São Paulo, 22 (AE) - O jornal "O Estado de S.Paulo" venceu o 3.º Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo na categoria Jornal, com a reportagem "Por que a Febem Virou um Inferno", publicada no caderno Cidades em outubro. Esta é a segunda vez que o Estado ganha a premiação na categoria. A entrega do prêmio, concedido pelo Instituto Ayrton Senna, ocorreu ontem à noite, no Teatro Alfa, na zona sul de São Paulo.
Foi uma noite de festa e alegria, com participação de personalidades como a soprano Celine Imbert e a cantora Zizi Possi. Acompanhado de crianças negras, brancas e índias, o cantor Milton Nascimento apresentou à platéia de convidados a música Bola de Meia, Bola de Gude, antes do anúncio dos ganhadores.
A reportagem vencedora é dos repórteres Uilson Paiva, Gabriela Carelli e Jobson Lemos. A equipe recebeu a premiação dos apresentadores Marília Gabriela e Pedro Bial. Além de uma placa, o instituto concedeu ao grupo R$ 15 mil e uma passagem aérea para Nova York.
O trabalho teve a colaboração de Renato Lombardi e de diversos correspondentes. Mostrava a situação caótica da Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem), após a mais sangrenta rebelião da história da instituição, em outubro - quatro menores foram mortos pelos próprios internos, um deles degolado.
Também apontou uma série de providências que poderiam ser adotadas para solucionar os problemas da instituição e mostrou várias boas iniciativas postas em prática em todo o País. Algumas delas foram depois anunciadas pelo governo estadual para tentar sanar os problemas da instituição. "Nossa dificuldade foi fazer com que as pessoas se indignassem diante de um tema que já havia sido tratado tantas vezes e, por isso, procurarmos apresentar não apenas os problemas, mas a forma de resolvê-los", explicou Paiva. "Premiamos estudantes, jornalistas e veículos que tiveram a coragem de discordar e apontar soluções", afirmou a presidente do instituto, Viviane Senna. Para ela, falta ao País equiparar o desenvolvimento político ao econômico e social. "O que nos falta fazer em primeiro lugar é nos indignarmos, mas não basta a indignação sem gestos concretos e completos."
Premiados - Na categoria Revista, o premiado foi Gilberto Nascimento, da IstoÉ. Beatriz de Castro, da Rede Globo Nordeste, venceu na categoria Televisão, com uma reportagem sobre o trabalho de crianças no interior de Pernambuco. Antônio Gaudério, da Folha de S. Paulo, foi o vencedor na categoria Fotografia. Marilu Cabañas, da Cultura AM/FM, ganhou na categoria Rádio.
O instituto premiou ainda profissionais das categorias Mídia Jovem e Estudantes de Comunicação. Também concedeu vários prêmios de Destaque Educação e Da Investigação à Solução, para mídias impressa e eletrônica.
Iniciativa - Houve ainda um prêmio especial para uma iniciativa bem-sucedida. O casal de arquitetos Patrícia Chalaça e Marcelo Souza Leão, do Recife, foi premiado pela reforma da Casa de Carolina, onde vivem crianças carentes. "Mobilizamos arquitetos e decoradores, que adotaram ambientes do edifício e elaboram um projeto de reestruturação do espaço", explicou Leão.
Viviane Senna contou que a idéia surgiu de uma entrevista sua que inspirou Patrícia. "A reforma custou R$ 600 mil, mas não envolveu doação em dinheiro, apenas trabalho e materiais, tudo do bom e do melhor." A Casa de Carolina foi remodelada em 45 dias e entregue em outubro. O desafio agora é repetir a experiência anualmente. Ainda este semestre será entregue, desta vez em Brasília, outra creche reformada seguindo o modelo criado pelo casal. "Queríamos ajudar e não sabíamos como", contou Patrícia. "Assistir às reportagens foi fundamental para nos impulsionar."
A primeira edição do Prêmio Ayrton Senna ocorreu em 1998. O Estado venceu na categoria Jornal com a série Entidades. As reportagens, de autoria de Roberto Gazzi e da equipe do caderno Cidades, mostraram o trabalho de 50 instituições assistenciais. Em 2000, o instituto recebeu 1.613 trabalhos.