Fidel compara os danos do capitalismo aos do Holocausto nazista
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terça-feira, 11 de abril de 2000
Havana, 12 (AE-AP) - O presidente cubano Fidel Castro abriu hoje (12) em Havana a reunião de cúpula das nações mais pobres do mundo com um severo ataque ao capitalismo mundial, acusando o sistema de causar sofrimentos comparáveis aos do Holocausto nazista.
Vestindo terno, em lugar de seu habitual uniforme militar, Fidel denunciou os males do capitalismo diante de pelo menos 40 chefes de Estado ou de governo na reunião do Grupo dos 77 e pediu a eliminação do Fundo Monetário Internacional (FMI), acusando a organização financeira como responsável pela expansão da pobreza no mundo.
"As imagens que vemos de mães e crianças, por toda a áfrica, abatidas pela seca e outras catástrofes nos lembram as dos campos de concentração nazistas", disse Fidel.
Referindo-se aos julgamentos de crimes de guerra após a Segunda Guerra mundial, o líder cubano disse ser necessário "um (tribunal de) Nuremberg para julgar a ordem econômica que nos foi imposta e graças à qual, a cada três anos, morre um número maior de homens, mulheres e crianças morrem de fome e de doenças evitáveis do que o número de mortos na Segunda Guerra".
As críticas do anfitrião da cúpula à desigualdade foram compartilhadas por outros líderes de países presentes ao encontro. Mas as soluções propostas pelo Grupo dos 77 serão menos radicais do que as apresentadas pelo líder cubano que também sugeriu a criação de um imposto de 1% sobre todas as transações financeiras para financiar um fundo global de desenvolvimento.
Entre as propostas consensuais, destacam-se o pedido para que a dívida dos países mais pobres seja perdoada, e que os países do Grupo 77 à época em que foi fundado (1964), hoje 133 tenham maior participação nos programas de desenvolvimento tecnológico e sejam mais ouvidos sobre a destinação dos fundos de desenvolvimento.
Eles também pediram que sejam transferidas para a ONU algumas das decisões tomadas em organizações controladas pelos países ricos, como o Banco Mundial e o FMI.
O secretário-geral da ONU Kofi Annan, presente ao encontro, também pediu o perdão da dívida e maiores investimentos nos países pobres. Ele disse que os países em desenvolvimento devem trabalhar juntos para incrementar o comércio e a cooperação recíprocos.
"Creio que os governos devem trabalhar juntos para tornar possíveis estas mudanças", acrescentou Annan, "mas os governos não podem trabalhar sozinhos". Para obter resultados nessa tarefa, o secretário-geral propôs "a participação e a força dos investimentos privados", bem como das organizações acadêmicas e das não-governamentais.
O presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, que preside o encontro, pediu aos países ricos que demonstrem "não só com palavras, e sim com atos" seu compromisso de maior parceria com os países do Hemisfério Sul. E um representante da ásia, o primeiro-ministro Mahatir Mohammad, da Malásia, chamou a atenção sobre a necessidade de maior controle global sobre os "operadores de câmbio mal intencionados", que fizeram seu país e o Sudeste Asiático mergulhar numa crise financeira ao derrubar o valor de suas moedas.
Mahatir lembrou que milhões de pessoas ficaram sem trabalho e ao desamparo, e que as instituições financeiras internacionais "deram apoio ostensivo à região oferecendo empréstimos, mas na verdade facilitando seu domínio econômico e até político sobre esses países."