Berlim, 20 (AE) - Magnólia, de Paul Thomas Anderson, recebeu hoje (20) o Urso de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Foi previsível. Os filmes selecionados este ano, especialmente os europeus, estavam muito aquém dos festivais anteriores, e o vencedor foi das poucas exceções a mostrar algo de novo. Esnobado pelo Oscar, ao receber apenas três indicações, certamente o júri também quis fazer justiça ao premiar Magnólia.
Walter Salles, que há dois anos recebeu o Urso de Ouro por Central do Brasil e este ano foi membro do júri, afirmou à AE, logo após o anúncio dos premiados, que "Magnólia é um filme inventivo e renova a cena do cinema independente nos Estados Unidos".
Outra barbada foi o Grande Prêmio do Júri, correspondente ao segundo colocado, com um Urso de Prata, entregue a Zhang Yimou, por The Road Home. Era certo que Yimou receberia algum prêmio. Afinal, sua ex-esposa e atriz principal por muitos anos, Gong Li, foi a presidente do júri do festival.
Já o Urso de Prata foi para The Million Dollar Hotel, o novo filme de Wim Wenders, que abriu o festival. Uma bela história de amor, num hotel de Los Angeles, com as poéticas imagens, típicas de Wenders.
O Urso de Prata para melhor atriz foi dividido pelas alemãs Bibian Beglau e Nadja Uhl, de Die Stille nach dem Schuss (O Silêncio depois do Tiro), de Volker Schl”ndorf. Filme que merece ser visto no Brasil, sobre o drama de uma ex-terrorista, que busca livrar-se do passado e vive sob nova identidade na Alemanha Oriental.
Denzel Washington recebeu o Urso de Prata por melhor ator, uma premiação que não causou surpresa, sua atuação em O Furacão é de fato excepcional. Merecido também foi também o Urso de Prata por melhor direção para o diretor checo Milos Forman, por Man on the Moon.
Injustiçado foi o filme Gouttes Deau Sur Pierre Brulantes, de François Ozon, a partir da peça escrita por Rainer Werner Fassbinder, quando tinha apenas 19 anos. O filme, que pode ser traduzido como Gotas de água sobre Pedras Escaldantes, fez uma bela adaptação para o cinema de uma história que se passa apenas numa casa. Ao menos, ele recebeu o Teddy, o prêmio gay do festival, e foi comprado para ser exibido no Brasil.
Como Gouttes Deau, a temática homossexual foi presente em vários outros filmes da competição, e já distante dos estereótipos gays, mas com personagens mais complexos, como o papel de Matt Damon em O Talentoso Ripley.
Se, no geral, os filmes da competição decepcionaram, quem acabou ganhando destaque no festival foi a música. Ela teve forte presença em vários filmes e sinalizou para a influência do videoclipe que se tornou inegável sobre o cinema.
Do universo pop, estão representados Aimee Man, com as canções que inspiraram Magnólia (que concorre ao Oscar de melhor canção com Save Me), Bono, do U2, que foi o produtor e fez a trilha de The Million Dollar Hotel, o grupo REM, cuja canção The Man on the Moon deu o título ao filme de Milos Forman, e ainda Bob Dylan, com O Furacão, outra música a batizar um filme.
Por outro lado, a música contaminou tanto que os próprios atores chegaram a cantar nos filmes. Foi o caso de Matt Damon, em O Talentoso Ripley, ou o elenco inteiro de Magnólia que, numa mesma cena, um dos melhores momentos do filme, interpreta Wise Up, de Man. Sem esquecer a tentativa de Kenneth Branagh, em transformar Shakeaspeare num musical, com Lovers Labours Lost.
E, finalmente, Bossa Nova, a comédia romântica de Bruno Barreto, que encerrou o festival ao som de canções de Tom Jobim e agradou a platéia de jornalistas com as imagens de cartão postal do Rio de Janeiro. Curiosamente, o que ficou desta edição da Berlinale foi justamente a música, uma ironia para a comemoração dos 50 anos de um festival de cinema.
Ainda emocionado pelo aplauso que saudou o fim da projeção do seu filme, Barreto deu entrevista na sala de imprensa do festival acompanhado da mulher, Amy Irving, e da mãe, Lucy Barreto. "O Rio de Janeiro que figura no filme é aquele no qual me criei nos anos 60 e do qual sinto saudade quando estou fora do País", disse o cineasta, que mora há 11 anos nos Estados Unidos.
Ele definiu o filme como uma comédia romântica, que quer recriar o mundo das comédias como Todas As Mulheres do Mundo ou Copacabana me Engana. Amy Irving, estrela de Bossa Nova e mulher do cineasta, disse que o Rio é uma "cidade maravilhosa quando se está apaixonado e é esta cidade que Bruno mostra no filme".