As escolas de medicina não estão preparando profissionais aptos para cuidar dos pacientes brasileiros. A afirmativa é do coordenador científico da Conferência Internacional de Educação Médica, professor Ernani Aboim. Ele condena a ultra-especialização dos médicos e afirma que os recém-formados não conseguem diagnosticar doenças sem ajuda de exames laboratoriais, têm dificuldades para comparar casos, pesquisar ou criar.
‘‘Eles deveriam ter conhecimento mínimo para tratar 90% das doenças sem as máquinas. Essa é a realidade brasileira. Tanto os profissionais não estão preparados, que eles têm procurado a pós-graduação’’, afirmou o médico, que é diretor de pós-graduação do Instituto Carlos Chagas e integrante da Academia Nacional de Medicina (ANM), organizadora do encontro.
De acordo com Arboim, a conferência, que reúne até hoje 500 médicos de 52 universidades brasileiras e estrangeiras, surgiu da convicção de que estava-se ensinando mal os alunos de medicina e o aprendizado tem sido insuficiente. ‘‘A falha é maior ou menor dependendo da instituição, do Estado e dos recursos envolvidos’’, diz o médico.
Ele cita o despreparo dos alunos ao chegar à faculdade, a ausência de incentivo aos professores - 20% abandonam a docência por serem mal remunerados, segundo Arboim - , bibliotecas defasadas e a falta de recursos para pesquisa como fatores que levam à formação do mau profissional. ‘‘Nesse processo, o governo tem sido padrasto’’, afirmou.
‘‘A verba para educação no Brasil é de US$ 100 per capita, na Argentina é de US$ 250, no Chile, de US$ 350, e nos Estados Unidos, de US$ 4.000. Não precisa dizer mais.’’ Ontem pela manhã os médicos discutiram o currículo das universidades.
Houve críticas à dissociação entre o ciclo básico, em que são ministradas as matérias elementares e o ciclo clínico. ‘‘Muitas vezes os professores do ciclo básico não têm experiência nem titulação e são ocupados demais para preparar suas aulas’’, afirmou o professor Gerson Cotta-Pereira, membro da ANM.