Família suspeita de tráfico de cadáver
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 05 de abril de 2000
Dimitri do Valle
De Curitiba
A família da professora curitibana Beatriz Pierin de Barros e Silva, 30 anos,
vive o drama do desaparecimento do seu corpo. Ela seria a 18ª vítima do acidente com o ônibus da Viação Itapemirim, que foi atingido por um contêiner na BR-116 em Miracatu (SP) na segunda-feira. A falta de informações que possam elucidar o mistério deixa os familiares desconfiados. A suspeita é de que o corpo possa ter sido desviado durante o transporte para o Instituto Médico Legal (IML) de Registro.
Na tarde de ontem, parentes que acompanham as buscas receberam um telefonema de que o corpo de Beatriz tinha sido localizado a 50 metros do local do acidente. Policiais civis de Miracatu e Registro vasculharam as margens da rodovia, mas nenhum vestígio foi encontrado. A ligação foi atendida pelo irmão da professora, o médico João Maximiano de Barros, 29 anos. Um homem que se identificou como Júnior ligou a cobrar para o celular dele e fez a suposta revelação.
O pai de Beatriz, o advogado Nery Belmonte de Barros, 62 anos, acredita que enquanto a filha não for localizada, a suspeita da ação de traficantes de cadáveres não pode ser descartada. Já temos o trauma do desastre, agora ficamos assim, como uma família que teve algum parente sequestrado, desabafou Barros. O advogado recorda que 17 corpos foram enfileirados no asfalto nos trabalhos de resgate. Na chegada ao IML de Registro, a contagem foi outra: 16 cadáveres.
Por meio de fotos e vídeos feitos por policiais, o marido de Beatriz, o empresário Sérgio Augusto Amed e Silva, 31 anos, reconheceu sua mulher desacordada nas ferragens do ônibus. A listagem dos mortos voltou a ter 17 vítimas fatais quando um dos feridos não resistiu no hospital e o corpo foi levado para Registro. O pai da professora põe todos que tiveram acesso ao local do acidente sob suspeita.
Me parece que existe inequivocadamente uma máfia envolvendo policiais, pessoal de funeárias e do IML, afirma Barros. O advogado observa que se o corpo de Beatriz não tivesse sido fotografado, ninguém teria condições de sustentar sua presença no ônibus. Apesar de não descartar as chances de que Beatriz esteja viva, o pai já procurou informações no cemitério Parque Iguaçu sobre os procedimentos a serem adotados num eventual sepultamento. A gente alimenta aquele fio de esperança, mas sabemos que as chances são muito remotas.