Dois estagiários de jornalismo do Grupo Folha foram premiados em duas categorias do 23º Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense. Bruna Melo e Jair Segundo são estudantes da UEL (Universidade Estadual de Londrina), que levou dez troféus na premiação. Além deles, também foram contemplados três ex-estagiários do Grupo Folha - Gabrieli Chanthe, Fernando Cesar Buchhorn Junior e Mateus Reginato. O resultado do Sangue Novo, idealizado pelo SindijorPR (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná), foi divulgado na última sexta-feira (1º).

Bruna venceu a categoria "Reportagem para Rádio" com a o trabalho “Mulheres marcadas”, juntamente com Gabrieli e Maria Caroline Heitor Monteiro. Trata-se de uma série que fala sobre a violência que a mulher sofre na sociedade. "São quatro capítulos: o primeiro é sobre a desigualdade salarial, o segundo sobre o assédio nas universidades, o terceiro sobre violência psicológica e o quarto sobre a violência doméstica e o impacto nos filhos", comenta Bruna, que é estagiária do Portal Bonde. A série demorou dois anos para ser finalizada, e as próprias estudantes são responsáveis por todo o processo, desde a busca de fontes até o produto final premiado.

O mesmo grupo, com o reforço de Jair Segundo, estagiário da Folha de Londrina, obteve a segunda colocação na categoria "Projeto Produto Jornalístico Livre" com a “Produção da Revista Repense”, uma publicação sobre direitos humanos com uma plataforma alternativa para escuta para promover a acessibilidade de pessoas cegas. "Nós incluímos o Braille na capa e contracapa, explicando onde poderiam encontrar essas matérias e escutar as nossas reportagens, que podem ser acessadas por qualquer pessoa", explica Bruna.

"É uma felicidade poder ter o nosso trabalho no curso de jornalismo se reconhecido. Nós fizemos matérias que são da atualidade, são relevantes, mas nós não temos, como academia, tanta oportunidade de mostrar para o público de fora. Tem uma distância entre a faculdade e a população que deveria ser extinta. A gente conseguiu o reconhecimento do sindicato e poder ter um meio de mostrar para as pessoas o que nós estamos produzindo, que nós estamos pensando no que está acontecendo atualmente, é muito bom", aponta Bruna. "Particularmente falando da questão política do cenário atual, é importante para a gente mostrar que a faculdade ainda é algo que tem valor. Nós não estamos lá brincando de estudar; nós estamos produzindo. E, além disso, foram dez trabalhos premiados da UEL, são todos de uma relevância muito boa", avalia.

"O sentimento maior é de gratidão, principalmente às pessoas que nos deram entrevista e colocaram fé que nosso trabalho era sério. São coisas extremamente pessoais que elas compartilharam. Era a vida delas ali. Eu sou muito grata por elas terem cedido essa parte da vida delas para que a gente contasse e pudesse passar diante", diz Bruna.

"A revista Repense foi um um projeto interdisciplinar entre as disciplinas de técnicas de reportagem jornalística e diagramação, sob orientação dos professores Reinaldo Zanardi e Thiago Ramari - o Reinaldo nos direcionou na produção dos textos no gênero opinativo, que a gente escolheu trabalhar, e o Tiago, na diagramação", descreve Jair. "O tema da revista foi decidido em conjunto: direitos humanos. Então, nós trabalhamos com pessoas trans, com pessoas com deficiência, com mulheres que são mães solo... Foram vários nichos de pessoas que a gente quis retratar de uma forma positiva, dando uma abordagem mais positiva, e não estigmatizando mais ainda ou repetindo discursos que já têm em outras revistas para poder dar esse olhar diferente para eles", comenta Jair, que destaca que desde a construção dos textos até diagramação da revista envolvendo cores e os recursos gráficos foram pensados para trazer esse aspecto positivo para a temática direitos humanos, além de desmistificar a visão que as pessoas têm sobre esses grupos.

