Gaeco deflagra operação contra grupo que fraudava licitações de prefeituras
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 03 de dezembro de 2020
Simoni Saris
O Núcleo de Londrina do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou, nesta quinta-feira (3), a Operação Pasteiros, que investiga a organização responsável por um grande esquema de fraudes a licitações que se estendeu por pelo menos 69 municípios do Paraná, de Santa Catarina e de São Paulo e causou R$ 10 milhões em prejuízos aos cofres públicos. Foram cumpridos expedidos 62 mandados de busca e apreensão das residências e empresas dos envolvidos em 16 cidades paranaenses e uma no interior de São Paulo. Além disso, foram cumpridas 50 notificações de medidas cautelares diversas da prisão contra os investigados e apreendidos R$ 151.906,00 em espécie.
As investigações do Ministério Público do Paraná começaram em 2018, a partir de denúncia feita por um morador de São Jerônimo da Serra (Norte Pioneiro), e resultaram na Operação Déja-Vu, deflagrada em outubro de 2019 e que culminou com a prisão do então prefeito, João Ricardo de Mello, apontado pelo MP como chefe do esquema, e de outras sete pessoas. Na ocasião, também foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e adotadas medidas cautelares, entre elas, o afastamento do cargo do vice-prefeito, Laerte Correia.
Na Operação Déja-Vu, o Gaeco apurou o envolvimento no esquema de empresas de São Jerônimo da Serra, Cornélio Procópio e Assaí. O grupo atuava principalmente no fornecimento de peças de veículos oficiais da prefeitura para carros de particulares, segundo o MP, mas também foi identificado superfaturamento na merenda e em produtos hospitalares. “Naquela operação, vieram muitos elementos de prova que demonstram a existência de um grande grupo criminoso que frauda licitações em diversas prefeituras, câmaras e outros entes municipais”, disse o promotor do Gaeco em Londrina, Leandro Antunes.
Com o avanço das investigações, que resultou na Operação Pasteiros, o MP chegou à soma de 185 pregões presenciais fraudados em 69 municípios do Paraná, São Paulo e Santa Catarina, sendo a maioria deles localizados na Região Metropolitana de Londrina (25) e Norte Pioneiro (20), totalizando 45 cidades nessas duas regiões. Mas os investigadores identificaram ramificações do esquema em nove municípios da Região Metropolitana de Maringá, três do Centro-Oeste, uma dos Campos Gerais e uma do Noroeste paranaense. No interior paulista, a organização se estendeu por nove municípios e em Santa Catarina, um.
Esquema criminoso
“As fraudes consistiam no seguinte, os integrantes dessa associação, desse grupo criminoso, reuniam-se previamente às licitações e decidiam quem iria vencer os certames. Muitas vezes, eles faziam uma verdadeira divisão dos lotes que seriam licitados de forma que não existia competição nessas licitações”, explicou Antunes. Em outras situações, relatou o promotor, quando a divisão dos lotes não era possível, as empresas maiores pagavam um valor indevido às empresas menores para que estas abandonassem os pregões ou para que participassem apenas formalmente, para dar uma aparente legalidade no processo licitatório.
Para participarem dos “acertos” decorrentes das fraudes aos pregões, alguns investigados chegaram a constituir empresas e compareciam às sessões de julgamento das propostas munidos apenas de pastas vazias, sem a documentação necessária de habilitação ou propostas, razão pela qual eram conhecidos como “pasteiros”.
A prática permitia que os responsáveis pelo esquema vencessem os pregões sem qualquer concorrência e arrematassem os lotes dos produtos em valores muito próximos ao máximo previsto no edital, lesando os cofres públicos. O Gaeco chegou a 293 pessoas envolvidas nas fraudes. São empresários, representantes e funcionários de empresas que participaram de todo o esquema que acarretou um prejuízo de, no mínimo, R$ R$ 10.016.057,60 aos municípios. Até este momento, destacou o promotor, a investigação foca somente em empresários que integravam a organização criminosa, mas o MP não descarta eventuais participações de servidores públicos ou mesmo agentes políticos no esquema.
Acordos
Durante a apuração das denúncias, foram celebrados três acordos de colaboração premiada que, segundo o Gaeco, a partir dos quais foi possível constatar que o esquema funcionava pelo menos desde 2014 e contava com a participação de centenas de empresas. Nas diligências, foram apreendidas planilhas e mensagens de aplicativo, além de interceptações telefônicas, que confirmaram as informações fornecidas ao MP pelos colaboradores.
Em São Jerônimo da Serra, 39 pessoas já haviam sido denunciadas pelo MP dentro da Operação Sucupira, que investigava fraudes em licitações. Entre os acusados à época, estavam a esposa e dois filhos do então prefeito, Adir dos Santos Leite, além de seu chefe de gabinete, o responsável pela tesouraria e pelas finanças da prefeitura, servidores municipais, empresários e agentes públicos.
As investigações da Operação Déja-Vu são conduzidas junto à Vara Criminal de Ribeirão do Pinhal, que deferiu o cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de medidas cautelares diversas da prisão contra 148 investigados.
MUNICÍPIOS ONDE FORAM CUMPRIDOS OS MANDADOS:
NO PARANÁ:
Norte Pioneiro
Santo Antônio da Platina
Jacarezinho
Curiúva
Andirá
Cornélio Procópio
Região Metropolitana de Londrina
Londrina
São Sebastião da Amoreira
Assaí
Arapongas
Cambé
Ibiporã
Vale do Ivaí
São João do Ivaí
Região Metropolitana de Maringá
Maringá
Jandaia do Sul
Mandaguari
Astorga
EM SÃO PAULO
Fartura
MUNICÍPIOS VÍTIMAS DAS FRAUDES:
NO PARANÁ
Norte Pioneiro
Abatiá
Andirá
Bandeirantes
Cambará
Conselheiro Mairinck
Cornélio Procópio
Curiúva
Figueira
Ibaiti
Itambaracá
Jaboti
Jacarezinho
Joaquim Távora
Jundiaí do Sul
Ribeirão Claro
Ribeirão do Pinhal
Santo Antônio da Platina
São Jerônimo da Serra
Siqueira Campos
Wenceslau Braz
Região Metropolitana de Londrina
Arapongas
Assaí
Bela Vista do Paraíso
Cambé
Centenário do Sul
Congonhinhas
Florestópolis
Ibiporã
Jataizinho
Leópolis
Nova América da Colina
Nova Fátima
Nova Santa Bárbara
Primeiro de Maio
Rolândia
Sabáudia
Santa Amélia
Santa Cecília do Pavão
Santa Mariana
Santo Antônio do Paraíso
São Sebastião da Amoreira
Sapopema
Sertaneja
Sertanópolis
Uraí
Centro-Norte
Apucarana
Califórnia
Prado Ferreira
Região Metropolitana de Maringá
Astorga
Cambira
Floresta
Iguaraçu
Jandaia do Sul
Mandaguaçu
Maringá
Santa Fé
Sarandi
Campos Gerais
Imbaú
Noroeste
Santa Cruz do Monte Castelo
EM SÃO PAULO
Buritama
Dois Córregos
Guararapes
Ibirarema
Ipaussu
Itaberá
Ourinhos
Parapuã
Santa Cruz do Rio Pardo
EM SANTA CATARINA
Santa Cecília