O primeiro Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) sob o governo de Jair Bolsonaro terá a etapa inicial neste domingo (3). Neste ano, 5,1 milhões de brasileiros devem fazer a prova, número que confirma tendência de queda do número de inscritos.

Imagem ilustrativa da imagem Enem confirma tendência de redução do número de inscritos

No Paraná, 211.308 candidatos se inscreveram no exame deste ano, que será aplicado em 88 municípios. Mais da metade dos inscritos paranaenses são mulheres (58%) e a maioria dos candidatos tem 17 anos. O número de inscritos no Brasil é menor do que o do ano passado, quando 5,5 milhões se inscreveram, e bem menor do que o de 2016, com 8,6 milhões de inscritos e 2017, com 6,7 milhões. O recorde foi em 2014, com 8,7 milhões.

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É o menor número de inscritos no País desde 2011, quando 5,3 milhões prestaram o exame. O governo federal justificou no ano passado que parte da queda do número de candidatos era reflexo da migração de estudantes que buscam certificação do ensino médio para o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos).

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Para o professor do Departamento de Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) entre 2014 e 2016, José Francisco Soares, a diminuição no número de inscritos pode ser um indício de que o País está conseguindo resolver problemas “crônicos”, como a evasão escolar e a retenção do aluno em determinada série por desempenho insuficiente.

Para Soares, há mais estudantes com trajetória regular, que terminam o ensino médio e prestam o Enem. Por outro lado, o índice pode ser encarado de uma forma negativa se analisados fatores socioeconômicos e culturais mais amplos. Ele ponderou que isso pode sinalizar que, se o candidato não conseguiu a vaga ou não possui recursos para fazer o ensino superior, ele deixa de fazer a prova. “Acabou aquela história de quase 9 milhões de alunos inscritos”, avaliou.

O Enem foi criado em 1998, mas foi em 2009 que o exame possibilitou o acesso às universidades federais, com a criação do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Das 2.448 universidades do País, quase 60% usam a prova para vagas na graduação, conforme dados do MEC (Ministério da Educação) de 2017. O teste tem 180 questões, que são divididas em dois dias.

No primeiro dia de aplicação do Enem as provas serão de "Linguagens, Códigos e suas Tecnologias", "Ciências Humanas e suas Tecnologias" e redação, com duração de 5h30. A segunda parte será no outro domingo, dia 10, com as provas de "Ciências da Natureza e suas Tecnologias" e "Matemática e suas Tecnologias", com 5 horas de duração.

Os portões abrirão ao meio-dia e fecharão às 13h. É obrigatório levar caneta esferográfica transparente de cor preta e documento de identificação oficial com foto. Gabaritos e cadernos de questões serão apresentados no dia 13 de novembro e os resultados estão previstos para janeiro de 2020 para os participantes regulares e março para os treineiros.

CONTEÚDO

A prova deixou professores e candidatos ansiosos quanto ao conteúdo deste ano, já que, em 2018, Bolsonaro criticou o exame por conta de uma questão que mencionava o pajubá, dialeto da comunidade LGBTQI+. Educadores ouvidos pela reportagem acreditam que a prova não abordará temas que podem causar polêmica.

"Quanto aos temas possíveis, este ano está bem complicado por conta da mudança do quadro político e ter tido tanta polêmica em 2018", disse Márcia Chiréia, coordenadora do curso Prime e professora de redação.

À época do comentário, o presidente reivindicou ter acesso à prova previamente, o que de fato não foi confirmado pelo Inep, autarquia responsável pelo exame. Em 2019, o Inep passou por quatro trocas de comando.

Chiréia pondera que a prova pode tratar, tanto na redação quanto nas questões, sobre vacinas, o aumento de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) no Brasil, disciplina no ambiente escolar, novas formas de trabalho, violência, presídios, temas relacionados à família e hábitos alimentares são possíveis. "Imagino que não sejam temas voltados para a política e minorias como antes era feito no Enem", disse.

