Especialistas acreditam que crescimento está assegurado
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sábado, 12 de fevereiro de 2000
Por Lu Aiko Otta
São Paulo, 12 (AE) - Na leitura que os especialistas fazem dos dados mais recentes sobre a atividade econômica calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aparece uma diferença. Comparando a atividade econômica registrada no último trimestre de 99 com igual período em 98, aparece um crescimento de 3,13%. Na visão do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Edward Amadeo, esse dado dá uma boa indicação de que, se tudo continuar como está, pelo menos esse nível de crescimento econômico está assegurado para este ano.
Já o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda José Roberto Mendonça de Barros acredita que o crescimento será um pouco inferior a esse número por causa da agricultura. "A agropecuária terá uma queda grande neste ano", disse. Ele afirmou que já há indícios de que o plantio será menor. Além do mais, a seca prolongada no fim do ano passado frustrou as estimativas de colheita neste ano. Por essa razão, o setor agropecuário crescerá 1,9% em 2000, segundo suas estimativas.
Outro sinal de que a economia poderá não ter, no início de 2000, o mesmo fôlego mostrado no final de 99 surgiu na indústria automobilística, segundo informou Mendonça de Barros. Ele explicou que, tradicionalmente, as montadoras dão férias coletivas no fim do ano. Em 99, porém, isso não ocorreu, o que pode ter ajudado o bom resultado registrado pelo IBGE, na comparação com 98. "Mas as férias coletivas ocorreram em janeiro", disse ele.
Mendonça de Barros acredita, ainda, que o setor de serviços não registrará taxas de crescimento muito elevadas, ficando estimada em 1,3%. "O comércio vai andar devagar", disse. Sua estimativa é confirmada pela constatação de fatos como, por exemplo, a estagnação do número de usuários da Internet. "A despeito do acesso gratuito, o número não cresce há seis meses", informou.
Na sua avaliação, a indústria terá um desempenho melhor do que a agropecuária e os serviços neste ano. "Até porque, a indústria já apanhou muito no ano passado", comentou. Setores como bens de capital e bens duráveis deverão puxar o crescimento
acredita ele. Sinais mais consistentes de recuperação da atividade econômica deverão surgir a partir do segundo semestre, na sua avaliação. "A melhora será contínua e, no fim do ano, estaremos crescendo no ritmo dos 4% estimados pelo governo", comentou.
Amadeo acredita que o crescimento econômico projetado para este ano tem condições de ocorrer sem pressionar a inflação. Isso porque a indústria ainda está produzindo a níveis abaixo dos da crise da ásia, ou seja, há capacidade ociosa a ser ocupada antes de surgir uma pressão sobre os preços. A indústria de bens de capital, por exemplo, produziu em dezembro de 99 um volume 10,4% menor do que o de outubro de 97. A indústria de bens duráveis, por sua vez, ficou 26,2% abaixo do nível de produção atingido antes da crise. "Esses são os setores que puxarão o crescimento ao longo dos próximos 18 meses", disse.