Paris, 12 (AE) - A fusão da gigante de mídia Time Warner com a maior fornecedora mundial de acesso à Internet, AOL, deixa a França e a Europa aturdidas.
Surpresa total! Tudo se passou como se os Estados Unidos houvessem tranquilamente preparado e realizado a quarta revolução industrial em seu canto, na surdina, sem que ninguém do outro lado do Atlântico percebesse.
Esta ignorância causa espanto. A fusão envolve dois mastodontes. Ela movimenta centenas de bilhões de dólares, e isto no setor mais iluminado da indústria contemporânea, o de mídia e comunicações.
Ora, nem os jornais europeus, nem os pesquisadores europeus, nem as companhias de mídia européias tinham farejado o aroma delicioso (ou abominável, conforme o ponto de vista) da megafusão.
Esta cegueira dos observadores diz muito sobre o atraso da Europa com relação aos norte-americanos. Os europeus, no domínio da Internet, não são apenas anões; são também cegos.
Assim se explica a confusão sentida desde a manhã de ontem. Todos percebem que foi desencadeado um processo inédito nos Estados Unidos e que se a Europa não tratar de subir bem depressa no trem que se põe em movimento, o comboio norte-americano não poderá mais ser alcançado.
Infelizmente, constatado o perigo, constatado o enorme atraso da Europa, ninguém sabe como responder ao novo "desafio americano". Será preciso que a Europa se lance com a mesma temeridade no carnaval de "fusões"?
Mas, para fundir, é preciso haver o que fundir. Ora, a Europa se encontra desarmada. Será em vão procurar na Alemanha, na França, e mesmo na Inglaterra, operadoras de Internet do porte fenomenal da AOL ou da Yahoo!.
Os estrategistas acham então que a resposta da Europa poderia obedecer a outros modelos que não o da Time Warner/AOL. Como o Velho Continente não tem operadoras de Internet aptas para se tornar predadoras de dinossauros, o mecanismo poderia agir no sentido inverso: grandes sociedades européias de mídia, televisão e, sobretudo, telefonia (graças à explosão do celular na Europa) conduziriam a dança, diferentemente dos Estados Unidos onde foi a Internet quem capitaneou a operação Time/AOL.
Entre as operadores européias capazes de tentar aventuras desse tipo, citam-se a France-Telecom ou a Deutsche-Telekom. A britânica BT, que se lançou mais tarde sobre a rede, não parece bem posicionada.
Paralelamente a esses estados de espírito sobre a capacidade de "reação" da Europa, os comentaristas se interrogam sobre o sentido da fusão. A maioria vê nela, neste começo simbólico do terceiro milênio, o anúncio de uma revolução cultural, industrial e política que merece o título de "virada histórica".
O que choca, no caso, não são tanto os bilhões de dólares em jogo, mas a entrada do planeta em uma nova "casa", uma nova "província" da aventura técnica e industrial das sociedades ocidentais.
Essa mudança diz respeito, por certo, à enormidade das capacidades de comunicação, à velocidade quase impensável que essas comunicações conhecerão dentro de alguns anos, à universalização das redes, ao contato, quase instantâneo, de todos os saberes, de todas as culturas, etc...
Mas há na fusão, além disso, um elemento ao mesmo tempo original, fascinante e, se a ocasião se apresentar, muito perigoso: o surgimento de um mundo onde as gigantes da mídia serão donas, ao mesmo tempo, do "continente" e do "conteúdo".
Estamos apenas no começo da reflexão (que já deveria ter sido iniciada há muitos anos). Ninguém duvida de que, no correr do tempo, veremos se desdobrarem, no novo cenário, relevos hoje insuspeitáveis.