Forças rebeldes deixam Grozny em massa depois de duros combates
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terça-feira, 01 de fevereiro de 2000
Por Lyoma Turpalov
ALKHAN-YURT, Rússia, 01 (AE-AP) - Cerca de 2.000 combatentes chechenos romperam o cerco russo a Grozny e estavam hoje (01) tentando alcançar bastiões rebeldes, enquanto forças federais tentavam evitar com tanques e artilharia que eles escapassem.
Outros rebeldes permaneceram na destroçada capital chechena a fim de continuar com a dura resistência que têm oferecido por meses aos ataques aéreos e de artilharia e a uma ofensiva russa de cinco semanas para tomar o centro da cidade. Pelo menos dois proeminentes comandantes rebeldes ficaram em Grozny com suas forças, disseram rebeldes.
Um grande grupo de rebeldes caiu segunda-feira num campo minado nos arredores de Grozny, e vários destacados comandantes chechenos foram mortos ou seriamente feridos, afirmaram testemunhas. A artilharia russa abriu então fogo contra o campo, matando e ferindo muitos outros combatentes, relataram.
O notório comandante de campo checheno Shamil Basayev teria perdido uma ou as duas pernas quando seu carro foi explodido ao passar por uma mina durante a fuga de Grozny, informaram rebeldes, e seu paradeiro é desconhecido.
Entre os comandantes chechenos que teriam sido mortos estão Aslanbek Ismailov, que tinha chefiado a defesa de Grozny, Khunkar- Pasha Israpilov, e o prefeito da cidade Lecha Dudayev.
Comandantes russos negaram a fuga dos rebeldes, aparentemente temendo que haviam fracassado em seu maior objetivo: cercar os rebeldes dentro da capital chechena e eliminá-los. Os rebeldes que escaparam de Grozny estariam tentando unir-se a milhares de camaradas no sul a fim de manter a luta.
Tentando rechaçar as notícas sobre a fuga, o ministro da Defesa russo, Igor Sergeyev, insistiu hoje que forças federais estavam bloqueando com sucesso rebeldes que tentavam sair de Grozny.
"Ninguém irá jamais permitir que os rebeldes deixem a cidade, a não ser sob uma bandeira branca e depois de deporem as armas", disse.
Os rebeldes não anunciaram que haviam desistido da luta pela capital. A estratégia deles em Grozny era infligir o maior número de perdas possíveis entre os russos, mas também evitar sofrerem fortes baixas que comprometeriam a capacidade deles de continuar a guerra.
Mesmo que eles tenha abandonado Grozny, ou estejam se preparando para tal, a guerra está longe de terminar. Na última Guerra da Chechênia, os rebeldes perderam Grozny em 1995, mas continuaram lutando até retomar a cidade em 1996.
O êxodo dos combatentes começou segunda-feira, com grupos rebeldes rompendo o cerco no extremo ocidental da cidade, ao longo de uma linha férrea. Os rebeldes continuaram a escapar durante a madrugada, disseram comandantes rebeldes e moradores de vilas próximas.
Não houve sinal de que qualquer dos estimados 15 mil a 40 mil civis retidos em Grozny tenha escapado com os rebeldes.
Comandantes russos insistiram que impediram tentativas dos rebeldes de romper o cerco de Grozny. Um porta-voz militar russo confirmou que alguns rebeldes haviam sido pegos no campo minado quando tentavam alcançar Alkhan-Kala, uma vila nos arredores ocidentais da capital.
"Um desses grupos atingiu o campo minado, o outro foi destruído por nosso fogo de artilharia", afirmou o coronel Alexander Veklich.
Várias dezenas de chechenos feridos que conseguiram chegar a Alkhan-Kala estavam espalhados sobre a neve ao redor da pequena clínica da vila porque não existia espaço para eles no interior, disseram moradores.
"Combatentes feridos estão praticamente empilhados dentro do hospital, e tivemos de colocar dezenas de outros sobre a neve do lado de fora", afirmou Baiant Munayeva, que ajudou a cuidar dos feridos.
"Existe apenas um médico, e não temos medicamentos, seringas, nada", disse Munayeva, visivelmente abalado. "Dezenas tiveram suas pernas destroçadas, e eles estão deitados lá cobertos de sangue".
Comandantes rebeldes reuniram-se em Alkhan-Kala para planejar suas próximas ações e discutir uma possível negociação com as forças russas sobre um corredor de fuga.
Um combatente que participou da reunião afirmou que não foi considerado armar defesas em Alkhan-Kala para resistir às forças russas. Tropas da Rússia cercaram e bombardearam a vila hoje, e escaramuças foram registradas entre forças federais e combatentes chechenos em seus arredores.
Os russos vêm lutando desde outubro para capturar Grozny. Na segunda-feira, comandantes russos haviam anunciado a tomada de uma praça estratégica que dá passagem para o centro da cidade depois de duas semanas de combate.
Moscou enviou tropas para a Chechênia em setembro depois que militantes islâmicos baseados em território checheno invadiram a república vizinha russa do Daguestão em agosto, e de uma série de atentados a bomba contra prédios em cidades da Rússia que deixou centenas de mortos. O governo russo culpou os rebeldes pelos atentados.