária, não é incomum que bancos e seguradoras aluguem ou mantenham galpões próprios em pontos estratégicos espalhados pelo País, para guardar bens tomados de seus clientes inadimplentes, ou recuperados depois de roubados (no caso das seguradoras). Os promotores da PIC e o comando da P2 silenciaram sobre o assunto.
O diretor do Instituto de Criminalística do Paraná, José Lourenço Bueno, considera ‘‘plausível’’ a versão de que os caminhões não pertencem a Mandelli. ‘‘Até agora não encontramos nenhum sinal de adulteração nos veículos periciados no galpão de São José dos Pinhais.’’ Também estão sendo realizadas perícias em outros cinco depósitos e lojas de auto-peças usadas: Motoralba – Motores e Câmbios, Mandelli – Veículos e Peças, de Paulo Mandelli, Kadu Peças e JF – Mecânica e Motores, de propriedade de Joarez França (o ‘‘Caboclinho’’) e uma quinta loja de peças de caminhões na BR-116.Caminhões apreendidos pela polícia em São José dos Pinhais foram recuperados pelo Santander junto a clientes inadimplentes
Mauro FrassonDEFESAO advogado Antonio Figueiredo Basto: ‘‘A única relação do meu cliente (Paulo Mandelli) com esse endereço é que ele intermediou a locação entre o banco e o dono do galpão’’; nos destaques, cópias dos autos de apreensão e de reintegração de posse dos veículos