Entrada da Vésper não altera mercado de linhas telefônicas
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domingo, 30 de janeiro de 2000
Por Denize Bacoccina
São Paulo, 30 (AE) - A entrada da Vésper no mercado de linhas telefônicas está influenciando menos o mercado paralelo de linhas do que se esperava. Os negócios, que ficaram parados em dezembro à espera da concorrente da Telefônica, tiveram até um incremento com o anúncio das regiões em que a nova empresa vai instalar as primeiras linhas.
O motivo, na avaliação dos poucos empresários que ainda se dedicam ao negócio de compra e venda de linhas, é o preço oferecido pela nova operadora - R$ 597,00 -, maior do que o preço da maioria das linhas no mercado paralelo. Além do preço, a linha da Vésper utiliza tecnologia sem fio e não pode ser usada para acesso à Internet.
"Os negócios continuam em regiões onde a Telefônica não está instalando linhas", diz o proprietário da Bolsa de Telefones, Edmon Rubies. A entrada da Vésper no mercado, na semana passada, ainda não fez diferença, segundo ele. "O preço deles não é atrativo, a maioria das nossas linhas custa menos de R$ 600 e elas dão acesso à Internet", diz Rubies. Ele acha que o mercado paralelo ainda tem uma sobreviva de pouco mais de um ano. Os clientes, explica, estão preferindo comprar linhas da Telefônica em vez da Vésper, mesmo que seja preciso negociar no mercado paralelo.
O mercado paralelo já havia sofrido um baque no ano passado, quando a Telefônica instalou quase 2 milhões de linhas. Este ano, a intenção é instalar um volume semelhante, ao preço de R$ 76,62. Desde 1997, o preço de uma linha no mercado paralelo em São Paulo caiu 76,6%. O valor do aluguel diminui menos, 38%, porque muitas pessoas preferem alugar a linha enquanto esperam a instalação pela Telefônica. O preço médio de uma linha hoje no mercado é R$ 811,38. O aluguel custa em média R$ 98,24 por mês.
Maior empresa do setor atualmente, a Bolsa de Telefones negocia hoje um terço do volume que vendia há um ano. São vendidas atualmente cerca de 180 linhas por mês. "Já chegamos a vender 600 linhas por mês", diz Rubies. A consequência da queda nos negócios foi a redução da equipe, que passou de 140 para 50 funcionários.
A morte anunciada do setor não surpreende Rubies. Quando fundou a empresa, em 74, ele diz que a expectativa era de que o mercado paralelo fosse durar apenas cinco anos. "Era época do milagre, o governo vendia os planos de expansão e prometia que a fila de espera para o telefone iria acabar", conta. Em vez de 5
ele teve 25 anos para comprar e vender linhas telefônicas como se fossem patrimônio. Agora, quer entrar num novo negócio, que não revela, mas está relacionado com a operação de serviços para ligações interurbanas.
As empresas menores também só sobrevivem com a agregação de outros negócios. A Cobertel, em Santana, vende hoje cerca de 10 linhas por mês. No ano passado, era pelo menos o dobro. "Os negócios estão muito fracos, mas isso já faz tempo, desde o ano passado", diz o gerente de vendas da Cobertel, Everson Santos. "Não mudou nada com a Vésper porque ela está operando com preço de mercado", diz Santos, referindo-se ao mercado paralelo. O negócio com telefones só está durando pelas 100 linhas que a empresa ainda tem alugadas. "Estão todos comprando a linha ao término do contrato", diz Santos.
A proprietária da Agatel, Hildete Anselmo de Oliveira, está até surpresa com a sobrevida desse mercado paralelo. "Achei que fosse acabar no ano passado", diz Hildete, que atua na zona leste, em bairros onde a Vésper não tem o serviço disponível. As cartas enviadas pela Telefônica para moradores da região no ano passado prometendo a instalação de linhas derrubou o preço.
Como as linhas novas não foram instaladas, os clientes voltaram a procurar o mercado paralelo e o preço das linhas na região subiu de R$ 500,00 em dezembro para R$ 700,00 agora. "Os clientes dizem que desistiram de esperar e resolveram comprar no mercado", conta Hildete. O número de negócios passou de 10 em dezembro para 20 este mês. Ainda assim, longe dos bons tempos, quando vendia entre 30 e 50 linhas por mês.