Imagem ilustrativa da imagem Equipes médicas começaram a ser vacinadas com a Sputnik V na Argentina

A vizinha Argentina começa a vacinar sua população contra a Covid-19 nesta terça-feira (29), mas a decisão do presidente Alberto Fernández foi recebida com desconfiança pela população. O país adotará inicialmente o imunizante russo Sputnik V, do Instituto Gamaleya, que teve o uso emergencial autorizado pela ANMAT (Administração de Medicamentos, Alimentos e Dispositivos Médicos da Argentina) na quinta-feira (24). A razão de os argentinos estarem preocupados faz sentido, visto que o aceite da agência estatal foi feito com base nos estudos feitos na própria Rússia, ou seja, sem testes adicionais locais. A parceria entre o Fundo Russo de Investimento Direto e a Casa Rosada garante o fornecimento de 10 milhões de doses da vacina. “As doses da vacina Sputnik V que chegaram da Rússia estarão disponíveis em cada província e na terça-feira, às 9h, começará a vacinação simultânea em todo o país”, afirmou Fernández em seu perfil no Twitter.

A primeira remessa de 300 mil doses será destinada aos trabalhadores da área de saúde. Mas, segundo a imprensa argentina, em várias províncias a distribuição não coincide com o número de profissionais, o que determina diferenças na capacidade de cobertura contra o coronavírus entre os distritos. De acordo com dados do jornal Clarín, a cobertura média nacional, com base na disponibilidade atual do Sputnik V, seria de 76% se a meta fosse vacinar todos os médicos e enfermeiras. Quinze províncias correspondem ou estão acima dessa proporção. Nove distritos estão abaixo da média.

Segundo relato da profissional de comércio internacional brasileira, Melissa Hayashi, que vive em Buenos Aires, a população não está corretamente informada sobre o processo. “Muitas pessoas acham que, com a vacina, o vírus vai acabar, mas, no meu entorno, muitas pessoas não querem se vacinar. Não há confiança na Sputnik V. A imprensa fala muito sobre o tema, mas a sensação é que a ANMAT ia autorizar mesmo sem ter certeza que seja efetiva a proteção”, afirma Hayashi, que tem família em Sorocaba (SP). Há ainda, segundo ela, uma insegurança grande causada pela mudança sistemática nas medidas de isolamento “O pessoal já não está cumprindo com a quarentena que eles querem impor. Já se fala que em março o governo irá impor uma quarenta estrita, como no começo desse ano”, explica.

REAÇÕES

Uma reportagem do Clarín traz mais elementos para que a desconfiança da população aumente. Uma matéria sobre um relatório russo disponibilizado na internet e confirmado pela publicação descreve 12 efeitos adversos considerados graves gerados a partir da Sputnik V, em voluntários. “Um caso de cólica renal, outro de trombose venosa profunda e um ‘abscesso de membro’. Quanto aos 9 restantes, o texto não esclarece a que grupo (‘vacina’ ou ‘placebo’) eles pertenciam”, lista. A matéria mostra que o estudo diz que a eficácia da vacina é superior a 91,4%, mas que os dados fornecidos em relação aos maiores de 60 anos são fracos.

Enquanto procura iniciar a vacinação, a Argentina proibiu a entrada de turistas brasileiros no país até o dia 8 de janeiro. A medida foi tomada para evitar o aumento do número de casos da Covid-19 e também é válida para outros países que fazem fronteira com o país, como Uruguai, Chile, Bolívia e Paraguai. Somente podem entrar argentinos e estrangeiros residentes, desde que previamente autorizados pela Direção Nacional de Migração. Essas pessoas, ao regressarem, precisam apresentar teste negativo para a infecção do tipo PCR, realizado no máximo 72 horas antes do voo, e cumprir quarentena de sete dias depois. Os estrangeiros permitidos também devem apresentar um seguro de assistência médica internacional.

PARANÁ

A Sputnik V foi cobiçada pelo governo do Paraná, que chegou a anunciar uma parceria que incluiria testes e a produção no Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), mas, por enquanto, os trabalhos não avançaram. Segundo nota, o instituto firmou um novo termo com os estrangeiros, o que irá garantir ser representante da vacina no Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, assim que o registro for obtido junto aos órgãos regulatórios brasileiros. “O acordo prevê também a possibilidade de transferência de tecnologia ao Tecpar para que o instituto seja um dos parceiros científicos e tecnológicos do Fundo no País”.