A coordenadora pedagógica do colégio Sigma, Marli Carrion, acredita em temas como o desastre de Brumadinho (MG) e o retorno do sarampo. Jade Phelippe, diretora do Blog do Enem e do curso Enem Gratuito, levanta a hipótese de que a prova deste ano trará algum tema mais “generalista” e que esteja ligado a “atitudes independentes e individuais das pessoas”, como o consumo sustentável.

Dentre outros temas, Phelippe ressaltou também o empreendedorismo dentro da educação, o protagonismo do aluno para o sucesso de sua trajetória educacional, violência e o assédio sexual, além do “politicamente correto” e o crescimento da circulação do vírus da aids entre os jovens. Contudo, a última temática, por ter um estigma ligado à comunidade LGBT, "em virtude das polêmicas do governo atual, eles podem evitar, isso se realmente houver essa interferência na prova que não sabemos se vai haver”, ponderou.

A candidata Mariana Lima Lepri, 19, vai prestar o Enem para tentar vaga em psicologia. A estudante concluiu o ensino médio em 2017 e já havia prestado o exame no ano anterior, para treinar. Após dois anos no cursinho pré-vestibular, Lepri contou que a estratégia vem sendo focar mais nas disciplinas que já tem mais facilidade diante das “temíveis” fórmulas de física e matemática. “Eu não me dou muito bem com contas e letras ao mesmo tempo, então prefiro compensar nas matérias que eu já tenho mais facilidade, que são biologia, sociologia, história, filosofia, sociologia, geografia, artes, são as matérias que eu mais gosto de estudar”, brincou.

Geovani de Souza, 24, já cursa engenharia elétrica em uma universidade privada em Londrina, mas fará o Enem na tentativa de conseguir bolsa pelo ProUni (Programa Universidade Para Todos) por meio da nota do exame. Para ele, a maior dificuldade da prova é a duração aliada ao número de questões. "Eu acho muito difícil. Nas primeiras alternativas você vai até bem, mas depois chega um ponto que você cansa e não lê da mesma maneira que lê as primeiras".

Por isso, gerenciar o tempo da prova é essencial, conforme lembrou Chiréia. "O aluno precisa sempre começar pela redação e não fazer por último, porque a prova do Enem é de resistência".

PREPARAÇÃO PARA O DIA DA PROVA

Apesar de não ser obrigatório, é aconselhável levar para a prova o cartão de confirmação de inscrição e declaração de comparecimento impressa para assinatura do chefe de sala. Os candidatos devem chegar ao local de prova com uma hora de antecedência em relação ao fechamento dos portões.

A coordenadora pedagógica do Colégio Sigma, Marli Carrion, orienta os alunos a não perderem muito tempo em cada questão. “Se leu e não entendeu, passa para outra. Procure fazer as fáceis por primeiro”, lembrou. Isso porque a correção do Enem considera que se o candidato errou a fácil e acertou a difícil, subentende-se que ele chutou, conforme pontua Carrion.

“É possível chutar no gabarito se não der tempo, mas não dá para chutar a redação”, lembrou Márcia Chiréia, professora de redação e gramática e coordenadora do Curso Prime. Ela orienta que os candidatos leiam as redações nota mil do Enem porque elas têm uma estrutura em comum. “O aluno precisa ser sempre claro desde o começo do texto sobre a ideia que vai defender na redação”, ressaltou.

A professora destaca que os candidatos podem planejar o texto antes de iniciá-lo, como se fosse um esqueleto. Contudo, a fórmula de dissertação criada pela prova ao invés de ajudar o aluno a criar um senso crítico, piorou, na opinião dela. “Geralmente o aluno fala que o governo tem que investir em educação para resolver o problema, porque ele sabe que ele tem que responder com o quê, como, para quê, e acaba fazendo uma proposta genérica”, contou.

Por isso, para além da estrutura, o candidato deve pensar em um senso crítico para a redação. Na conclusão, o Enem avalia a proposta de intervenção, e, para a professora, sair do clichê com essa proposta, inovando, é essencial para se obter uma boa nota.

É proibido levar borracha, lápis, corretivo, chave com alarme, artigo de chapelaria, impressos e anotações, lapiseira, livros, manuais, régua, óculos escuros, caneta de material não transparente, dispositivos eletrônicos ou fones de ouvido.