A empresária do turismo de Cianorte (Noroeste) Nilsara Coelho, 62, está entre os 36 paranaenses que tiveram diagnóstico positivo para o coronavírus. Ela contraiu a doença entre o final de fevereiro e o início de março, durante viagem ao Oriente Médio. Do surgimento do sintoma até a alta médica, foram 14 dias em tratamento. A confirmação de que havia contraído o Covid-19 só veio na véspera da saída do hospital. “(Saber que era coronavírus) não fez diferença nenhuma porque eu estava bem. Nem pensei que eu iria morrer. Pensava na minha recuperação”, relata.

Imagem ilustrativa da imagem Empresária de Cianorte relata como venceu o coronavírus

O grupo de 14 pessoas no qual estava a empresária deixou o País no dia 20 de fevereiro. A viagem incluía sete noites em um cruzeiro marítimo e outras quatro noites em Dubai. Além de Dubai, os turistas passaram por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Muscat, em Omã, e Doha, no Qatar. “Quando chegamos em Dubai, no aeroporto vimos uma ou outra pessoa de máscara, mas nada preocupante. Embarcamos no cruzeiro e foi tranquilo. Nas visitas aos monumentos, a gente percebia que ainda não havia esses cuidados que a TV está colocando no mundo inteiro. Em nenhum momento a gente pensava nisso (coronavírus)”, contou a empresária.

No dia 2 de março, ao embarcarem de volta para o Brasil, alguns turistas que estavam no grupo apresentaram sintomas de gripe, incluindo uma senhora de 82 anos, moradora da Bahia. “Uma de nossas clientes levou máscaras e resolvemos usar no voo de volta. Em Cianorte, duas passageiras chegaram gripadas, com muita tosse, e no dia 3 foram à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para tomar soro.”

Coelho não estava entre as pessoas que voltaram de viagem com sintomas gripais. Somente no dia 4 de março ela se sentiu mal e procurou um pneumologista acreditando estar com inflamação nos brônquios. O primeiro raio-x apontou algum comprometimento nos pulmões e o médico receitou antibióticos. Entre os dias 4 e 8 de março, ela tomou a medicação, mas com a piora do quadro clínico, retornou ao consultório na segunda-feira (9). “Não tinha vômito, febre nem tosse, mas estava muito cansada. Ficava deitada no quarto e, se tentava ir até a cozinha para pegar um copo de água, não conseguia.”

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| Foto: Arquivo Pessoal

Com o resultado de um novo raio-x associado a uma tomografia, o médico concluiu que o problema pulmonar era de origem viral, que poderia ser o Covid-19, mas também poderia ser influenza ou qualquer outro vírus. Coelho foi internada na Santa Casa de Cianorte. “Fiquei isolada em um apartamento e colheram material para exames. Os profissionais que cuidavam de mim entravam no quarto com roupas de proteção e ficavam pouco tempo comigo, apenas o necessário para fazer os procedimentos. O médico, a mesma coisa”, relata. “Durante os sete dias em que fiquei no hospital, estava muito mal. Só ficava deitada, se me levantasse um pouco da cama, já tinha canseira.”

Dos sete dias de internamento, em cinco a empresária não conseguia se alimentar ou tomar água. No quinto dia ela conseguiu voltar a comer e no sexto dia se alimentou bem. “No dia 16 à noite, o doutor disse que o pulmão estava bom e que o resultado do exame havia chegado, confirmando o coronavírus.”

Logística

A alta hospitalar veio no dia 17 e foi preciso montar um esquema de logística para que Coelho saísse do hospital. A recomendação médica era que nenhum familiar tivesse contato com ela naquele momento e pegar um táxi também era arriscado. A saída foi deixar a unidade de saúde em uma ambulância. “Recebi alta às 9 horas, mas só consegui deixar o hospital às 14 horas. Para eu sair, toda a circulação de pessoas no corredor do hospital foi interrompida e os profissionais que tiveram contato comigo estavam todos paramentados para evitar o contágio. No condomínio onde moro, também houve todo um cuidado para que eu entrasse sozinha.” Segundo Coelho, nenhuma das outras pessoas do grupo com quem viajou que apresentaram sintomas de gripe testou positivo para coronavírus.

A orientação do médico era que a empresária ficasse em isolamento domiciliar por sete dias, mas ela decidiu estender a quarentena e, na sexta-feira (20), postou um vídeo nas redes sociais contando sua experiência nos últimos dias como forma de tentar conscientizar a população de que o momento não é de pânico, mas de cautela e que apenas com a união de toda a sociedade e a solidariedade será possível conter a disseminação do vírus.

Isolamento

“Estou em isolamento domiciliar de uma semana. O vírus não está mais, estou bem de saúde. Meu dia a dia é normal. Não tenho dor, tosse, febre, medicamento, nada. As modificações foram sentimentos e emoções que tive no isolamento e que fazem com que a gente comece a direcionar as ações da gente para outro foco”, diz a empresária, alertando que com a maioria das empresas e comércio fechados, as pessoas poderiam rever sua rotina e ficar mais em casa até mesmo em respeito aos profissionais que não podem se manter em isolamento total, como aqueles que atuam na saúde, na segurança, na limpeza, no transporte, entre outros setores.

“Temos que aprender a lidar com essa situação. As mudanças não devem ser de uma pessoa, mas do mundo inteiro. Não tem como achar que ficar dentro de casa é o suficiente. Não funciona desse jeito. Precisamos começar a trabalhar dentro de casa para proteger as pessoas. Vai ter isolamento de famílias inteiras, mas há os casos das famílias que vão ter isolamento parcial. Muita gente vai sair de casa e precisa voltar. É nisso que temos que ajudar um ao outro.”