Rio - A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) ultrapassou o Instituto Butantan como maior fornecedor de vacinas contra a Covid-19 no Brasil com a entrega desta segunda (31). São 47,6 milhões de doses disponibilizadas pela fundação, ante 47,2 milhões já enviadas pela instituição paulista.

Até esta segunda, foram vacinados com a primeira dose 45 milhões de brasileiros, o equivalente a 28% da população adulta
Até esta segunda, foram vacinados com a primeira dose 45 milhões de brasileiros, o equivalente a 28% da população adulta | Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Ambos os laboratórios chegaram a paralisar recentemente suas linhas de produção, mas elas foram retomadas na semana passada depois que remessas de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) vieram da China - esse material ainda passará por várias etapas antes de ser enviado ao Ministério da Saúde.

O Butantan não fornece doses da Coronavac ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) desde 14 de maio, quando transferiu 1 milhão de unidades. O governo João Doria (PSDB) atribuiu a interrupção ao atraso na liberação da matéria-prima, por um suposto entrave diplomático do governo federal.

Já a Fiocruz parou por cinco dias, afirmando que houve uma aceleração nos envases nas semanas anteriores e por isso o IFA foi consumido antes do previsto. Não teve, porém, que suspender as entregas, feitas sempre às sextas-feiras, já que possuía doses na etapa de controle de qualidade.

Com as 5,9 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca/Oxford disponibilizadas na última sexta (28) e mais 600 mil entregues nesta segunda, a fundação passa a marca do Butantan. Considerando o que já foi aplicado na população, porém, a Coronavac ainda é maioria: 63%, contra 35% da AstraZeneca e 2% da Pfizer.

A Fiocruz agora garante as remessas semanais até o dia 3 de julho. O instituto paulista, por sua vez, só deve entregar seus próximos lotes daqui a cerca de 15 dias, quando for concluído o processamento do insumo recém-chegado, suficiente para 5 milhões de unidades.

"A matéria-prima, enviada pela biofarmacêutica Sinovac, parceira do Butantan, passará pelos processos de envase, rotulagem, embalagem e por um rígido controle de qualidade para que a vacina seja entregue ao PNI", diz a instituição, cuja fabricação permitiu o início da imunização contra a Covid-19 no país, em janeiro.

O instituto afirma que já cumpriu o primeiro contrato firmado com o Ministério da Saúde, de 46 milhões de doses, e agora trabalha para totalizar os 100 milhões acordados. Em dezembro, pretende começar a produção com o insumo próprio em uma nova fábrica.

Já a Fiocruz tem como meta enviar 112 milhões de doses até o fim do terceiro trimestre, incluindo as importadas, antes de iniciar a fabricação própria, de mais 110 milhões de unidades, até o fim do ano.

A fundação vem dizendo nas últimas semanas que o atraso na chegada do IFA não teve impacto no seu cronograma, mas a previsão mais recente do Ministério da Saúde mostra uma redução da quantidade do imunizante esperada para junho - de 34,2 milhões para 20,9 milhões de doses.

O secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz, disse na quarta (26) em audiência na Câmara dos Deputados que o encolhimento ocorreu devido à falta do insumo. "Quando tivemos confirmação de que não seria possível a produção, reduzimos nosso cronograma", declarou ele, segundo quem o ministério busca antecipar lotes de IFA para reverter a queda.

A Fiocruz diz aguardar essa possibilidade para informar sobre as próximas entregas. "Com a capacidade de produção que a instituição já atingiu, caso a próxima remessa chegue ainda no início de junho, será possível aumentar as entregas do mês", informou em nota.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também atribuiu o problema à dificuldade de obter matérias-primas e vacinas a "nível mundial". "Não é falta de dinheiro, é dificuldade com os insumos", disse na ocasião. "A própria iniciativa privada viu que não é simples adquirir vacinas no exterior", afirmou.

Imagem ilustrativa da imagem Fiocruz ultrapassa Butantan como maior fornecedora de vacinas contra Covid
| Foto: Folha Arte

Com esse e outros ajustes, a pasta reduziu a previsão total de vacinas para junho em 16%. De 52,2 milhões de doses, o quantitativo passou para 43,8 milhões. Até esta segunda, foram vacinados com a primeira dose 45 milhões de brasileiros, o equivalente a 28% da população adulta.