O Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica Enezila de Lima, da UEL (Universidade Estadual de Londrina), promove a exposição "Naji: Apartheid na Palestina". A mostra, realizada em parceria com o Departamento de História da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), apresenta os impactos do conflito entre Israel e Palestina por meio dos cartuns políticos do artista Naji al-Ali, considerado um símbolo da resistência palestina.

A exposição é uma produção do Programa de Pós-Graduação em História da UEPG, do Comitê Ponta-grossense de Solidariedade à Palestina e do projeto de extensão “Educação em Direitos Humanos e Ensino de História" coordenado pelo professor Luís Fernando Cerri, do Departamento de História da UEPG, e conta com o apoio do Comitê Árabe-brasileiro de Solidariedade do Paraná.

“O material foi selecionado a partir da obra de Naji, inédita no Brasil, e buscamos charges que pudessem representar alguns temas fundamentais: a destruição física e mental dos palestinos, as situações de discriminação, perseguição, privações e prisões…”, destaca o professor Cerri.

`Reflexão´

Para o professor José Miguel Arias Neto, do Departamento de História da UEL, a ideia da exposição é “chamar atenção para o problema, para o conflito, e se juntar a outros esforços globais, fazendo uma crítica e ao mesmo tempo apontando um caminho pacífico de resolução dessas questões.”

Um dos trabalhos do cartunista palestino Naji al-Ali expostos na UEL
Um dos trabalhos do cartunista palestino Naji al-Ali expostos na UEL | Foto: Luciano Silva

Segundo o site palquest.org, cujo artigo conta a história de vida do artista, foi só quando Naji al-Ali mudou-se para Beirute, no Líbano, em 1974, para trabalhar como caricaturista no diário al-Safir, que seus desenhos começaram a ficar conhecidos em todo o mundo árabe como forma de protesto e denúncia. Tendo recebido diversas premiações e reconhecimento internacional, Naji al-Ali foi assassinado em Londres, em 1987, em um crime ainda não esclarecido.

De acordo com Arias, a finalidade da exposição é causar reflexão sobre uma realidade muitas vezes invisibilizada, provocar incômodo e desconforto com relação à situação no território palestino. “Há um silêncio na mídia ocidental, de modo geral, sobre a situação palestina. E, por outro lado, muitos têm apontado a desproporcionalidade do ataque israelense após o ataque do Hamás”, afirma.

Repercussão

“O cartunista Naji al-Ali faz essa crítica através dos cartuns sobre a situação palestina. Faz uma crítica à política israelense ao longo do tempo e aponta pra essa questão fundamental. Porque no final das contas, a gente está vendo um povo sendo dizimado. E há um silêncio. E quando as pessoas tentam falar alguma coisa há um movimento de repressão bastante grande. E há também uma tentativa de silenciamento da crítica da política israelense”, conclui.

O professor Cerri avalia que “é central no momento atual que a Palestina vive, que nós continuemos falando sobre esse assunto, mantendo-o no horizonte de atenção das pessoas. Entre os moradores de Gaza, hoje, existe uma situação de desespero que é agravada pela avaliação de que o mundo não se importa, que nada efetivo está sendo feito por eles. Por isso, procuramos fazer que todas as ações que se lembram e se posicionam a favor da causa palestina cheguem, pelas redes de amizade e parentesco, aos palestinos que estão em Gaza, na Cisjordânia e no exílio.”

A exposição fica em cartaz no CCH-Cultural de 19 de maio a 23 de junho. Após esse período, segue para a Sala de Exposições do CLCH, onde permanece de 6 a 25 de julho. A organização conta com o apoio do CCH-Cultural, por meio da museóloga Gina Esther Issberner, responsável pela montagem da mostra em Londrina.

Arte como denúncia

O cartunista Naji al-Ali nasceu em 1936 no Norte da Palestina, que vivia sob mandato britânico, em Ash Shajara, uma das aldeias da Galileia, tomadas em 1948, durante a Nakba. Nesse momento, já com 10 anos, ele foi expulso da região com sua família, que passou a viver no Líbano.

No dia 22 de Julho de 1987, aos 51 anos, o então cartunista do jornal kuwaitiano Al-Qabas, foi baleado na cabeça e levado a um hospital em Londres, onde ficou em coma por 37 dias até sua morte, em 29 de agosto. Ele já vinha recebendo ameaças de morte por seu trabalho anos antes do ocorrido. Até hoje o homicídio não foi solucionado.

Nakba, ou catástrofe, é a denominação palestina para a expulsão de seu povo de suas terras após a criação do Estado de Israel. A relação desse evento os trabalhos do cartunista é intrínseca: Naji al-Ali retrata, entre outros personagens, Handala, um menino de 10 anos, a mesma idade que tinha quando ele e sua família foram expulsos de sua aldeia para um campo de refugiados no Líbano. No início dos anos 60, Naji se estabeleceu no Kuwait.

Handala é desenhado como um menino de costas que simboliza a resistência palestina, e Fátima, outra personagem, representa a mulher palestina combativa. Seus trabalhos incluem sátiras a figuras como soldados israelenses confusos diante de crianças que os enfrentam com pedras, além de líderes árabes coniventes, representados nas ilustrações como homens gordos e corruptos. Naji al-Ali usou sua arte para expor a ocupação israelense e o sofrimento de seu povo, com espaço para cartuns sobre a vida nos campos de refugiados e a limpeza étnica.

Homenagens

De acordo com o site palquest.org, que conta com uma biografia do artista, Naji começou a ficar conhecido em 1974, em 79 recebeu o primeiro prêmio na Exposição de Caricaturas Árabes realizada na cidade de Damasco. Recebeu também a homenagem da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias em 1988, com o prêmio “A Caneta Dourada da Liberdade”. O jornal japonês Asahi Shimbun o incluiu na lista dos dez mais importantes cartunistas do mundo. Em Beirute há um centro cultural criado em homenagem póstuma para manter viva a memória do cartunista, o Centro Cultural Naji al-Ali.

SERVIÇO

Exposição "Naji: Apartheid na Palestina"

Local: CCH-Cultural (Réplica da Capela)

Visitação: Até 23/06 (CCH) e de 6 a 25/07 (CLCH) - o espaço fica aberto até as 18h.

A entrada é gratuita

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