Enem: além de agrotóxicos e vacinas, questões tratam até do Tinder
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domingo, 10 de novembro de 2019
Isabela Palhares, Luísa Laval, Mariana Hallal e Tulio Kruse
O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe questões que abordaram alternativas ao uso de agrotóxicos na produção de alimentos, a importância da vacinação para combater doenças e aspectos de geometria relacionadas ao aplicativo Tinder. Neste domingo, 10, os candidatos fazem as provas de duas áreas do conhecimento, com 90 questões de Matemática e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Biologia
Rubens Oda, professor de Biologia do cursinho Descomplica, diz que a prova seguiu a tendência dos últimos anos com questões mais conteudistas. Para ele, os candidatos podem ter dificuldade em resolver todas as questões dentro das 5 horas de exame.
"Como vem sendo nas últimas edições, a prova está ficando cada vez mais exigente, cobrando bastante conteúdo. Não é mais um exame que se resolve só com interpretação."
Em Biologia, por exemplo, caíram questões sobre ecologia, doenças e genética. Segundo Oda, uma das questões pedia ao candidato para indicar uma opção de controle biológico para pragas na agricultura em alternativa ao uso de agrotóxicos. Outra questão falava das vantagens do uso de vacina contra o agente causador da esquistossomose.
Brunna Coelho, professor de Biologia do COC, destacou duas questões da prova como sendo as mais exigentes, uma de genética e outra de citologia. Ela também disse que a prova deste ano estava mais conceitual que em outras edições. Entre as questões que chamaram mais a atenção da professora pela atualidade, estão sucessão e relação ecológica, imunologia e descarte apropriado de medicamentos.
Física
Para Leandro Gomes, professor de Física do cursinho Descomplica, a prova trouxe questões complexas e com conteúdos pouco cobrados em anos anteriores, o que pode ter surpreendido alguns candidatos, como perguntas que abordaram decomposição de forças e os fluxos de calor. "Pela leitura, o aluno sabia como resolver a questão sem usar fórmulas específicas", considera.
Ele destaca também questões que trouxeram temas cobrados com frequência. "Mais uma vez o Enem trouxe a questão do Daltonismo", aponta. Ondulatória também esteve presente com perguntas que trouxeram refração e reflexão.
Mantendo a tendência, o exame também trouxe enunciados que abordavam situações do cotidiano. Como uma questão de Física que falava do risco de fios de alta tensão em cercas de proteção de fazendas.
Química
Nas questões de Química também se manteve o padrão de cobrança dos últimos anos, com questões sobre pilhas, reações químicas e química ambiental. "As questões foram bastante interpretativas, porém com bastante conteúdo abordado. Não houve nenhum tema que chamasse muita atenção, foram questões mais previsíveis", disse Marcus Aurélio Souza, professor de Química do COC.
Allan Rodrigues, professor de Química do Descomplica, disse que as questões da disciplina tinham resolução mais simples do que em anos anteriores porque a maioria não exigia que o candidato fizesse cálculos - em apenas dois itens foi necessário fazer contas.
Ele comenta que a prova trouxe temas clássicos, como eletroquímica, termoquímica e polímeros. A novidade ficou por conta de uma questão envolvendo modelos atômicos. Segundo Rodrigues, o assunto não aparece no Enem há pelo menos dez anos. A prova trouxe ainda uma questão envolvendo meio ambiente, que falava de tratamento de esgoto.
Matemática
Felipe Pinheiro, professor de Matemática do colégio COC, disse que a prova trouxe conteúdos mais exigentes que em anos anteriores, com duas questões sobre logaritmo. Ele destacou que as perguntas estavam diretas, deixando mais tempo ao aluno para a resolução.
"A contextualização dos exercícios não foi muito grande. Havia muitos textos para embasar os exercícios, com comandos mais assertivo, levando o aluno ao cálculo."
Na prova de Matemática, uma questão perguntava sobre a probabilidade de "match" com o aplicativo Tinder, de acordo com a área em que o usuário está. A pergunta separava usuários por regiões, cada um com um raio de alcance determinado. O candidato precisava calcular a intersecção entre essas áreas ocupadas pelos usuários para descobrir a chances de combinações - ou match - entre eles. "Achei a abordagem dessa questão muito interessante e atual", comenta Luanna Ramos, professora do Descomplica.
Na avaliação da professora, a maioria das questões exigiram cálculos simples e a interpretação do enunciado não era complexa. Quanto aos assuntos abordados, a professora fala que não houve surpresas. Foram cobrados conhecimentos de probabilidade, análise combinatória, logarítmo, estatística, porcentagem e proporcionalidade. Muitos exercícios puderam ser resolvidos por meio da regra de três.
Alunos destacam quantidade de gráficos e questões de Química
No segundo dia do Enem, alunos destacaram a quantidade de questões sobre Química, e o uso de gráficos e raciocínio lógico. O grau de dificuldade não foi considerado difícil por alunos consultados pela reportagem.
A impressão dos estudantes foi de que as perguntas na área de Ciências da Natureza priorizaram questões de Química, em relação à área de Biologia. Entre as perguntas estavam equações de balanceamento molecular.
"Eu esperava mais questões de análise combinatória, que é o que sempre cai no Enem, mas quase não teve", diz a aluna Maria Fernanda Flórida, de 17 anos. Ela se refere a perguntas que pedem ao aluno para calcular números de uma sequência.
Segundo ela, houve apenas uma questão desse gênero, e muitas perguntas de Geometria e Probabilidade na prova de Matemática. Outra surpresa para ela foi na prova de Química, que, segundo ela, teve apenas uma pergunta da área de Entalpia. "A prova não estava difícil", ela diz.
O término das provas neste segundo dia acontece às 18h30, horário de Brasília.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão responsável pela prova, divulga na quarta-feira, 13, o gabarito oficial. Os resultados individuais só serão divulgados em janeiro em 2020.