O Ministério da Saúde anunciou na semana passada um plano ainda preliminar de vacinação para a Covid-19 no Brasil. O planejamento prevê que as doses sejam distribuídas em quatro fases e que haverá prioridade para alguns grupos da população.

A meta inicial é vacinar 110 milhões de brasileiros que integram os quatro grupos prioritários nas quatro fases iniciais
A meta inicial é vacinar 110 milhões de brasileiros que integram os quatro grupos prioritários nas quatro fases iniciais | Foto: François Lo Presti/AFP

As regras ainda podem mudar já que não há definições de quando será possível começar a imunização, quais vacinas estarão disponível e nem o número de doses à disposição. Para especialistas ouvidos pela FOLHA, os desafios são enormes, principalmente porque há muitas dúvidas de como realmente será todo o processo para vacinar os brasileiros contra o coronavírus.

O diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, ressalta que pontos importantes ainda precisam ser resolvidos para que o processo de vacinação seja bem executado, como os processos de compra das vacinas, insumos, a logística, distribuição, armazenamento entre outros.

"O know-how brasileiro em campanhas de vacinação pode ser crucial neste momento. O Brasil é o país que mais vacina no mundo e isso não pode ser descartado. A questão é que ainda não sabemos qual vacina será utilizada, qual o seu poder de imunização, qual a indicação e tantas outras dúvidas", apontou.

O Plano Nacional de Imunização tem sido discutido pelo MS com diversas sociedades médicas, conselhos federais da área da saúde e órgãos como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o Instituto Butantan e o Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná).

A meta inicial é vacinar 110 milhões de brasileiros que integram os quatro grupos prioritários nas quatro fases iniciais. Na fase 1 seriam vacinados profissionais da saúde e idosos acima de 75 anos. Depois a vacinação atingiria idosos entre 60 e 74 anos, pessoas com doenças graves e, por último, professores, profissionais das forças de segurança, funcionários do sistema prisional e a população privada de liberdade. A Sesa (Secretaria Estadual de Saúde do Paraná) informou que não tem um plano de vacinação específico e que seguirá as recomendações do MS.

A gerente da Clínica de Vacinas da Unimed Londrina, Zenaide Leão, ressalta que não há nenhuma perspectiva para que as doses cheguem a rede privada no primeiro semestre do ano que vem e que todos os estudos até aqui apontam que a imunização da população deve ser feita com duas aplicações.

"No Brasil precisaríamos de mais de 400 milhões de doses neste cenário. No entanto, é importante ressaltar que não é necessário vacinar toda uma população para evitar novas contaminações. Quando se tem entre 70% e 75% das pessoas imunizadas, se cria o efeito de rebanho, e a incidência de contaminação cai bastante", afirmou.

A indefinição por parte do MS em relação ao início da vacinação acontece porque ainda não se tem nenhuma vacina aprovada e liberada pela Anvisa e também pela dificuldade de produção em alta escala.

"A vacina da gripe, que já tem tecnologia e é produzida há 20 anos, sempre tem problemas com o prazo de entrega. Imagine com uma vacina que está sendo estudada há dez meses", comentou Leão.

As dúvidas quanto a eficácia das vacinas que estão sendo testadas e qual seria a melhor opção têm gerado muitos questionamentos por parte da população e isso traz uma insegurança para a sociedade.

"O que mais respondemos na clínica são perguntas de quando será possível vacinar, qual a melhor vacina e se já é possível deixar agendado. A questão é que hoje tudo ainda é incerto e muito vago, até mesmo para a classe médica", frisou o infectologista José Luís da Silveira Baldy.

Outro desafio apontado por Renato Kfouri é conseguir superar o embate político entre governo federal e governadores que tem se mostrado presente desde o início da pandemia do novo coronavírus. O diretor da SBIm lembra que discursos opostos quanto ao uso de máscaras, da aplicação ou não da cloroquina no tratamento e da questão do isolamento total ou vertical atrapalharam demais o controle da pandemia no País.

"O sucesso de um projeto de imunização passa pela confiança que a população tem nele. A questão política tem interferido na pandemia desde o começo e isso tem trazido muitos prejuízos", apontou.