Imagem ilustrativa da imagem Frente Feminista pede 'Justiça por Néia'
| Foto: Viviani Costa - Grupo Folha

Integrantes da Frente Feminista de Londrina, parentes e amigos de Cidnéia Aparecida Mariano protestam em frente ao Tribunal do Júri em Londrina para pedir 'Justiça por Néia'.

Néia, como é chamada pela família, foi agredida, asfixiada e abandonada em uma estrada rural na zona norte de Londrina. O crime ocorreu em abril de 2019 e o ex-companheiro Emerson Henrique de Souza é acusado de tentativa de feminicídio.

A vítima, mãe de quatro filhos, trabalhava como auxiliar de cozinha e tentou terminar o relacionamento. Hoje, aos 34 anos, está tetraplégica e respira com dificuldades.

O júri popular começou por volta das 9h30. Faixas em protesto foram fixadas em um estabelecimento comercial ao lado da entrada do Fórum Criminal, na avenida Tiradentes, região oeste de Londrina. A vigília silenciosa vai se estender até o término do júri.

“A gente sabe que o caso da Néia é um entre tantos casos de tentativa de feminicídio. A nossa luta pelo fim da violência contra as mulheres é histórica. Quando uma mulher é atingida de forma tão violenta, machuca a todas nós. Esse julgamento é muito importante para a gente porque a vida da Néia realmente acabou. Ela está impossibilitada de continuar a vida de forma autônoma e independente. Ela é a representação do que acontece com milhares de mulheres todos os anos pelo Brasil”, destacou a integrante da Frente Feminista de Londrina, Meire Moreno.

A vítima foi encontrada em uma estrada rural por uma pessoa que passava pelo local e acionou o Samu. O ex-companheiro da Néia foi preso três semanas depois. “Quero justiça. Eu sei que ela não vai voltar a ser a mesma, mas eu quero pelo menos a Justiça”, disse Clotilde Mariano, mãe da vítima.

“O dolo é evidente e nós temos que começar a dar resposta para esse espectro machista que diferencia gênero, subjuga a condição da mulher e isso é fruto de uma cultura que mostra a mulher como posse como propriedade e se o poder judiciário, o tribunal do júri não der uma resposta a altura, a sociedade começa a esgarçar o próprio tecido e nós caminhamos por onde nós nem deveríamos ter começado a caminhar. Vamos ser justos, vamos ser equilibrados, mas nós vamos pelear a condenação porque ninguém abandona uma pessoa à própria sorte em uma estrada rural e vai dizer depois que não teve intenção de matar. Nós vamos lutar até o final por Néia. Ela vale isso”, reforçou o advogado João dos Santos Gomes Filho, que atua como assistente de acusação.

A defesa de Emerson Henrique de Souza alega que o réu deve cumprir pena por lesão corporal gravíssima e não tentativa de feminicídio. “Esperamos que ele seja condenado por aquilo que de fato ele fez, na medida da culpabilidade dele, dos fatos praticados por ele. A gente acredita na imparcialidade dos jurados e que será feita a justiça não só pelo clamor social. A manifestação é lícita, mas esperamos que os jurados não se corrompam tão somente por isso”, afirmou a advogada do réu, Nayara Andrade Vieira.

Emerson Henrique de Souza foi preso três semanas após o crime e permanece preso na unidade 2 da PEL (Penitenciária Estadual de Londrina). Ele já foi condenado anteriormente por homicídio.

JULGAMENTO

A sessão de julgamento começou por volta das 9h30 com a apresentação dos representantes da acusação e da defesa e o sorteio eletrônico dos nomes para a composição do júri. Entre as sete pessoas sorteadas estão cinco mulheres e dois homens.

Funcionários do Samu foram os primeiros a serem chamados como testemunhas de acusação. Os dois relataram como a vítima foi encontrada pela equipe na manhã do dia 8 de abril. A jovem apresentava sinais de danos neurológicos, fala desconexa e marcas ao redor do pescoço. Os socorristas foram chamados por pessoas que passaram pela estrada rural onde Cidnéia estava.

O filho mais velho da vítima, a proprietária de um restaurante em que ela trabalhava e três irmãs de Cidnéia também foram ouvidos durante a manhã. Em comum, relatos de agressão e de insatisfação da vítima com o relacionamento. “Ela só mexe a cabeça e os olhos”, resumiu o filho sobre a atual condição da mãe.

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