A TI Apucaraninha está com os portões fechados, com controle de entrada e saída
A TI Apucaraninha está com os portões fechados, com controle de entrada e saída | Foto: Gustavo Carneiro

Segundo dados da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), são cerca de 25 mil indígenas de 146 povos que contraíram a Covid-19 no País, e que resultaram em 700 óbitos até o dia 22 de agosto. No Paraná foram registrados 121 casos e quatro óbitos. Uma das causas que agrava a situação é a falta de condições sanitárias. O Censo Demográfico do IBGE de 2010 apontou que a média de domicílios sem rede geral de abastecimento de água é de 79% nas terras indígenas. Ainda de acordo com o censo, 270 terras possuíam 100% dos domicílios sem acesso à rede, o equivalente a 57% do total.

O cacique da TI (Terra Indígena) Apucaraninha, Natalino Marcolino, disse que a reserva, localizada em Tamarana (Região Metropolitana de Londrina), está com os portões fechados. “Estamos controlando a entrada e a saída dos índios. Para comprar mantimentos os mercados estão autorizados a enviar compras para a gente e o Estado está mandando cestas básicas. Estamos nos virando com isso”, destacou.

“O medo é grande. A gente fala para todos que é perigoso, que não pode sair muito e que é preciso usar álcool em gel e máscaras, mas até agora a gente recebeu poucas máscaras e álcool em gel e nós não temos condições de comprar. São 2.100 pessoas na TI”, contabilizou o cacique.

Segundo ele, os únicos que têm saído da TI são as pessoas que colhem feijão em outras propriedades. “Mas elas ficam separadas. Existe uma trilha que só elas usam para eles poderem ir trabalhar. A gente está muito rígido com isso na reserva”, garantiu. “A Funai pediu para não fazer reunião, manter distância, e qualquer frequência em igreja está proibida. Também proibiu os jogos de bola, comemorações de aniversário. Tudo para não misturar muito as pessoas, mas têm sido duro de controlar. Não é fácil”, ressaltou Natalino.

FUNAI LONDRINA

Para Marcos Cesar da Silva Cavalheiro, chefe da coordenação técnica local da Funai de Londrina, todas as medidas que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou têm sido repassadas aos indígenas. “A nossa coordenação técnica é responsável por quatro terras indígenas: duas em Ortigueira (Mococa e Queimadas), uma em São Jerônimo da Serra (TI São Jerônimo da Serra) e outra em Tamarana (TI Apucaraninha). São 1.700 famílias”, destacou.

Segundo ele, no fim de junho foram fornecidas duas cestas básicas para cada família de todas as terras indígenas. “Para isolar os contaminados, a gente faz um trabalho com lideranças locais, mas nem sempre a população obedece."

Cultura do convívio em comunidade dificulta isolamento

Marciano Rodrigues, liderança Guarani e coordenador da Arpin Sul (Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul) ressalta que a população indígena sempre é a mais vulnerável em todos os sentidos. “A gente tem feito um trabalho muito intenso com envolvimento de outras organizações de base, conselhos estaduais, e instituições indigenistas. Temos feito um trabalho preventivo, com abordagem direta e criando barreiras sanitárias."

Segundo ele, a Arpin-Sul encontra situações variadas no isolamento das comunidades. “Têm muitos trabalhadores que atuam fora das aldeias, em frigoríficos e agroindústrias. Outros saem para vender artesanato. A questão do isolamento não é como acontece na cidade. Existem famílias extensas e o convívio em comunidade é forte, o que torna a disseminação muito mais rápida devido a essa forma diferente de conviver. É cultural. A gente tem feito conscientização com outras equipes e pessoas ligadas à instituições de saúde para que as pessoas saiam da aldeia só em caso de extrema necessidade”, apontou.

Rodrigues lembra que, tradicionalmente, os indígenas começam as atividades produtivas no campo no fim de agosto e setembro. "O povo Guarani tem o costume de ir de uma aldeia a outra para fazer trocas de sementes, que é tradicional. Isso gera preocupação também. Precisamos realizar um trabalho intenso de orientação e de cuidado para evitar esse deslocamento que começa agora, pois não sabemos até onde essa pandemia pode ir”, destacou.

São Paulo e estados do sul têm 180 aldeias

A organização dos serviços para a população indígena é feita pelos Dseis (Distritos Sanitários Especiais Indígenas). São responsáveis pelas atividades técnicas que promovem a reordenação da rede de atenção à saúde e as práticas sanitárias além do desenvolvimento de atividades gerenciais.

De acordo com a divisão, a região Interior Sul, formada por 180 aldeias de 65 municípios de SP, PR, SC e RS, possui 112 suspeitos, 709 descartados, 900 infectados (atual- ativos), 334 curados clinicamente e 362 óbitos. O índice de vulnerabilidade demográfica e infraestrutural à Covid-19 do agregado de Terras Indígenas do Interior Sul é de 0,376, mas nas TI do Norte do Paraná esse índice sobe para 0,4 a 0,5. Segundo a Sesai a população idosa no Interior Sul é de 10,45% a 13,32% do total de indígenas.

A região Interior Sul do Dsei, a qual a TI Apucarana, Queimadas, São Jerônimo pertencem, possui uma população geral de 63.118 indígenas divididas em quatro etnias. A área possui 180 aldeias e abrange 65 municípios dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O Interior Sul possui 112 suspeitos, 709 descartados, 900 infectados (atual- ativos), 334 curados clinicamente e 362 óbitos. O índice de vulnerabilidade demográfica e infraestrutural à Covid-19 do agregado de Terras Indígenas do Interior Sul é de 0,376, mas nas TI do Norte do Paraná esse índice sobe para 0,4 a 0,5. Segundo a Sesa a população idosa no Interior Sul é de 10,45% a 13,32% do total de indígenas.

A região Sul do Brasil possui 50 terras indígenas, o que representa 11% do total no País. O Paraná possui 19 TI (38% da região Sul), Santa Catarina possui 14 (28%) e o Rio Grande do Sul possui 17 (34%).