Filho extraconjungal de Menem quer ser reconhecido
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sábado, 19 de fevereiro de 2000
Por Ariel Palácio, Especial para a AE
Buenos Aires, 20 (AE) - "Estou esperando saber quem sou. Quero que meu pai me dê o sobrenome. Quero ter o sobrenome Menem. É natural, é por direito". O autor desta declaração é um jovem de 18 anos, cujo nascimento foi fruto de uma relação do ex-presidente Carlos Menem com a deputada Martha Meza.
O rapaz, Carlos Nair Meza, quer seguir o caminho do pai que nunca o reconheceu oficialmente: diz que possui ambições políticas, adora carros velozes, e sabe apreciar as mulheres bonitas. As declarações de Carlos Nair, as primeiras feitas por ele à imprensa, foram publicadas neste fim de semana pela revista "Notícias", a mesma que em 1995 descobriu e divulgou as fotos do filho extraconjugal do então presidente.
Carlos Nair estuda direito, e diz que não quer ser sustentado pelo pai. O rapaz garante que não pretende ser presidente, "porque não teria tempo para nada", mas afirma que tem a intenção de ser governador da província de Formosa, onde nasceu. Para chegar lá, afirma que espera os conselhos de seu pai. Peronista, como Menem, o jovem explica que pelo menos já recebeu o primeiro dos conselhos paternos: "acima de tudo, nunca perca a honestidade".
O filho de Menem exalta obras do pai, como a paridade dólar-peso, e projetos como o da dolarização da economia. Carlos Nair também orgulha-se de ter o mesmo gosto pelas mulheres que seu pai, famoso pelas suas conquistas. "Com razão também me chamam de Turco", diz.
Sobre os escândalos de corrupção que abalaram o governo, encontra uma desculpa: "meu pai não podia estar controlando tudo".
Menem não o reconheceu publicamente, embora desde seu nascimento o tenha visto com uma frequência de três vezes por ano. Olga Wornat, biógrafa não-autorizada do ex-presidente, afirmou à AE que o obstáculo para o reconhecimento de Carlos Nair é a filha de Menem, Zulemita, que em diversas ocasiões teria ameçado suicidar-se caso seu pai recebesse o filho ilegítimo. A ex-esposa de Menem, Zulema Yoma, evita falar sobre o caso.
O nascimento de Carlos Nair foi possível graças à Ditadura Militar argentina (1976-83): no momento do golpe, Carlos Menem era governador da província de La Rioja. Como quase todos os governadores peronistas da época, Menem foi detido e colocado em uma prisão militar.
Posteriormente, o regime foi suavizando as detenções e, em 1980, Menem foi "exilado" na casa do delegado de Las Lomitas, um isolado povoado na província de Formosa.
Ali, o pitoresco governador deposto, que ostentava imensas suíças, causava graça dizendo a todos que seria presidente um dia. Um de seus ouvintes era o o ex-prefeito peronista de Las Lomitas. Menem ia visitá-lo todas as tardes. Mas o principal interesse de Menem era a filha do ex-prefeito, Marta, que logo ficou grávida dele. O caso amoroso não teve futuro: em uma visita a seu marido detido, Zulema Yoma suspeitou de que havia algo mais do que amizade entre os dois, e ameçou com o divórcio. Menem afastou-se de Meza, e pouco depois os militares permitiram sua volta à Buenos Aires.
Em 1983, Menem tornou-se mais uma vez governador de La Rioja, e em 1989, presidente do país. Martha Meza também entrou na carreira política, no partido peronista, o mesmo de seu ex-amante, e tornou- se deputada federal.
Precavido, e com tato político, Carlos Nair não pretende ocupar o lugar de seu falecido meio-irmão, Carlos Menem Jr. O filho extraconjugal de Menem sustenta que Carlos Jr. é "insubstituível".
Mas em breve, Carlos Nair poderá ter algum lugar na família Menem: se for aprovado um projeto no Congresso, todos os supostos filhos de pais que não aceitarem a realização de um exame de DNA, automaticamente serão legitimizados.