Nova York, 09 (AE) - Fernanda Montenegro, a primeira intérprete latino-americana a concorrer ao Oscar de melhor atriz, soube pela TV, em Nova York, que estava entre as cinco concorrentes ao prêmio. "Fiquei parada feito uma idiota diante da TV", disse a atriz de Central do Brasil, que no dia 21 de março disputa o prêmio com a australiana Cate Blanchett, de Elizabeth, a inglesa Emily Watson, de Hilary e Jackie, e as americanas Gwyneth Paltrow, de Shakespeare Apaixonado, e Meryl Streep, de Um Amor Verdadeiro.
Seu nome foi anunciado precisamente às 8h41 (horário local, 11h41 de Brasília) pelo presidente da Academia de Ciências e Artes cinematográficas, Robert Rehme. O filme de Walter Salles concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro, ao lado de A Vida é Bela, de Roberto Benigni (Itália); Crianças do Paraíso, de Majid Majidi (Irã); El Abuelo, de José Luis Garci (Espanha), e Tango, de Carlos Saura (Argentina).
Fernanda entra para a história do Oscar como a nona intérprete a conquistar uma vaga na categoria de melhor atriz interpretando em outro idioma que não o inglês. "E agora estou aqui, no meio de gente apressada, de uma maquiadora brava e um batalhão de assessores de imprensa me dizendo o que fazer; daqui para a frente estou na mão dos gringos", disse Fernanda antes de correr para a suíte em que seria entrevistada pela CNN e pelo New York Times.
O time que Fernanda passa a integrar é composto por Sophia Loren, a primeira estrangeira a ser indicada para o Oscar e também a única a vencer. A italiana ganhou a estatueta em 1961 por Duas Mulheres, de Vittorio de Sica, e voltou a ser indicada em 1964 por outro filme de De Sica, Casamento à Italiana. Seguiram-se a francesa Anouk Aimée (Um Homem, Uma Mulher, de Claude Lelouch, em 1966); a russa Ida Kaminska (A Pequena Loja da Rua Principal, de Jan Kadar, também em 66); a sueca Liv Ullman (em Os Imigrantes, de Jan Troell, em 72, e Face a Face, de Ingmar Bergman, em 76); a francesa Marie- Christine Barrault (Primo, Prima, de Jean-Charles Tachella, 76).
Ingrid Bergman conquistou uma vaga no Oscar de 78 por Sonata de Outono, de Ingmar Bergman, e as duas últimas atrizes antes de Fernanda a receber uma indicação foram as francesas Isabelle Adjani e Catherine Deneuve, respectivamente por Camille Claudel, de Bruno Nuytten (89), e Indochina, de Régis Wargnier (92). "Este é um momento de glória para Fernanda e o povo brasileiro", disse o produtor Arthur Cohn falando por telefone de Basel, Suíça. "Aos 70 anos, a maior atriz do Brasil passa a ser reconhecida internacionalmente", afirma.
Walter Salles disse que estava extremamente feliz. "Quanto menos a gente espera por uma coisa, maior a supresa", disse. Central do Brasil é a terceira produção brasileira a disputar o Oscar em quatro anos. O Quatrilho, de Fábio Barreto, foi indicado em 1995, e O Que é Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto, no ano passado. O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, foi o primeiro filme brasileiro a concorrer na categoria, em 1962.
"Essa é a maior prova da retomada do cinema brasileiro", diz Walter Salles. "Eu preciso agradecer aos trabalhos de Fábio e Bruno Barreto que vieram pavimentar o caminho de Central do Brasil no mercado americano", continua. "O Quatrilho, O Que é Isso, Companheiro? e Central são filmes que dialogam entre si."