SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, admitiu nesta terça-feira (28) que não acreditava na realização de uma greve dos metroviários durante a pandemia de Covid-19. A paralisação havia sido decretada na noite da segunda-feira, mas foi suspensa horas depois, quando a gestão João Doria (PSDB) decidiu aceitar as reivindicações da categoria.

"Num momento de pandemia, de combate ao coronavírus, nós nunca imaginaríamos que pudesse chegar a esse ponto", afirmou Baldy em entrevista ao Bom Dia Brasil, da TV Globo. Para o secretário, a greve era "inacreditável no momento em que a gente tem que se unir e não pensar em uma única situação de que se discute direitos e privilégios".

A decisão pela greve havia sido tomada por volta das 21h de segunda-feira em assembleia da categoria, que reivindicava a manutenção de direitos adquiridos. Após a divulgação da notícia de que a paralisação ocorreria a partir da 0h de hoje, o governo estadual procurou novamente os metroviários para comunicar que aceitaria a proposta apresentada no mesmo dia pelo Ministério Público do Trabalho, que mantinha as cláusulas do acordo coletivo 2019/2020.

Outra assembleia foi feita e os trabalhadores decidiram suspender a greve. A deliberação ocorreu por volta da 1h. Mesmo com a suspensão da paralisação, o rodízio de veículos continua suspenso na capital nesta terça-feira, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Baldy afirma que, após a suspensão da paralisação, os trabalhadores da madrugada deveriam retornam imediatamente ao trabalho, o que, segundo ele, não ocorreu. Por esse motivo, acrescenta, houve atraso na abertura das estações, que deveriam começar a funcionar às 4h40. Algumas iniciaram a operação somente por volta de 7h.

Comunicação Na opinião do secretário, houve falha de comunicação com os metroviários. "O sindicato foi o responsável pela comunicação de que a greve estaria suspensa e para que todos os funcionários, assim como nós fizemos pelo metrô, pudessem ser chamados e estar trabalhando a partir das 4h40", explicou.

O coordenador-geral do sindicato dos metroviários, Wagner Fajardo, rebateu a declaração do secretário. "A culpa foi deles [do governo do estado] por terem atrasado a proposta. Se tivessem aceitado um acordo no Tribunal [Regional do Trabalho] no período da manhã, nada disso teria acontecido."

O horário avançado em que a decisão pela suspensão da greve foi tomada dificultou o acionamento do Paese (Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência), informou o secretário.

Crise financeira Ainda na entrevista ao telejornal, Baldy afirmou que o metrô iniciou a pandemia com um caixa de R$ 350 milhões. Segundo ele, foi essa reserva que possibilitou que a companhia suportasse uma queda de quase 80% na demanda. "Os custos estão bem acima da receita", reconheceu.

Baldy disse ainda que o "salário médio de um trabalhador do metrô é bem acima de um trabalhador da iniciativa privada". Segundo ele, o vencimento médio e de R$ 9 mil, o que o sindicato contesta. De acordo com a entidade, a maioria da categoria ganha entre R$ 2,5 mil e R$ 6 mil.