A cada ciclo avaliativo, as universidades públicas do Paraná confirmam o protagonismo no cenário nacional. Mesmo em meio a um contexto em que docentes afirmam que mais investimentos são necessários, as instituições têm conquistado resultados expressivos em avaliações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Avaliação coloca a UEL como a quinta melhor universidade estadual do país
Avaliação coloca a UEL como a quinta melhor universidade estadual do país | Foto: Roberto Custódio

E isso se reflete em dois indicadores divulgados no final de março, o IGC (Índice Geral de Cursos) e o CPC (Conceito Preliminar de Curso). O primeiro coloca a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e a UEM (Universidade Estadual de Maringá) como a quinta e sexta melhores estaduais do Brasil, respectivamente - as instituições conquistaram conceito 4.

Já no segundo, a licenciatura em Música e bacharelado em Química da UEL tiveram nota 5; em Maringá, tiveram o conceito máximo os bacharelados em Ciências Biológicas e Ciências Sociais. A divulgação dos indicadores encerra o ciclo de resultados do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) de 2021.

A diretora de assuntos acadêmicos da UEL, Maria Elisa Cestari, lembra que outros 18 cursos da instituição tiveram conceito 4, também considerado “nota máxima”. “Isso mostra um curso de excelência, destaque nacional nessas áreas”, afirma.

Para além de reconhecer o trabalho desenvolvido pela universidade, uma boa avaliação é importante porque essas graduações passam a fazer parte da base de políticas públicas para determinada área. Ou seja, tornam-se referências a nível nacional.

“O IGC é um índice que tem vários componentes. A nota do Enade e o desempenho dos cursos são componentes, mas tem outros que fazem a UEL se destacar, como o Censo da Educação Superior, que relaciona o número de alunos e professores, a qualificação [dos docentes], a infraestrutura. São vários índices além do CPC”, diz.

LEIA TAMBÉM:

+ Ranking classifica UEL entre as melhores universidades brasileiras

De acordo com Cestari, o setor público tem sofrido com carência de recursos. Tem sido uma “luta constante”, no seu ponto de vista. Apesar disso, a infraestrutura já conquistada e a qualificação do corpo docente acabam refletindo nos resultados da universidade.

A diretora também lembra que os cursos enfrentaram dificuldades por conta da pandemia da Covid-19, com a suspensão das aulas presenciais. “E mesmo assim a gente conseguiu um bom resultado nesse período.”

Essa percepção é semelhante à do professor Alexandre Remuzzi Ficagna, que responde pelo Departamento de Música e Teatro da UEL. Ele acredita que a pandemia foi um dos maiores percalços que enfrentou, mas que o curso de Música conseguiu manter sua qualidade.

Para o professor Alexandre Ficagna, do Departamento de Música e Teatro da UEL, a pandemia foi um dos maiores percalços enfrentados pela instituição
Para o professor Alexandre Ficagna, do Departamento de Música e Teatro da UEL, a pandemia foi um dos maiores percalços enfrentados pela instituição | Foto: Douglas Kuspiosz

“Conseguimos segurar, claro que afetou, claro que teve consequência, mas de fato mostramos que existe uma concepção, um pensamento, um grupo de pessoas que está conseguindo estabelecer, dar uma estabilidade diante dessas intercorrências”, avalia.

Para ele, a nota 5 no CPC indica que o trabalho desenvolvido no curso “está dando resultado”, principalmente por levar em conta uma constância. “Demonstra que, apesar dos percalços, o curso está com uma estrutura sólida, corpo docente coeso e conseguimos de fato oferecer uma boa formação.”

Já no bacharelado em Química, o chefe em exercício do departamento, Roberto de Matos, destaca o trabalho desenvolvido no ensino, na pesquisa e na extensão. Ele destaca a atuação do corpo docente, que atende outros cursos da UEL, e a participação dos alunos em programas de Iniciação Científica e Iniciação Tecnológica e Inovação, como pontos fundamentais para a boa avaliação.

“Eu acho que isso impacta também nesse índice. De uma maneira geral, tudo isso, tendo uma avaliação nota máxima, mostra que a gente está no caminho certo dentro da graduação. Apesar dos altos e baixos que o ensino, que a pesquisa tem, a gente tem esses números que contribuem para esse índice”, avalia Ficagna.

