Paris, 02 (AE) - A França está adaptando rapidamente sua política fiscal e social à dos demais governos sociais-democratas europeus, não só em matéria fiscal, mas também social, tornando-a bem mais liberal. Os textos aprovados há uma semana em Lisboa, durante a reunião de cúpula da União Européia, mais próximos das políticas aplicadas pelo inglês Tony Blair e o alemão Gehrard Schroder, deverão servir de referência também para o francês Lionel Jospin, depois da nomeação de Laurent Fabius para o Ministério da Economia. Esse realinhamento poderá provocar reações de mal-estar junto aos verdes, comunistas e à ala esquerda do PS que integram a maioria pluralista na França, mas essas áreas partidárias saíram também reforçadas com mais um representante no governo, mas sem o mesmo peso específico de Fabius.
Apenas três dias depois de sua investidura como número dois do governo francês, Laurent Fabius deixou claras suas intenções já nas suas primeiras declarações, disposto a acentuar o movimento nessa direção e prometendo ir mais além do que seu antecessor nas promessas de redução da carga tributária, dos impostos diretos sobre pessoas físicas e empresas, inclusive das faixas mais elevadas do imposto sobre a renda, na França alcançando 54%. Ele defende também uma abertura maior para o estabelecimento de sistemas de fundos de pensão e mesmo de "stock options", nesse caso, desde que o sistema possa beneficiar outras faixas e não só os altos dirigentes empresariais. Recém nomeado, o novo ministro de Economia reafirmou, sem hesitar, suas posições anteriores: "Não é porque mudei de função que vou mudar de opinião".
Nesse fim de semana, o novo ministro confirmou que a queda dos impostos na França até 2002 será da ordem de 170 bilhões de francos (28 bilhões de dólares). O primeiro-ministro Jospin havia prometido reduzir a carga tributária obrigatória, atualmente de 45,6% do PIB para os níveis de 1995, 43,7%, mas Fabius promete ir um pouco além disso. Ele pretende também que essa redução de impostos beneficie o conjunto da sociedade francesa e não apenas as classes mais desfavorecidas como o governo socialista chegou a anunciar numa primeira etapa. Dessa forma, a redução do imposto sobre a renda deverá atingir também as classes média e alta e as empresas, pois através delas se poderá caminhar para o pleno emprego, objetivo prioritário do governo.
Os altos impostos na França estão preocupando o governo, que constata um forte movimento de transferência de seus residentes fiscais para países vizinhos. Nesses últimos tempos, 2.500 franceses mudaram da França para a Inglaterra para fugir das garras do leão, cujo apetite é bem menor do outro lado do Canal da Mancha. Até a atriz do filme Asterix, a modelo Laetita Casta, cujo busto será introduzido em todas as prefeituras do país como "Marianne", um dos símbolos da França, optou por Londres para escapar do fisco, onde as condições são mais favoráveis. Antes dela, os bustos de Brigitte Bardot e Catherine Deneuve já haviam sido utilizados como modelo. Nesse fim de semana, a atriz foi primeira pagina do Times de Londres, que não perdeu a ocasião para explorar o tema, lembrando, para vergonha dos franceses, que até a "Marianne" francesa abandonou Paris optando por viver em Londres.
Dias difíceis para os franceses que assistiram também o HSBC britânico anunciar o controle de 58,3% do capital do CCF, Credit Commercial de France, o banco de maior rentabilidade da França.
O objetivo de Fabius é estancar esse movimento, procurando inverter a tendência e recuperar esses e outros residentes franceses que deixaram o país fortemente penalizados por fortes taxas e impostos. O número de executivos franceses que buscam se estabelecer em outras bases na Europa e nos EUA não cessa de crescer. Isso porque os sistemas de "stock options" e de fundos de pensão até agora não são bem vistos pelo governo, citando-se como exemplo, o caso do antigo presidente do grupo Elf, Jerome Jaffré, que se transformou num escândalo, pois ao deixar a presidência da empresa de petróleo, adquirida pelo seu concorrente TotalFina, recebeu mais de 240 milhões de francos, valor de suas "stock options" acumuladas.
Essa situação poderá evoluir nos próximos meses. Fabius considera que o sistema de "stock options" na França, reclamado pelos adeptos da nova economia, deve ser estudado e reformado para torná-lo mais transparente e estendê-lo além dos dirigentes e executivos empresariais. Ele pensa o mesmo sobre a possibilidade de abertura da economia para o sistema de fundos de pensão que prefere chamar de fundos de parceria de aposentadoria, aberto a todos, desde que 50% da receita seja aplicada em ações francesas, talvez introduzido como complemento de aposentadoria.