São Paulo - O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2024 teve um aumento de 15,4% nas inscrições de alunos concluintes do ensino médio em relação à última edição - 1,61 milhão desses estudantes se inscreveram para a prova neste ano.

Os dados são do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pela elaboração e aplicação do exame. O Enem 2024 está marcado para os dias 3 e 10 de novembro.

O total de inscrições do Enem deste ano também cresceu, com 4,32 milhões de cadastrados para a prova. O número representa um aumento de 9,95% em relação a 2023.

A retomada de participantes na prova, sobretudo daqueles que estão concluindo a educação básica, ocorre após o Enem ter chegado ao menor patamar durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Em 2021, 3,3 milhões se inscreveram para a prova, dos quais 1,1 milhão eram concluintes.

Para especialistas, o aumento da participação dos jovens na prova é sinal de uma "retomada aos patamares de normalidade" da trajetória de ensino no país.

O aumento das inscrições é atribuído a uma melhor comunicação e propaganda do Enem e também a ações para incentivar a participação dos alunos, como o programa Pé-de-Meia, lançado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro deste ano.

Com o objetivo de incentivar alunos pobres a concluírem o ensino médio, o programa prevê o pagamento de uma bolsa mensal de R$ 200 a quem frequentar a escola. Quem participa do Enem ganha um adicional de R$ 200.

"O Pé-de-Meia pode servir como um incentivo para que o jovem se inscreva no Enem, mas acho que esse aumento é um feito direto da retomada da divulgação e dos procedimentos de incentivo para a participação no exame", diz Salomão Ximenes, professor da UFABC (Universidade Federal do ABC).

Ele lembra que, durante o governo Bolsonaro, o Enem foi descredibilizado até mesmo pelo ex-presidente e esses ataques podem ter desestimulado muitos jovens a prestarem a prova.

Na gestão bolsonarista, o Enem esteve no centro de disputas ideológicas e também houve problemas na organização da prova. O MEC tentou interferir no conteúdo do exame com a criação de uma espécie de tribunal ideológico para censurar determinados temas.

Uma série de questões chegou a ser apartada por motivos ideológicos no início da gestão Bolsonaro. O governo recuou, entretanto, da ideia de ter uma comissão permanente sobre o assunto após reportagem da “Folha de S. Paulo” revelar o plano.

Questões sobre ditadura militar (1964-1985), por exemplo, não caem na prova desde 2019 - o que nunca havia ocorrido até então. Bolsonaro chegou a pedir ao então ministro da Educação Milton Ribeiro que o exame não falasse em golpe de 1964, mas em revolução, visão rechaçada por historiadores.