Londrina (PR), 13 (AE) - Diversidade cultural deixou definitivamente de ser mais uma expressão da moda para transformar-se em experiência sensível por todos os que acompanharam os 36 espetáculos do Festival Internacional de Londrina (Filo), encerrado hoje. Com treze dias de duração e tendo como mote "rumo ao festival de todas as artes no ano 2000", o Filo reuniu teatro, dança, clowns, teatro de rua e shows de música, de companhias do Brasil, da França, Polônia, Argentina, Bélgica, Espanha e dos Estados Unidos em espetáculos de surpreendente singularidade, ousadia e radicalidade de propostas.
Na programação havia desde um espetáculo teatral como "The Fragrance of Time", do grupo polonês KTO, realizado para 1.200 pessoas ao ar livre, até "Em Algum Lugar do Passado", do Grupo Caixa de Imagens, limitado a apenas um espectador que assistia em puro encanto a performance de três minutos de um fotógrafo lambe-lambe, um boneco de 4 centímetros manipulado pelo integrantes do grupo.
De um espetáculo de dança como "In Spite of Wishing and Wanting", do belga Wim Vandekeybus, que mesclava cinema, teatro e dança em deslumbrantes coreografias, até a mais pura dança executada com primorosa técnica em "Not Garden", criação do norteamericano Stephen Petronios - ambos coreógrafos de renome internacional que trouxeram ao Filo espetáculos inéditos no Brasil.
Ney Matogrosso, Elza Soares, Lobão, Alcione, e as bandas Mestre Ambrósio, Racionais MCs Karnak e Farofa Carioca apresentaram-se no Cabaré, um espaço teatralizado que funcionava como ponto de encontro após a programação diária e misturava os mais diversos públicos. "Nunca assisti a um show de Elza Soares e nem pensei que fosse ver um dia", comentava uma jovem estudante de artes cênicas na entrada do Cabaré.
Ao tomar ruas e praças, promover debates e oficinas, o Filo envolveu a cidade e, de simples evento, instaurou-se como fato cultural de grande ressonância. O francês Cacahute explorava temas tabus como sexo, morte e a manipulação do corpo imposições sem concessões ao gosto médio e com rara ousadia no teatro de rua.
No terminal de ônibus local, que abriga o "camelódromo" da cidade, pararam literalmente o trânsito numa divertida performance na qual uma família pobre tenta levar o caixão da mãe morta de ônibus para o cemitério. "Nossa sociedade está empurrando a morte para longe dos olhos", argumenta o diretor Pascal Larderet.
Para o festival do ano 2000, os coordenadores investem na no premiado espetáculo de clowns Snowshow, com o russo Slava Polunim e a brasileira ¶ngela de Castro. E ainda "Citá Invisible", com o grupo italiano Potlash, que cria espetáculos únicos, pensados para a cidade onde se instalam e seria criado especialmente para Londrina.