Frank Ogata recebe a condecoração Mérito "Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro e Prata"
Frank Ogata recebe a condecoração Mérito "Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro e Prata" | Foto: Saulo Ohara



O médico obstetra e ginecologista Frank Ogata recebeu, no sábado (10), em Londrina, a condecoração Mérito "Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro e Prata", do Governo do Japão. Segundo o próprio consulado, trata-se de uma condecoração imperial, do nível máximo daquele País.

O cônsul-geral do Japão para os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Hajime Kimura, disse estar muito feliz por entregar essa condecoração, principalmente no ano da comemoração dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil. Ele relembrou que há 40 anos, durante as comemorações dos 70 anos da imigração japonesa, Ogata estava na equipe de 20 médicos e 30 enfermeiras que atendeu 100 pessoas que passaram mal durante a visita do então príncipe herdeiro do trono, Akihito, atual imperador do Japão, e a então princesa Michiko, atual imperatriz.

Além disso, no período de 1993 a 2006 (leia texto nesta página), Ogata liderou uma caravana de profissionais de saúde que realizou exames preventivos voluntariamente em diversos municípios, durante os fins de semana, atendendo mais de 440 mil pessoas. Muitas delas, graças ao diagnóstico precoce, puderam ser curadas de câncer.

A condecoração ao médico também está relacionada à contribuição dele para a preservação da cultura japonesa, recitando minyô (música tradicional japonesa) e o namida bushi, gênero que conta histórias cantando, difícil de ser encontrado mesmo no Japão.

Formado em medicina no Rio de Janeiro, Ogata chegou a Londrina em 1962. "Com o nascimento de filhos pensei na educação deles e mudei para cá", contou. "Na época eu já conhecia bem a cidade. Não tive dificuldades de adaptação. Comecei trabalhando em três hospitais: no Evangélico, na Santa Casa e tinha outro na rua Belo Horizonte, que não lembro o nome (Casa de Saúde Santa Cecília, na rua Belo Horizonte, que posteriormente viria a ser o Hospital Santa Cruz, fundada pelo médico Justiniano Clímaco da Silva e pelo médico Ângelo Decânio)", destacou.

Realizou mais de três mil partos. Questionado se recordava do nome de alguma pessoa famosa que teria nascido por sua mãos, ele diz que não se recorda do nome de nenhum deles, porque foram muitas crianças. "Como ginecologista que escolheu esse ramo (da medicina)como profissão a emoção é grande. Só de ver o sorriso das mães já valia a pena", enalteceu.

Questionado sobre qual a maior realização de sua vida, Ogata respondeu que foi ter se formado em medicina. "Era uma profissão que queria desde criança. É um sonho que foi realizado", enalteceu. Questionado sobre o papel da família em sua vida, ele reforçou que sem a família não daria para trabalhar e ter quatro filhos que se formaram e se destacaram em suas profissões. "É recompensador. Tenho dos filhos médicos, uma fisioterapeuta e uma educadora física. Eu me sinto satisfeito e orgulhoso de poder acompanhar a profissão deles", ressaltou.

Atendimento médico voluntário
O médico Frank Ogata conta que em 1973, o economista Miyoshi Egashira, uma das lideranças da colônica nipônica no Norte do Paraná, fazia estágio no Japão e viu o funcionamento do serviço de atendimento médico a idosos. Achou o serviço excelente e, na volta ao Brasil, resolveu junto com o doutor Guenichiro Matsuzaki, implantar o mesmo trabalho.

No início era apenas consulta e orientação em relação à saúde, higiene e alimentação. Em 1993, a convite da professora Shirato com colegas médicos, auxiliares, enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas e laboratorialistas, o atendimento foi iniciado. "Com o decorrer do tempo, a procura por esse serviço aumentou e tivemos que recorrer a colegas especialistas para exames ginecológicos, preventivos de câncer, e gradativamente fomos introduzindo exames de laboratório, eletrocardiograma, endoscopia e ultrassonografia. O ônibus ficou equipado com todos esses aparelhos adquiridos com doação do governo japonês, por intermédio da Jica", contou Frank Ogata. Em novembro de 2006 a Jica suspendeu o repasse de verbas para de despesa de combustível e manutenção do micro-ônibus e o projeto acabou.

Entre os membros da equipe que fizeram parte desse atendimento aos idosos estão Luiz Carlos Miguita, Issamu Onishi , Aírson Akira Morimoto, Helena Morimoto, Ricardo Nakamura, Cacilda Nakamura, Laércio Uemura, Gilberto Sonoda, Sílvio Omori, Pedro Higuchi e Tomoe Ito. "Essa equipe fez o atendimento a idosos durante 13 anos. Agora que estou recebendo essa homenagem, gostaria de repassar essa honraria a esse grupo que nos ajudou bastante. Meu muito obrigado", declarou. (V.O.)

Trabalho na agricultura
A família de Ogata é originária da província de Saga, localizada na parte noroeste da ilha de Kyushu, sul do Japão. Como a maioria dos imigrantes japoneses que veio ao Brasil, chegou por aqui para trabalhar na agricultura. Foi por influência dos pais que Frank Ogata foi encaminhado para estudar medicina.

Ogata nasceu em Paraguaçu Paulista (SP) e logo se mudou para São Paulo. Com a eclosão da guerra, em 1942 a família decidiu se mudar para Presidente Prudente (SP). "Meu pai trabalhava como corretor de câmbio e com a guerra não pôde mais trabalhar com isso", destacou o médico. Logo depois, Ogata voltou a São Paulo para realizar o vestibular, quando ficou sabendo de um novo exame para um curso de medicina no Rio de Janeiro. "Me inscrevi, passei lá e resolvi fazer o curso", relembrou. Logo depois de formado, soube que estavam precisando de um médico em Uraí (Norte do Paraná), onde boa parte da população era de origem japonesa. "A vaga era para ficar por seis meses e acabei ficando por cinco anos", destacou. (V.O.)