Se fosse possível reunir quase 140 imigrantes que moram em cinco municípios da região de Londrina em apenas um indivíduo, essa pessoa seria um jovem nascido em um país como o Haiti e não teria um emprego formal. Pelo menos é o que revela em linhas gerais os dados do Perfil de Imigrantes da Região Metropolitana de Londrina, lançado nesta segunda-feira (14).

Enquanto o Haiti é o país de origem de 45,45% dos entrevistados, países como Bangladesh (31,06%), Colômbia (6,06%), Senegal (5,3%), Angola (4,55%) e Guiné-Bissau (2,27%), entre outros, também foram citados pelos 139 imigrantes identificados para o estudo. A maioria tem entre 19 e 29 anos (52,67%) e menos da metade, 41,22%, tinha emprego formal no momento da coleta dos dados, no início de 2018.

Imagem ilustrativa da imagem Estudo revela perfil dos imigrantes que vivem na RML
| Foto: Beatriz Alves/Divulgação

No entanto, muito mais do que trazer a pesquisa quantitativa sobre essa população, o estudo coordenado pela professora do Departamento de Serviço Social da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e coordenadora do Grupo de Pesquisa SerSaúde, Líria Bettiol Lanza, teve o objetivo de contribuir com a gestão pública e subsidiar ações que promovam uma melhor integração destes cidadãos, avaliou.

Desenvolvido entre dezembro de 2016 e dezembro de 2019, o Perfil dos Imigrantes da RML destacou aspectos importantes dos resultados, como o acesso à saúde pública ter sido confirmado por pelo menos 68% dos imigrantes. “Primeiro porque é uma política universal, desde a Constituição a saúde deve ser acessada por todas as pessoas. É um dado relevante porque demonstra algum acesso”, sendo as Unidades Básicas de Saúde localizadas próximas das residências destes novos moradores os locais mais procuradores.

Por outro lado, também revelou que o Poder Público ainda aparece em último lugar na lista de grupos que foram responsáveis pelo apoio a esses imigrantes quando da sua chegada. Em primeiro lugar aparecem os amigos, seguidos de familiares e entidades religiosas, como a Cáritas e a Pastoral do Imigrante. “Por último os serviços públicos, com apenas 12%. Esse é um dado que nos provoca a pensar, o nosso papel público nesse processo de integração. Valorizamos todas as práticas, mas é uma prerrogativa constitucional, temos uma Lei de Imigração e é função do estado garantir esse processo de integração”, destacou. Os imigrantes identificados para o estudo residiam em Londrina, Cambé, Arapongas, Jaguapitã e Rolândia.

Imagem ilustrativa da imagem Estudo revela perfil dos imigrantes que vivem na RML
| Foto: Folha Arte

DESAFIOS

Em entrevista à FOLHA, Lanza também apontou o que considera os “desafios” para o futuro. Enquanto 55% dos entrevistados disseram não ter nenhum conhecimento sobre a política de assistência social praticada em seus municípios, 77% revelaram não saberem sequer a localização do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) mais próximo. Além disso, 84% nunca receberam nenhum benefício da Política de Assistência Social.

Conforme apontam os pesquisadores, o Brasil não ficou de fora do complexo processo de “redistribuição da população mundial” e recebeu de forma regular mais de 774 mil emigrantes e refugiados nos últimos dez anos. No entanto, “quando não sabemos o que fazer com esses novos usuários das políticas sociais, os desdobramentos são perversos”, lamentou a pesquisadora.

Para ela, ainda não faz parte do rol de municípios com experiências satisfatórias com os imigrantes, como as que possuem centros de acolhida ao imigrante com mediadores culturais. Entretanto, diz querer acreditar que Londrina conseguirá enfrentar seus desafios de forma satisfatória uma vez que sua população imigrante é muito pequena. "Isso é outro mito, de que os imigrantes vão roubar nossos empregos, são doentes ou vagabundos", ironizou.

EMPREGO

Nascida em São Tomé e Príncipe, Neyde Jordao Diakhate, 38, já chegou a empregar 22 funcionárias, a maioria imigrantes, no salão de beleza que administra no Centro de Londrina. Casada com um senegalês com quem tem três filhos, Diakhate chegou em Londrina há 16 anos para um intercâmbio na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e nunca mais foi embora. Neste meio tempo cursou Psicologia e Administração, porém sem nunca deixar de trabalhar com seu próprio negócio.

Questionada se o Brasil é acolhedor, avaliou que por ser um país continental não se pode generalizar. Já no Norte do Paraná, "não foi amor à primeira vista, mas hoje eu sou apaixonada por Londrina”, brincou.

Entretanto, a estabilidade financeira não é uma realidade para a maioria dos imigrantes da região. Os dados mostram que 36,64% estavam desempregados e 6,87% na informalidade.

Sobre o tema, a professora Líria Lanza destacou a presença de haitianos em Londrina, Cambé e Arapongas e de bengaleses trabalhando em frigoríficos da região de Rolândia e Jaguapitã. “Depende muito da oferta de trabalho e das relações sociais deles”, acrescentou.