Rio, 10 (AE) - A percepção em relação ao risco do Brasil e da Argentina mudou nos últimos meses. Um trabalho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostra que a diferença entre a cotação dos papéis da dívida externa com prazo de 30 anos dos dois países, que chegou a superar os 900 pontos básicos em janeiro do ano passado, caiu para 60 pontos em dezembro.
O economista do BNDES Fábio Giambiagi espera que os juros pagos pelos títulos nacionais fiquem abaixo da cotação dos argentinos já ao longo do ano 2000. "Os investidores estrangeiros estão mais confiantes desde que o Brasil conseguiu cumprir o acordo com o Fundo Monetário Internacional", afirma.
"A desvalorização cambial não trouxe os estragos esperados e deixou o mercado mais otimista em relação ao risco Brasil", analisa o economista. Giambiagi explica que a Argentina sempre pagou juros menores para captar recursos no mercado internacional por ter bons indicadores econômicos e uma imagem melhor junto aos investidores.
O gerente da área internacional do Bozano, Simonsen, Roberto Campos, pondera que a grande fragilidade do País era a política cambial antes da mudança para regime flutuante. "Passado o medo inicial com a desvalorização, os investidores passaram a confiar mais na capacidade de pagamento do Brasil com o novo regime", afirma. Campos argumenta que o País perde menos reservas internacionais em um ambiente de câmbio flutuante, que permite uma maior flexibilidade.
O economista-chefe do Lloyds Bank TSB, Odair Abate, também aposta na melhora do risco Brasil ao longo de 2000. O pano de fundo hoje não é de medo generalizado frente aos países emergentes, como ocorreu na época da crise asiática. Ele acredita que os investidores estão conscientes do "excelente desempenho fiscal brasileiro" este ano, que superou as metas estabelecidas no acordo com o FMI.
"A arrecadação de impostos no País cresceu apesar da desaceleração econômica", observa. "O governo conseguiu cortar gastos e também aumentou a carga tributária." Ele lembra, ainda
que a Argentina, ao contrário, não conseguiu cumprir as metas e está renegociando uma revisão com o fundo. "O efeito da desaceleração econômica argentina foi muito ruim para a arrecadação fiscal", revela. "Além do Produto Interno Bruto (PIB) cair cerca de 3,5%, o aumento do desemprego também diminuiu a arrecadação do comércio local." A diferença não está apenas na área fiscal.
A perspectiva positiva de recuperação das contas externas, especialmente, da balança comercial para este ano, também contribuiu para a queda mais acentuada do risco Brasil. O economista do BNDES prevê que o esperado reaquecimento da atividade econômica deve beneficiar nossa pauta de comércio exterior. Já a Argentina ainda deve amargar um ano de desempenho fraco.