EUA: "Eleição será decidida por margem apertada" Correspondente Paulo Sotero
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sábado, 08 de janeiro de 2000
Washington, 7 (AE) - O próximo presidente dos Estados Unidos começa a ser escolhido este mês. Há cerca de uma dúzia de pretendentes ao posto mais poderoso do planeta, contados os candidatos alternativos. O público ainda não se interessou muito pelo assunto. A economia americana está para estabelecer um novo recorde de longevidade de um período de expansão, o país está em paz, não há nenhum problema aparente no horizonte. As convenções dos partidos estão programadas para as primeiras semanas do segundo semestre e as eleições propriamente ditas só acontecerão no dia 7 de novembro.
Mas os quatro concorrentes mais fortes - o vice-presidente Albert Gore e o ex-senador Bill Bradley, do lado democrata, e o governador do Texas, George W. Bush, e o senador de Arizona, John McCain, do lado republicano, já arrecadaram, juntos, mais de US$ 100 milhões em fundos de campanha e gastaram aproximadamente metade do dinheiro. A razão é que os dois contendores poderão emergir nos próximos dois meses, muito antes de os americanos acordarem para o peculiar processo de eleições primárias que usam há décadas para testar e selecionar seus líderes.
Tradicionalmente, ele começava com as primárias de New Hampshire, no início de fevereiro, e se estendiam até as da Califórnia, o mais populoso estado do país, em junho. Nos anos 70, as prévias de Iowa, realizadas uma semana antes de New Hamsphire, costumaram a ganhar importância. A partir daí, mas especialmente depois das crises do Watergate e do Vietnam, a preocupação de republicanos e democratas de produzir candidatos fortes o mais cedo possível combinou-se com o desejo dos estados de aumentar sua influência na escolha e fez com que vários destes antecipassem as datas de suas primárias. A concentração dessas eleições passou a favorecer os candidatos capazes de levantar mais dinheiro para a campanha e assumir o mais cedo possível o controle da máquina eleitoral de seus partido.
Este ano, abriga começa no próximo dia 15, com as prévias da Lousiana, que não tem maior significado, ganha impulso com a disputa em Iowa, no dia 24, e começa para valer uma semana depois, em New Hampshire. Mas tudo poderá estar resolvido menos de cinco semanas mais tarde, no dia 7 de março, quando os eleitores interessados em participar da escolha irão às urnas em nada menos do que treze estados, entre a Califórnia e Nova York. A essa altura, mais de dois terços dos delegados às convenções partidárias estarão eleitos. A rigor, a disputa pode ser resolvida já em New Hampshire. É o que acontecerá se Bush, o favorito disparado entre os republicanos, que folgada dianteira também nas pesquisas nacionais contra Gore ou Bradley, ganhar de forma convincente de McCain, com que está empatado em New Hampshire, no momento.
Depois de ter conseguido quebrar a aura de invencibilidade do governador do Texas, assumindo a liderança nas enquentes eleitorais em New Hampshire com seu estilo franco e sua disposição de criticar os líderes de seu próprio partido, o senador de Arizona tropeçou na semana passada na revelação de que intercedeu recentemente junto a uma agência federal para promover os interesses de um dos benfeitores de sua campanha. O episódio pode machucar McCain porque deixa dúvidas sobre a sinceridade de sua pregação em favor de uma reforma das leis de financiamento das campanhas eleitorais, que denuncia como um instrumento de corrupção do sistema político norte-americano. Bush, que ignorou New Hampshire até ser ultrapassado nas pesquisa pelo senador, mudou-se esta semana para o estado e está gastando vários de seus milhões para chegar em primeiro lugar e liquidar McCain.
É menos plausível que isso se repita entre os democratas. A disputa entre Gore e Bradley em New Hampshire também está empatada. O ex-senador de Nova Jersey está atrás do vice-presidente e herdeiro político de Clinton nas pesquisas nacionais, mas pode se dar ao luxo de perder a primeira eleição primária. "A surpresa dessas primárias poderá acontecer se a briga entre Gore e Bradley não for resolvida logo e continuar depois das primárias de 7 de março, o que é bastante possível se um levar a Califórnia e o outro, Nova York", disse ao Estado Thomas Mann, da Fundação Brookings e um dos mais conceituados estudiosos do processo eleitoral americano.
Mann descarta, porém, a possibilidade sugerida pela vantagem de 20 pontos percentuais que Bush leva sobre Gore na maioria das pesquisas de a contenda deste ano pela Casa Branca virar um passeio para o candidato republicano. "Bush está na frente agora, mas sua vantagem diminuirá e se ilude quem se deixar levar pela impressão de que ele já ganhou", disse ele. "Bush é relativamente inexperiente, já começou a perder altura nas pesquisas e deverá ter problemas para vender aos americanos duas de suas propostas: uma redução dos impostos, que não é um tema prioritário para os eleitores, e a privatização parcial do sistema de seguridade social".
"Esta eleição será decidida por uma margem apertada de votos, seja Gore ou Bradley o candidato democrata", disse Mann. Pessoalmente, ele aposta no vice-presidente e não vê problemas numa disputa prolongada pela indicação partidária com Bradley, "se ela terminar em termos amistosos". A briga "pode dificultar a união do partido democrata mas pode, também, ajudar a afiar os dentes do candidato vencedor para o confronto com Bush", observou.
O diagnóstico de Mann leva em conta fatores que influenciam o processo político e que as pesquisas, a essa altura, não captam. "As grandes forças da dinâmica eleitoral continuam a trabalhar a favor da atual administração: a economia estão vivendo um boom, o país está vivendo tempos de paz e prosperidade, o Partido Democrata está posicionado no centro , que é onde está a maioria dos americanos", afirmou Mann. "É verdade que as pessoas estão cansadas de Clinton e que isso afeta Gore, mas, ao mesmo tempo, elas aprovam a maneira como ele governou e os resultados de seu governo". Quanto ao argumento de que as pessoas estão pedindo mudança, Mann diz que, num panorama economicamente positivo e sem crises externas, "os americanos podem se satisfazer com a idéia de produzir a mudança desejada trocando Clinton por Gore ou Bradley".