Até a década de 1980, as possibilidades de diagnóstico médico em clínicas e laboratórios em Londrina não iam muito além do raio-X e da ultrassonografia. O cenário começou a mudar com o advento e a popularização da internet, na década seguinte, que permitiram um avanço expressivo no desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias em todas as áreas e a saúde foi uma das grandes beneficiadas. Nos últimos 30 anos, houve um salto significativo não apenas na área de diagnósticos por imagem. Procedimentos cirúrgicos passaram a contar com a ajuda de plataformas robóticas, sistemas de IA (Inteligência Artificial) auxiliam no monitoramento das condições clínicas de pacientes, a telemedicina é uma realidade e a gestão hospitalar tornou-se mais eficiente.

A Tecnologia e Inteligência Artificial a Serviço da Saúde foi o tema da 17ª edição do EncontrosFolha, realizada nesta quarta-feira (9), no auditório do Aurora Shopping. O evento, promovido pelo Grupo Folha de Londrina com correalização do Sebrae, patrocínio da Cooperativa Integrada, Iscal (Irmandade Santa Casa de Londrina), Unimed e Urolit, apoio da Frezarin Eventos e participação do Hospital do Câncer de Londrina.

O superintendente do Grupo Folha de Londrina, Nicolás José Mejía, destacou a preocupação do evento em trazer à sociedade a discussão de temas relevantes acerca do desenvolvimento de Londrina e região, assim como do Paraná, envolvendo todos os setores e segmentos. Especificamente na área da saúde, disse Mejía, é notória a importância do município como centro de serviço e prestação de saúde para toda uma população localizada em um raio de 200 quilômetros e o desafio que se apresenta é conseguir aproveitar ao máximo as inovação tecnológicas para que Londrina mantenha-se como um grande polo de saúde. “Novas tecnologias estão melhorando os serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, permitindo utilizar processos, diminuir custos e, com isso, aumentar o alcance desses serviços a toda a população. Mas de nada serve a inovação se não buscarmos também o bem comum, que é melhorar a vida dos brasileiros.”

Para que isso seja possível, pontuou, é necessário que o desenvolvimento de um modelo sustentável. “O potencial de transformação dessas tecnologias é enorme e fica aqui o meu convite para podermos sair do EncontrosFolha com o desafio de acelerar a implantação dessa revolução tecnológica.”

A inovação a serviço da saúde pode ser desde um robô que auxilia o médico nos procedimentos cirúrgicos até questões muito simples e operacionais dentro de um hospital, ressaltou o secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Gustavo Sampaio Gontijo. “Quando a gente pensa no SUS, o grande desafio é a fila. A tecnologia pode resolver isso, para que o médico possa ter mais tempo para atender com qualidade quem precisa ser atendido”, afirmou. A telemedicina e o telediagnóstico remoto são ferramentas que podem auxiliar nesse processo.

Para isso, o Ministério da Ciência e Tecnologia vem testando soluções que possam ser validadas e implementadas em larga escala no SUS. Algumas iniciativas foram testadas em hospitais de referência brasileiros e se mostraram eficazes durante a pandemia de Covid-19. “É preciso pensar em inovação em um horizonte de 20, 30 anos para frente para quando o fogo pegar no nosso pé, não passarmos sufoco”, disse Gontijo.

Outro ponto fundamental é a capacitação de recursos humanos. Em 2022, foram investidos R$ 391,2 milhões pelo governo federal na formação de pessoal. A maior parte desses recursos é proveniente da iniciativa privada. Com esse investimento, será possível, por exemplo, formar mestres e doutores em IA e computação, qualificar profissionais em segurança cibernética e outras áreas da tecnologia.

Gerente de Projeto do Hospital Unimed Londrina, Lucas Gianolla chama a atenção para o envelhecimento da população e para a redução da taxa de fecundidade da população, que deve aumentar o impacto financeiro no sistema de saúde, público e suplementar. A estimativa é de que os valores saltem de R$ 25,5 bilhões em 2010 para R$ 63,5 bilhões em 2030. “Teremos uma população idosa muito significativa que vai entrar no sistema de saúde, público ou privado. Quanto mais aumenta a expectativa de vida, mais gerações tem nessa cadeia.”

Nesse cenário que se desenha, a necessidade de investimento e mão de obra em inovação e tecnologia se faz urgente, mas um desafio é conseguir planejar os próximos anos, considerando que, na área da saúde, a obsolescência “tem um tombo a cada três anos”, disse Gianolla. O caminho, apontou, devem ser os exames minimamente invasivos, a utilização de robôs não apenas para a realização de cirurgias, mas para monitoramento dos pacientes, prontuários eletrônicos conectados a assistentes virtuais que fazem os ajustes tecnológicos necessários, como posicionamento do leito, e sistemas de biometria para reconhecimento facial de funcionários e pacientes.

Tudo isso, atrelado à sustentabilidade. “O maior desafio para o crescimento do ritmo tecnológico é a sustentabilidade, a eficiência energética. Como construir um hospital sustentável pensando em todas as necessidades humanas?”

NOVAS TECNOLOGIAS

Um dos maiores ganhos do uso de novas tecnologias no sistema de saúde, sem dúvida, é tornar procedimentos médicos mais confortáveis para os pacientes. Nessa seara, estão as cirurgias robóticas que embora demandem altos investimentos para serem implementadas, há uma compensação financeira para a instituição de saúde à medida em que reduz custos com internação e, principalmente, na qualidade de vida do paciente. A plataforma robótica Da Vinci, a mais usada no mercado mundial, foi criada há mais de 20 anos e vem sendo refinada constantemente. Ela permite cirurgias minimamente invasivas e com muito mais precisão na intervenção.

A cirurgia robótica pode ser utilizada em qualquer paciente que precise passar por uma operação em cavidade, mas a tecnologia é mais largamente utilizada na urologia, ginecologia e cirurgia geral. O coordenador do Serviço de Cirurgia Robótica da Iscal (Irmandade Santa Casa de Londrina ), Ricardo Brandina, ressalta os avanços que o uso da plataforma robótica possibilitou nas cirurgias de próstata aumentada.

Com o auxílio de um computador, o médico comanda os quatro braços do robô em uma cirurgia laparoscópica. A máquina reproduz os movimentos das mãos do cirurgião e tem capacidade de alcançar ângulos que o médico não conseguiria em uma cirurgia aberta. Além dos melhores resultados cirúrgicos, os benefícios para o paciente são redução do risco de infecção, queda do risco de sequelas, diminuição do período de recuperação e alta mais rápida. “A cirurgia robótica é uma tecnologia que não tem volta. Os pacientes chegam pedindo por ela”, disse Brandina.

Radio-oncologista do Hospital do Câncer de Londrina, Diogo Dias do Prado também destacou a evolução do tratamento de radioterapia no tratamento oncológico ao longo dos anos. Segundo ele, com o aprimoramento das máquinas utilizadas no procedimento, hoje é possível distribuir com mais precisão as doses de radiação, reduzir a descarga de radiação em órgãos de risco e o paciente pode tratar o tumor sem o risco de afetar outros órgãos. “Hoje, há uma maior efetividade sobre a lesão, o que reduz a chance de efeito tóxico, enxugando o número de frações, o que reduz o tempo de tratamento”, disse Prado.

A cobertura completa da 17ª edição do EncontrosFolha será publicada na edição de FDS (12 e 13 de novembro) da Folha de Londrina.

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