SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um novo estudo publicado na Nature Medicine na última sexta (3) indica que máscaras cirúrgicas limitam expressivamente a difusão do novo coronavírus por gotículas respiratórias e aerossóis (partículas minúsculas liberadas no ar pela respiração).

Para descobrir quão eficazes são as máscaras, os pesquisadores dividiram 123 pessoas com pelo menos uma infecção respiratória confirmada em dois grupos: os que usariam máscara e os que não usariam.

Todos tiveram o ar expirado durante 30 minutos coletado por uma máquina. Os voluntários eram posicionados dentro de uma cabine de frente para um tubo de abertura cônica, onde o ar foi armazenado para análise.

Dentre eles, 17 pessoas estavam infectadas com coronavírus humano sazonal (vírus mais brando do que o coronavírus da pandemia atual), 43 com Influenza e 54 com rinovírus também sazonal. Uma pessoa tinha coronavírus e Influenza ao mesmo tempo, e outras duas apresentaram contaminação simultânea por Influenza e rinovírus.

No grupo dos voluntários sem máscaras, foram detectadas partículas virais do coronavírus em gotículas respiratórias e aerossóis, respectivamente, em 30% e 40% das amostras.

Já entre os que usaram máscara o coronavírus não foi detectado em gotículas ou aerossóis.

Os resultados foram menos animadores para Influenza. O vírus foi detectado em pacientes sem máscara em 26% das amostras de gotículas e 35% dos aerossóis. Entre os com máscara, 4% das amostras de gotículas continham o patógeno, que não foi encontrado em amostras de aerossóis.

Para os pesquisadores, os resultados indicam que o uso de máscaras por pessoas que estão infectadas é um valioso ativo para a prevenção contra o coronavírus, limitando a possibilidade de contágio.

Apesar dos resultados positivos, o estudo tinha limitações. Nem todos os participantes expeliram os vírus ao tossir ou respirar.

Entre os voluntários, 24% apresentaram febre igual ou superior a 37,8 °C, e os infectados pela Influenza eram duas vezes mais propícios ao quadro febril do que os contaminados por coronavírus ou rinovírus.

Já os pacientes com coronavírus foram os que mais tossiram, com uma média de 17 tosses a cada 30 minutos. Ao todo, 89,1% dos voluntários tossiram em algum momento.

Os autores afirmam que até poderiam ter pedido que os voluntários tossissem de forma forçada para produzirem mais material para análise, mas o objetivo do estudo era mapear o comportamento natural do vírus e seus sintomas.

"Esperávamos que alguns indivíduos durante uma doença respiratória aguda não tossissem muito. De fato, identificamos o RNA viral [de todos os vírus analisados] em um pequeno número de participantes que não tossiram durante a coleta expiratória de 30 minutos, o que sugere que as rotas de transmissão de gotículas e aerossóis são possíveis em indivíduos sem sinais ou sintomas óbvios", diz o texto.

O estudo também não investigou se as partículas virais obtidas como amostras durante a medição poderiam, efetivamente, infectar outra pessoa e levar ao adoecimento.

Na última quinta-feira (2), o Ministério da Saúde passou a incentivar o uso de máscaras mesmo por pessoas que não estejam doentes ao saírem de casa, mudando entendimento anterior de que máscaras deveriam ser utilizadas apenas por aqueles infectados pelo coronavírus.

A mudança surge em um momento em que começam a se esvaziar os estoques de EPIs (equipamentos de proteção individual) até mesmo para os profissionais da saúde na linha de frente contra a pandemia.

Veja como fazer uma máscara de pano para se proteger do coronavírus O uso de máscaras de pano caseiras passou a ser incentivado pelo ministério como maneira de impedir que cidadãos busquem as máscaras cirúrgicas essenciais para o trabalho de médicos, enfermeiros e todos os profissionais envolvidos no atendimento de pacientes.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, disse nesta segunda (6) que países que adotarem o uso extensivo de máscaras de proteção devem garantir que elas sejam usadas com segurança.

"A OMS têm normas sobre como colocá-las, retirá-las e descartá-las", afirmou.

Segundo ele, "está claro que a pesquisa sobre o uso de máscaras nesta pandemia é limitada. Máscaras sozinhas não vão parar o coronavírus. Nenhuma medida isoladamente vai parar o coronavírus. É fundamental continuar testando, isolando e tratando todos os casos e monitorando os contatos".