"Eu estou me sentindo muito feliz, principalmente por ter sido finalista, porque foram mais de 300 inscritos do Paraná inteiro. A gente chegar na final já é uma conquista muito grande, mas ficar em segundo lugar com essa revista foi uma sensação incrível porque fez a gente ver que vale a pena todo o trabalho, todo o esforço. Ainda mais por ser um tema que toca tanta a gente, que a gente tem tanta proximidade. Eu espero que ano que vem a gente possa escrever novamente nossos projetos e, quem sabe, conquistar o primeiro lugar", comenta Jair.

"Eu escolhi jornalismo por acreditar no poder que a informação tem na vida das pessoas. Como estudante, é comum eu gostar das minhas próprias produções, mas ter o material avaliado como importante - digno de premiação - por profissionais experientes é muito gratificante! É um incentivo para continuar investindo meu tempo em assuntos necessários para a sociedade! Os prêmios são um lembrete de que vale a pena lutar por esse jornalismo ético e comprometido com o interesse público. São a prova do potencial que os alunos da universidade pública possuem", comentou a ex-estagiária da Folha, Gabrieli Chanthe.

EX-ESTAGIÁRIOS

No time de ex-estagiários premiados, está Buchhorn, jornalista e estudante de Direito, que já havia conquistado o primeiro lugar no ano anterior em duas categorias da mesma premiação: Programa de Rádio, com a coluna semanal "Para Ouvir Direito", e na categoria Reportagem para Rádio, com uma série de matérias sobre o Centro POP de Londrina, que presta assistência social a moradores em situação de rua, produzidos quando fez estágio na rádio UEL FM. Ele também passou pelo Portal Bonde e Folha de Londrina.

Em 2019, Buchhorn levou outro primeiro lugar em "Pesquisa em Jornalismo" com o trabalho "Rotina produtiva em redações WEB: a multimidialidade como fator de transformação do processo de trabalho". O profissional destaca que "a pesquisa trata da nova realidade de trabalho dos profissionais de jornalismo em redação que atuam na WEB, mostrando as dificuldades e desafios pelos quais passam esses profissionais em um mercado cada vez mais exigente".

"Estar novamente na final do Sangue Novo, agora na categoria Pesquisa em Jornalismo, é muito significativo por dois principais motivos. O primeiro diz respeito ao fazer jornalístico na atualidade. Enquanto categoria, enfrentamos hoje crises no mercado de trabalho e crises de credibilidade. O trabalho sério de bons profissionais tem sofrido com um mercado cada vez mais enxuto e com modelos de negócio que, em sua maioria, exigem do profissional diferentes habilidades para se fazer jornalismo, porém sem proporcionar a este mesmo profissional os recursos técnicos e a remuneração à altura do resultado exigido. Sem contar o golpe que se leva todo dia das fakenews, extremamente opostas ao jornalismo, porém intimamente ligadas a este, justamente por colocar à prova a credibilidade do nosso trabalho", opina Buchhorn.

"O segundo motivo diz respeito à pesquisa e sua relação com o nosso cenário político. Fazer ciência na Universidade (o que é quase um pleonasmo) e ter um governo que marginaliza tanto a ciência como a Universidade é triste e preocupante. Entretanto, é também satisfatório. Satisfatório por saber que, de certo modo, a pesquisa científica ainda sobrevive e a Universidade ainda pulsa. Enfim, estar na final do Sangue Novo é extremamente significativo pois representa a resistência do bom jornalismo frente às dificuldades que vive a profissão e a resistência da pesquisa frente às dificuldades que vive a ciência atualmente".

Já Reginato, também com passagens pelo Bonde e Folha de Londrina, levou o terceiro lugar em Pesquisa em Jornalismo com o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) “Brasil Livre? A produção de fake news na execução de Marielle Franco”. No trabalho, discuto o papel do MBL (Movimento Brasil Livre) na disseminação de notícias falsas sobre a vereadora assassinada.

