O entorno do Lago Igapó 2 ganhou ares nostálgicos, neste sábado (26), no primeiro dia do 12º Encontro Nacional Vespas e Lambrettas de Londrina. O evento reúne 160 participantes de várias partes do Brasil, além da Argentina, Paraguai e Uruguai. Eles aproveitam o feriado de carnaval para compartilhar experiências, realizar passeios pela região e demonstrar sua paixão por esses veículos que foram tão populares no país entre as décadas de 1950 e 1980. O encontro, organizado pela Confraria Vespa e Lambretta de Londrina e Região, vai até a próxima segunda-feira (28).

Imagem ilustrativa da imagem Encontro reúne apaixonados por Vespas e Lambrettas em Londrina
| Foto: Simoni Saris - Grupo Folha

O mecânico Rafael Dallagasperina percorreu de Lambretta os 850 quilômetros que separam Londrina de Tapejara (RS) para estar presente ao encontro. Foram dois dias de viagem, acompanhado de outros três amigos, todos montados em Lambrettas. O modelo utilizado por Dallagasperina foi fabricado em 1957 e ainda está registrado no nome do avô, o primeiro dono da motoneta. “Minha paixão começou quando eu tinha nove anos. Hoje, estou com 44 anos. Meu pai a mantinha guardada, arrumou para mim e comecei a andar”, contou. “É uma forma de recordar o passado. Uma Lambretta, naquela época, não era para qualquer pessoa. Era como ter uma Ferrari”, comparou.

O segredo para seguir desfrutando do prazer de pilotar uma Lambretta por mais de seis décadas, afirmou o mecânico, é cuidar bem do veículo e respeitar o limite de velocidade, que fica entre 65 e 75 quilômetros por hora. “Ela até vai a mais de 80 quilômetros por hora, mas fica fora do limite dela e vai quebrar.”

Rafael Dallagasperina percorreu de Lambretta os 850 quilômetros que separam Londrina de Tapejara (RS) para estar presente ao encontro
Rafael Dallagasperina percorreu de Lambretta os 850 quilômetros que separam Londrina de Tapejara (RS) para estar presente ao encontro | Foto: Simoni Saris - Grupo Folha

Uma das características que mais impressionam Dallagasperina é a robustez do modelo. A Lambretta já passou por muitas manutenções, mas ainda guarda as características originais de fábrica o que, segundo ele, só é possível porque na época a resistência era uma exigência do mercado. “Os veículos eram feitos para durar. Hoje, se desmanchar uma antiga, faz tranquilo duas dessas novas”, disse ele com a segurança de quem já viajou de Lambretta pelo país e por países vizinhos. O histórico de viagens do mecânico inclui roteiros longos, como Argentina, Paraguai e Uruguai.

Se o design confortável permite alternar posições de pilotagem que possibilitam o descanso em movimento, a desvantagem é a autonomia, que demanda um bom planejamento da viagem. O pequeno tanque da Lambretta, posicionado sob o assento, tem capacidade para apenas 20 litros e o consumo é de cinco quilômetros por litro, o que exige paradas para abastecimento a cada cem quilômetros rodados.

HISTÓRIA

As primeiras motonetas dois tempos surgiram na Itália, na década de 1940, no período pós-guerra. Foram projetadas para atender a necessidade de um veículo de locomoção acessível às massas. Mas a invenção foi além da praticidade e economia e tornou-se um estilo de vida que marcou gerações.

Considerada a primeira scooter do mundo, a Vespa começou a ser produzida na cidade italiana de Pontedero, em 1946, pelos engenheiros da fabricante de aviões Piaggio. Já os primeiros modelos da Lambretta eram produzidos na cidade de Lambratte, também na década de 1940, e na década seguinte a marca também se tornou popular em outros países da Europa. No Brasil, as Vespas e Lambrettas começaram a circular por volta de 1957. “Eram importadas e montadas aqui no país”, relembrou Leonardo Melco Sfeir, membro da Confraria Vespa e Lambretta de Londrina e Região e um dos organizadores do encontro. “Hoje, é um hobby não muito barato, mas que dá muito prazer e muita satisfação.”

As motonetas foram o principal meio de transporte de muitas famílias brasileiras, eram usadas para fins utilitários por trabalhadores e, entre os jovens, virou símbolo de rebeldia, embalados pelo movimento da Jovem Guarda. “Todo mundo que foi jovem ou adolescente nos anos de 1960 e 1970 queria ter uma dessas, mesmo porque era o caminho mais rápido para conseguir uma namorada. Essas motos chamavam a atenção da mulherada”, contou o aposentado Milton Alves Filho, surpreendido pela fila de motonetas no entorno do Lago Igapó. “Vim fazer minha caminhada, como faço todos os dias pela manhã, e me vejo transportado de volta ao passado. Estou encantado.”

PAIXÃO

“Todo mundo tem uma lembrança gostosa do avô ou do pai com uma motoneta. A gente começa com essa paixão quando alguém da família teve uma Lambretta ou uma Vespa. No meu caso foi assim e, aí, tem o marido que é admirador também”, disse a administradora Eliana Kalau Gonzales, que nas horas de lazer pilota a Vespa ano 1985 acompanhada do marido, dono de uma Lambretta 1965. “É uma fábrica de fazer amizades, é ouvir histórias, compartilhar lembranças.”

O bancário aposentado Giovani Socal ingressou no universo das motonetas antigas há um ano. Comprou uma Vespa 1985 e, pouco depois, adquiriu também uma Lambretta 1968. Ele veio de Santa Maria (RS) para participar do encontro em Londrina, motivado pelo saudosismo. “Me traz lembranças de coisas boas do passado e é um meio de confraternizar”, definiu.

Neste sábado, a programação do encontro é na rua Joaquim de Matos Barreto, próximo à sede da Guarda Municipal, até as 18 horas. Além de apreciar o colorido e o design das motonetas, há food trucks e música para entreter o público. No domingo, acontece um passeio ao distrito de Guaravera e, na segunda-feira, os participantes do encontro visitam os principais pontos turísticos de Londrina.

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