UEM

A professora associada do Departamento de Ciências Sociais da UEM, Zuleika de Paula Bueno, avalia que a nota 5 é uma “grande conquista” para o curso e é fruto do trabalho de docentes e alunos ao longo de 20 anos. Ela ressalta que o conceito leva em conta uma série de critérios que devem ser questionados, reformulados e avaliados, mas que também são válidos como parâmetro para estabelecer “uma formação adequada e de qualidade para os nossos profissionais”.

“Em outras palavras, nem devemos confiar cegamente nessas avaliações e nem descartá-las ou rejeitá-las. Elas são instrumentos importantes na construção de indicadores e padrões para a construção dos nossos currículos e das nossas práticas formativas e devem ser aperfeiçoadas para dar conta das especificidades dos diversos cursos e universidades”, diz.

Zuleika também ressalta que, apesar das adversidades enfrentadas pelas instituições paranaenses, a UEM se mantém como universidade de excelência em diversas áreas.

“A excelência universitária é algo que se constrói lentamente, mas que pode ser destruída rapidamente se não houver uma constante atenção, manutenção e ampliação de investimentos e programas de desenvolvimento das universidades e programas de assistência estudantil”, completa a professora.

O coordenador do curso de Ciências Biológicas da UEM, André Luís de Oliveira, aponta que as notas da graduação, no CPC, e da instituição, no IGC, mostram a capacidade de resiliência dos docentes, pesquisadores, funcionários, técnicos e acadêmicos frente à negação e desprestígio da ciência e tecnologia no Brasil nos últimos anos.

“E, no estado do Paraná, a situação se agrava ainda mais devido à falta de investimentos em infraestrutura e valorização dos servidores das universidades estaduais, cuja perda salarial já ultrapassa 42% referente à data-base”, avalia o professor. “Diante dessa realidade, a conquista torna-se ainda maior, pois não somente revela a qualidade do nosso curso e universidade, como possibilita sensibilizar a comunidade civil que precisamos acreditar na educação pública de qualidade.”

Nesta semana, a Seti (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) afirmou à FOLHA que “a questão da reposição salarial está sendo estudada pelas demais áreas do Estado, uma vez que demanda avaliação orçamentária. O diálogo segue aberto”.

UNICENTRO

Na Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), que possui campi em Guarapuava e em Irati, um curso se destaca: a licenciatura em História ofertada no campus avançado de Coronel Vivida. Com conceito 4 no CPC, a graduação é a terceira mais bem avaliada na área no país. O coordenador do curso, Vanderlei de Souza, avalia que tem sido garantida uma formação de excelência para os estudantes da região do município.

“Além desse benefício para a comunidade, a gente tem o benefício acadêmico, que reafirma o trabalho que vem sendo feito pelo nosso departamento, pelo curso de História em defesa da licenciatura”, diz. “Nós acreditamos que as licenciaturas são fundamentais no processo de transformação do país, e que sem a formação de bons professores, nós não conseguimos avançar em termos de especialização de todas as áreas da ciência.”

O coordenador ainda cita a parceria entre a instituição e a Prefeitura de Coronel Vivida para manutenção do campus, alimentação e transporte de professores, que diariamente viajam de Guarapuava até o município, uma distância de cerca de 150 quilômetros.

“Vivemos um momento de tantos ataques à educação, às universidades públicas, falta de investimento, desprestígio em relação à formação de professores. É importante mencionar o quanto é importante a sociedade toda apoiar o investimento na licenciatura”, finaliza.

SETI

O secretário estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, afirmou que os resultados mostram a dedicação dos corpos docente e técnico-administrativo e dos estudantes das universidades. Também que o Paraná está em um “excelente caminho” e que a qualidade e excelência do Ensino Superior paranaense é destaque nacional.

Sobre a necessidade de investimentos, Bona aponta que o pedido é uma “demanda natural”. “O governador Ratinho Junior determinou que nós fizéssemos uma regulação que permitisse ter clareza de como o Estado vai investir e o que as universidades podem esperar desse financiamento, no sentido de poderem se planejar para atender suas demandas”.

O secretário aponta que, em comparação com o ano de 2019, houve um crescimento de 45% nos recursos de custeio das instituições. Além disso, Bona pontua que há uma regulação que autoriza as universidades a fazer concursos públicos para docentes e funcionários.

“Inclusive, algumas das universidades, como a Unicentro, a Unespar, já com seus concursos realizados e professores e servidores nomeados”, diz.

Por fim, o titular da pasta destaca que, entre 2022 e 2023, os recursos destinados a programas e projetos de ciência e tecnologia passaram de R$ 100 milhões para R$ 400 milhões.

****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.