"Foi bem complicado definir o tema da minha pesquisa, como imagino que seja para quase todo mundo. Eu sempre soube que queria discutir um assunto que me incomodasse, me revoltasse. Em março, a Marielle foi assassinada, em um caso que até hoje está aí levantando discussões, e surgiram dezenas de histórias envolvendo o nome da vereadora. 'A Marielle era esposa de um traficante', 'Ela foi morta porque prometeu coisas a bandidos'. E o grande envolvimento de um grupo influente politicamente como o MBL na difusão dessas mentiras acabou por fazer desse caso um exemplo ideal de como a direita brasileira 'liberal na economia e conservadora nos costumes' age para conseguir seguidores", comenta Reginato.

"Uma das coisas que mais me deixou honrado em relação ao Prêmio Sangue Novo é que a categoria de Pesquisa em Jornalismo é a única, se eu não estou enganado, em que a universidade indica o aluno. Então o Departamento de Jornalismo da UEL poderia escolher três trabalhos do ano passado para concorrer, e eu acabei sendo um dos escolhidos. A partir da indicação da própria universidade, fiz a minha inscrição e fiquei na expectativa. Eu sempre acreditei que o meu trabalho tinha potencial para estar entre os finalistas, mas isso não tirou a felicidade de realmente estar os três escolhidos pelos jurados, até porque eu sei que outros ótimos trabalhos também estavam concorrendo", afirma.

Desde agosto, porém, Reginato mora na Itália, então não pode participar da cerimônia. "No dia da premiação, acompanhei o evento pela live feita pelo Sindijor no Facebook. Lá em Curitiba, o Fernando pegou o prêmio para mim. Mesmo não estando presente, posso dizer que senti muito orgulho de ver um trabalho que exigiu muito esforço ser reconhecido, além da felicidade em ter tantos alunos da UEL e que também passaram aqui pelo Grupo Folha sendo premiados", finaliza.

CONFIRA OS PREMIADOS DA UEL NO SANGUE NOVO

1º lugar na categoria Pesquisa em Jornalismo: “Rotina produtiva em redações WEB: a multimidialidade como fator de transformação do processo de trabalho”, de Fernando Cesar Buchhorn Junior.

3º lugar na categoria Pesquisa em Jornalismo: “Brasil livre? A produção de fake news na execução de Marielle Franco”, de Mateus Reginato Ramos Marques.

1º lugar na categoria Programa de Rádio: “Voto a voto: por dentro das eleições”, de Bruno Guilherme Nomura.

1º lugar na categoria Reportagem para Rádio: “Mulheres marcadas”, de Bruna Melo Gonçalves, Gabrieli Chanthe de Souza e Maria Caroline Heitor Monteiro.

2º lugar na categoria Reportagem Para Rádio: “Os desafios da educação de jovens e adultos no CEEBJA Betinho: duas reportagens", de Bruno Guilherme Nomura.

3º lugar na categoria Reportagem para Rádio: “Solteira é a mãe! A vida das mães solo”, de Ana Beatriz Pacheco Silva.

2º lugar na categoria Projeto Jornalístico para Assessoria de Imprensa: “Assessoria de Imprensa Via Rural”, de João Gabriel Alves Mariucci.

2º lugar na categoria Projeto Produto Jornalístico Livre: “Produção da Revista Repense”, de Bruna Melo Gonçalves, Gabrieli Chanthe de Souza, Jair Saraiva Lima de Queiroz Segundo e Maria Caroline Heitor Monteiro.

3º lugar na categoria Reportagem Escrita Digital: “Uma tatuagem na alma: a exploração sexual infantil em Londrina”, de Bruna Miyuki Enomoto Akamatsu e Giovana Bueno Borghesi.

3º lugar na categoria Radiodocumentário: “Identidades mestiças: a miscigenação aos 110 anos da imigração japonesa no Brasil”, de Bruno Guilherme Nomura