Estrangeiro em banco brasileiro pode chegar a 30%
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 08 de fevereiro de 2000
Por Soraya de Alencar
Brasília, 08 (AE) - A participação de instituições de outros países no sistema financeiro brasileiro chegará a aproximadamente 30%, isso considerando o ativo total destes bancos, se o Banespa for adquirido por uma empresa estrangeira. O porcentual corresponderia à soma da participação do Banespa no sistema, que é de 3,3%, mais a dos bancos privados com controle estrangeiro, das filiais de instituições internacionais no País e a parcela que os estrangeiros têm em empresas financeiras nacionais. O cálculo é do consultor Carlos Daniel Coradi, da Engenheiros Financeiros e Consultores (EFC), de São Paulo.
Ele assegurou que, enquanto os bancos privados com controle estrangeiro respondem pela parcela de 20% de todo o sistema, as filiais de instituições internacionais têm 3%. Sobre a parte que os estrangeiros têm nos bancos nacionais, os cálculos da EFC indicam que chega a 7,9%. Mas Coradi explicou que os recursos de bancos de outros países são menos da metade deste porcentual. "É em torno de 3,5%", afirmou. De acordo com os números do consultor, mesmo com o Banespa sendo vendido a um estrangeiro, a desnacionalização do sistema financeiro ainda estaria longe de ocorrer. Ele lembra que somente o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) abocanham 34,8% de todo o sistema. Este porcentual, somado à parte que os três maiores bancos nacionais - Bradesco, Itaú e Unibanco - têm no mercado brasileiro, chegaria à parcela 52,50%. Na avaliação de Coradi, não há qualquer motivo para impedir a entrada de mais estrangeiros. "Eles arejam o setor", destacou o consultor.
O ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola confessa ser simpático à idéia de não desnacionalizar o sistema. Mas isso, na forma que foi adotada na Argentina, onde não há mais bancos nacionais. Sobre o risco de desnacionalização como vem sendo apontado por alguns políticos e integrantes do governo
Loyola discorda e defende a entrada de mais instituições estrangeiras no País. Segundo ele, é necessário o fortalecimento dos bancos brasileiros para que eles também tenham presença no exterior.
"Eles precisam sofrer concorrência aqui para adquirir musculatura e poder atuar no exterior." Sobre isso, Coradi lembrou que, dia a dia, os bancos internacionais estão ficando mais fortes. Ele ressaltou que, enquanto o BB, que é o maior do mercado brasileiro, tem um ativo total em torno de US$ 77 bilhões, o Sawa, do Japão, tem ativos de US$ 500 bilhões. "São 6,5 vezes o Banco do Brasil", afirmou. O consultor citou ainda o caso do espanhol Santander, que tem 22 milhões de clientes espalhados por 38 países. Segundo ele, o Bradesco, maior banco privado nacional, tem hoje 8 milhões de clientes em dois países.
Para um ex-diretor do BC, a participação de estrangeiros no leilão do Banespa é um excesso de proteção aos bancos nacionais. "Isso acaba enfraquecendo estas instituições no longo prazo", afirmou. Na avaliação dele, os grandes bancos brasileiros têm total condição de adquirir o Banespa sozinhos ou em associação. Ele prevê que, no médio prazo, alguns estrangeiros que estão no Brasil tendem a sair do País. Isso, segundo ele, porque a concorrência levará à queda dos ganhos e os menores não conseguirão aumentar a participação. Mas não é o caso de pesos-pesados como o Santander, o Bilbao Vizcaya (BBV) e o HSBC, ressaltou.