"Como você vai passar boa parte da vida trabalhando, tem que fazer o que gosta", diz Vinícius Cunha, que ainda não se decidiu por qual carreira seguir
"Como você vai passar boa parte da vida trabalhando, tem que fazer o que gosta", diz Vinícius Cunha, que ainda não se decidiu por qual carreira seguir | Foto: Anderson Coelho
Imagem ilustrativa da imagem Fora das salas de aula



O Brasil está no topo do ranking em relação ao número de jovens entre 20 e 24 anos que não estão estudando: 75%. O porcentual é apontado na versão mais recente do relatório "Education at a Glance", da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), que traz um estudo comparativo sobre índices educacionais entre 41 países. Embora seja um dado preocupante, a pesquisa mostra que mais da metade desses jovens estão trabalhando, 50% já concluíram o ensino médio e 7% o superior.
Quando se analisa uma faixa maior de idade, entre 15 e 29 anos, o relatório conclui que 20% dos brasileiros fazem parte da chamada "geração nem-nem", expressão que designa aqueles que não trabalham, nem estudam. O índice é maior que a média registrada pela OCDE em 2014, que ficou em 15%. A pesquisa ainda diz que, no Brasil, a taxa de desemprego foi de menos de 6% em todos os níveis de escolarização, enquanto na OCDE essa porcentagem varia entre 4,9% (para os que têm ensino superior) e 12,4% (para os que não terminaram o ensino médio).
São vários os motivos que levam os jovens entre 20 e 24 anos a não estarem estudando no momento. Vão desde a dificuldade de conciliar trabalho e estudos até a busca de um curso que agrade mais entre as mais promissoras, já que a carreira dos sonhos "não dá futuro".
O porteiro Paulo Gonçalves, de 24 anos, cursava Educação Física quando sua namorada engravidou. Como a renda era mais importante naquele momento, resolveu largar a faculdade e dar prioridade ao trabalho. De início, o emprego não tinha um horário fixo, dificultando ainda mais os estudos. "No começo eu levava a faculdade do jeito que dava. Consegui ir contornando os horários, mas chegou em um ponto que não deu mais. Passava a noite acordado no domingo e tinha que ir para a aula na segunda de manhã." Com o tempo, Gonçalves também viu que Educação Física não era bem o curso que ele queria. No ano que vem, quando a esposa voltar a trabalhar e a situação financeira melhorar, o porteiro diz que quer voltar a estudar, mas dessa vez Engenharia Mecânica.
Um emprego é o que vai determinar a continuidade dos estudos de Letícia Costanzi, de 21, formada em um curso tecnólogo de Gastronomia. Atualmente, ela busca uma vaga na área de formação, mas ainda não teve retorno. O objetivo, no ano que vem, é fazer uma pós-graduação na área, mas se não conseguir emprego até lá, o sonho não poderá ser realizado. "Para pagar as mensalidades, eu precisaria estar empregada."
Já o fato de a sua profissão dos sonhos não dar o retorno financeiro desejado é o que levou Vinícius Henrique da Silva Cunha, de 22, a tentar outros cursos, mas não se encaixar em nenhum deles até agora. "Gostaria muito de ser músico profissional", conta. Mas, o mercado - na sua opinião desfavorável - acaba levando-o sempre a buscar outras carreiras.
Sua primeira tentativa foi Ciências Sociais, curso que estudou por um semestre. "Vi o rumo que o curso ia tomar e perdi o interesse." Segundo conta, o curso era mais voltado à educação, área pela qual não tem interesse. "Não tenho o interesse de ser professor." A segunda tentativa foi Geografia, e o motivo para a desistência foi o mesmo. "O mercado de trabalho é o que me preocupa. Mas também tive dificuldades com a área de exatas do curso." Esse ano, Cunha deve tentar Direito, mas se a escolha não lhe agradar, ele diz que também não irá hesitar em fazer uma nova tentativa. "Como você vai passar boa parte da vida trabalhando, tem que fazer o que gosta."(Com Agência Estado)