FHC descarta proposta do PFL de reajuste do mínimo em janeiro de 2001
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quarta-feira, 29 de março de 2000
Por Tânia Monteiro e Isabel Braga
Brasília, 30 (AE) - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse hoje aos líderes das três principais centrais sindicais brasileiras que vai vetar qualquer iniciativa do Congresso de aprovar um salário mínimo maior do que os R$ 151 fixados pelo governo. Fernando Henrique descartou inclusive a proposta do PFL de elevar o mínimo para R$ 177 em janeiro de 2001. Segundo os sindicalistas, o presidente insistiu que reajustes maiores só com a identificação das fontes de recursos.
Após o encontro de Fernando Henrique com os sindicalistas, o porta-voz do Planalto, Georges Lamazire, afirmou que o presidente acredita que não precisará vetar um possível aumento acima de R$ 151 porque considera que "o Congresso está consciente e sensível em relação à posição do governo". Quanto aos R$ 177, defendidos pelo PFL, o porta-voz salientou que o presidente vê a proposta "como uma busca de um caminho de entendimento, mas considera que a questão está nas mãos dos partidos e do Congresso Nacional".
CONVERSAS - Depois de presidir a cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (Planfor), Fernando Henrique recebeu, por 20 minutos, os presidentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Canindé Pegado, e Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. Os três disseram que o presidente avisou que se alterarem o valor do mínimo no Congresso, vai vetar, "porque não tem fonte de recursos". "O presidente disse que nós temos de tentar convencer o Malan (ministro da Fazenda, Pedro Malan) e o Ornélas (ministro da Previdência, Waldeck Ornélas) a aumentar o valor", disse Vicentinho, irônico. "O presidente é uma pessoa muito envolvente, é como um anestesista, vai conversando e enfiando a faca."
O deputado Luiz Antônio de Medeiros (PFL-SP), um dos defensores do piso de R$ 177, deixou o Planalto pregando o entendimento, mas ameaçando com o rompimento. "O senador Antonio Carlos Magalhães disse que se tiver de sair da aliança por causa dos R$ 151, ele sai", observou ele, acrescentando que "se não tiver acordo, o PFL vai para o rompimento". O deputado insistiu que o partido vai votar contra os R$ 151 e que, apesar de acreditar que o governo ganha na comissão, ele perde no plenário. "Se o governo abrir alguma vereda, tudo ficará mais fácil porque veremos que ele quer negociar."
O líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), por sua vez, considerou "um passo" do PFL a proposta de R$ 177. "O outro passo agora é nosso", declarou, acenando para uma negociação, já que o PFL mostrou que "não é inflexível".
Segundo Virgílio, a prova de que não há disposição do governo em romper com o partido é que o presidente Fernando Henrique telefonou para ACM, na noite de quarta-feira, a fim de lhe agradecer pela aprovação do Refis (programa de Refinanciamento das dívidas das empresas. O deputado contou ainda que o senador disse ao presidente "que o governo tem de ceder ao Congresso e o Congresso ceder ao governo". "Esse é um jogo dialético", observou, acrescentando que o próprio ACM, na conversa, concordou com Fernando Henrique que ambos chegarão a um acordo.