Grand Riviere, Trinidad (AE-AP) - Nas margens da última floresta tropical virgem em Trinidad, no cimo de uma montanha que dá vista para uma sossegada vila e para o Mar do Caribe, reside o líder do "Povo da Terra".
Nos tempos áureos, o grupo chegou a ter cerca de 35 pessoas e era conhecido entre os grupos de contracultura por viver mas profundezas da floresta localizada no norte do país e por rejeitar qualquer facilidade do mundo moderno em seu território particular.
Devido a perturbações e a disputas internas, o grupo dissolveu-se no final dos anos 80. Apenas alguns permaneceram, dispersos pela região selvagem entre Blanchisseuse e Matelot no rochoso litoral norte.
"As pessoas pensaram que o grupo praticava orgias sexuais selvagens e loucuras", diz o líder e fundador do grupo, Jakatan. "Nunca foi assim. Era naturalismo".
Agora, com 54 anos, Jakatan, está feliz em viver à margem da civilização, como um guia turístico que trabalha meio período, e espera pelo apocalipse, quando, segundo suas visões, ele irá liderar os sobreviventes de volta para a floresta para viverem "a vida".
Ele não está entre os milenaristas atormentados com a chegada do ano 2000 e não faz profecias sobre a data da chegada do apocalipse.
Jakatan continua a ter seguidores. Há poucas semanas, turistas da Alemanha e da Noruega vieram vê-lo. Um jovem e magro norueguês, com cabelos nos ombros, o chamou de "uma lenda viva".
Piero Guerrini, dono do Mt. Plaisir Estate Hotel, tem um acordo com Jakatan, indicando-o para turistas que queiram aventurar-se na floresta tropical. "Ele é um homem muito carismático", disse Guerrini. "Seu conhecimento da floresta é surpreendente. Ir para lá com Jakatan é sempre uma experiência mística."
Ao levar um visitante para um passeio, Jakatan pára abruptamente no meio do caminho. Ele aponta uma árvore, de onde vem o som de passarinhos cantando. "Uma chuva forte está a caminho", diz ele. O céu não tem nuvens, está absolutamente azul.
"Logo?"
"Não."
A pequena casa de Jakatan fica ao longo do caminho para uma cachoeira. Ele mergulha e volta com um saco sobre os ombros, um cigarro nos lábios e uma garrafa de rum em seu bolso. Ele é magro e sólido como uma videira, dando a impressão que nasceu da própria floresta.
O desenvolvimento na floresta tropical é fantástico, a vida crescendo em cima da vida, e Jakatan pára muitas vezes e fala, filosofa e observa. Ele lamenta e tenta descobrir a causa da morte de um coqueiro. Ele aponta o local onde sua esposa, Sheilah, uma vez encontrou uma enorme serpente tomando conta de um grande ovo.
Jakatan inclina-se para recolher uma substância grudenta e delicadamente a enrola em duas folhas e as coloca em seu bolso. "É bom para problemas de pele", declara.
No campo do Povo da Terra, uma área com uma cabana primitiva e uma cama de campanha, ele faz o fogo e ferve algumas folhas de limoeiro. Ele mistura café, açúcar e leite condensado e serve o chá da tarde na metade de um coco. Parece nojento, mas é delicioso.
Na hora do crepúsculo, Jakatan pega seu facão e começa a cortar o mato. Em dez minutos, ele havia feito uma outra cama com os pedaços de madeira. Ele faz uma lanterna, mistura rum e água fresca de um rio próximo numa casca de coco e conta, durante a noite, como sua vida vem sendo guiada por sinais, presságios e visões do cataclismo.
Um dia, um jovem chamado Rupert estava em pé nas montanhas que dão vista para o Port-of-Spain e teve uma visão. Na visão, uma grande onda levantou-se do mar, submergindo tudo em seu caminho e derrubando igrejas.
O homem virou-se para o leste e começou a correr sobre corpos deitados no chão. Ele estava correndo no deserto e quando olhou para trás os corpos haviam se levantado e o estavam seguindo.
Naquele dia ele tornou-se Jakatan e seu destino ficou claro. Rastafaris e membros de outros grupos tornaram-se seus seguidores por algum tempo.
O nudismo praticado pelo grupo ofendeu muitas pessoas na região e Jakatan afirma que eles sofreram numerosos ataques físicos. Os detalhes são incompletos e difíceis de confirmar, mas ficou claro que o grupo separou-se depois de cerca de uma década de notoriedade.
De qualquer forma, Jakatan nunca retornou à cidade. Agora, quando o ritmo da pequena vila próxima ao final da estrada no nordeste de Trinidad começa a ficar muito agitado, ele pega sua esposa e seus três filhos e vai para uma das quatro cabanas que ele construiu dentro da floresta e fica lá por meses.
"Se eu me deito aqui e tenho uma visão, ela é clara. Mas lá...", diz ele e acena vagamente em direção à pequena vila com turistas, carros, bares e gente, "se eu tenho uma visão, não é clara. Na floresta, você tem tempo para fazer perguntas a você mesmo".
Na manhã seguinte, a floresta está parada e quieta até que um barulho aproxima-se e fica mais alto, movendo-se pela floresta.
Era uma vasta cortina de vento que quando chegou como um ciclone, fez cada árvore e planta da floresta curvar-se para o oeste até parecer que iriam quebrar-se. Então, tudo voltou ao normal, como se toda a floresta tivesse respirado. Tudo se agitou e então foi possível ver o céu e a chuva começou a cair.