FHC reabre diálogo com oposição
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quinta-feira, 03 de fevereiro de 2000
Por Gerson Camarotti
Brasília, 03 (AE) - O presidente Fernando Henrique Cardoso reabriu, na noite de ontem (02), o diálogo com a oposição, depois de uma tentativa fracassada de aproximação, feita após a eleição de 1998.
Durante um demorado jantar no Palácio da Alvorada com os senadores Roberto Freire (PE) e Paulo Hartung (ES), presidente e líder do PPS, respectivamente, além do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, Fernando Henrique demonstrou o desejo de estabelecer uma relação mais próxima com a oposição. Ainda há grupos dentro do PSDB que discordam da proximidade do governo com o PFL.
Classificado pelos participantes do jantar como um "encontro acadêmico", o principal assunto da noite foi a visão "equivocada" da maior parte da esquerda brasileira em relação aos novos temas mundiais. "Aqui, a esquerda confunde-se com o deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ), que prega o fuzilamento", atacou Freire. Foi consensual no jantar a necessidade de adotar no País o novo conceito da esquerda na Europa, favorável aos processos de integração e globalização. "Esse é o momento de abrir o grande debate com a esquerda brasileira", disse Fernando Henrique. "É preciso atualizar a nossa esquerda", reforçou Hartung.
O presidente também recebeu apoio dos dois políticos para a aprovação da emenda da Desvinculação das Receitas da União (DRU) no Senado. "Enquanto o ajuste fiscal não for concluído, é preciso existir um mecanismo como a DRU", ressaltou Freire. "Como esse ajuste não será feito nos próximos dois anos, também iremos utilizar esse tipo de mecanismo quando Ciro Gomes (ex-ministro da Fazenda) assumir o poder", afirmou.
Apesar do clima descontraído, em nenhum momento a sucessão de 2002 foi assunto da reunião. Ciro Gomes não foi comunicado sobre o encontro no Alvorada. "O bom do PPS é que não precisa reunir o partido para conversar com ninguém", disse Freire. Também não houve convite do presidente para que o PPS participe do governo. "Fernando Henrique tem sensibilidade suficiente para não fazer esse tipo de convite", explicou o senador pernambucano. "Isso traria um grande constrangimento ao PPS."
De forma humorada, Freire cobrou do presidente a movimentação tucana para evitar a filiação do senador Artur da Távola (sem partido-RJ) ao PPS. Mas Fernando Henrique negou que iria o nomear ministro da Cultura. "Não tem nada disso e nem fiz nenhum convite para ele", garantiu o presidente. Mas, em relação à aliança eleitoral, não foi descartada um futuro acordo entre os pós-comunistas e os tucanos.
"Para nós, o centro democrático está bem representado pelo PSDB e o PMDB", elogiou Freire. Na semana passada, os tucanos cearenses Tasso Jereissati, governador, e Lúcio Alcântara, senador, sugeriram publicamente o apoio à candidatura de Ciro Gomes em 2002.
Por fim, os quatro políticos lembraram do passado comum de todos eles. "Em algum momento de nossas vidas, tivemos passagem pelo PCB", ressaltou Ferreira. "Esse é um encontro de um velho comunista com três antigos militantes do PCB", reforçou Freire. Fernando Henrique recordou a atuação intelectual no extinto PCB, durante a década de 50. Há oito anos
o partido mudou de nome, transformando-se em PPS.