Desde que o prefeito Marcelo Belinati (PP) flexibilizou a visita de familiares em quatro asilos e 18 casas de repouso conveniados com o município no dia 22 de novembro, a Casa de Repouso Nosso Lar, na zona oeste, ainda não havia realizado uma visita de familiares para os idosos que residem por lá. Isso porque tudo precisou ser estudado, para que os protocolos de segurança fossem respeitados. Essa sexta-feira (3) foi o primeiro dia em que isso foi viabilizado, com duas visitas. Cada uma delas teve meia hora de duração e entre elas houve um período de higienização. A reportagem da FOLHA acompanhou uma dessas visitas.

Visitas foram agendadas para reduzir o risco de infecção dos moradores por coronavírus
Visitas foram agendadas para reduzir o risco de infecção dos moradores por coronavírus | Foto: Vitor Ogawa

"Agora que a Vigilância Sanitária autorizou essa visita, viabilizamos isso tomando todas as medidas de precaução, com dois metros de distância entre eles, máscaras, sem toques, sem abraços e sem beijos. Antes da visita nós fizemos um ensaio com os idosos mais conscientes para eles entenderem o que ia acontecer aqui", destacou Eliane da Silva Alves, enfermeira e proprietária da casa de repouso.

Anésia Oliveira Rodrigues, 71, está há dois anos por lá. “A retomada das visitas é maravilhosa, porque a gente ama a nossa família. Hoje o meu neto João Pedro e a minha única filha vieram me visitar. Foi difícil ficar sem o contato com a família. A gente não se esquece da família, mas aqui a gente não fica só. Tem pessoas em volta da gente o dia inteiro e a gente está sempre em contato com as pessoas. Não tem solidão. A gente tem companhia, a gente conversa, mas reencontrar a família é uma benção de Deus que a gente tem”, destacou. “Eu agradeço bastante. Essa pandemia é uma praga. É horrível, porque é como se a gente ficasse amarrada, mas vai acabar. Eu já tinha participado de uma ação que permitiu que a gente abraçasse a minha filha por meio de uma cortina de plástico”, apontou. “Deu para matar a saudade. Estou bem contente. Eu sei que eles estão bem”, declarou.

A filha dela, Ariane Rodrigues Fadel, 50, destacou que ficar tanto tempo sem fazer visitas a quem se ama não é fácil, ainda mais quando é a sua mãe. “Fico feliz de ver minha mãe mais de perto. Eu participei do abraço por meio da cortina de plástico e ligo pelo telefone direto. Aqui eu tenho um carinho especial, porque o cuidado com ela é gratificante. Eles nos mantêm informados sobre tudo o que acontece e é como se a gente estivesse aqui. A confiabilidade que tenho neste lugar me deixa tranquila”, apontou.

"Eu e meus filhos estamos sempre em contato com ela. Mandei foto da família em um porta-retrato que ela deixa sempre perto dela. A pandemia teve momentos tristes, de muitas perdas, e nos fez refletir muito sobre o nosso tempo com a família, a dedicação com o próximo no geral. A vida é muito curta e a gente precisa estar mais próximo das pessoas que a gente gosta. Não se prender muito a coisas, mas sim às pessoas. Acho que ensinou muita coisa para a gente, diante das perdas que aconteceram muito próximo da gente. É uma oportunidade de rever a minha mãe e é muito gratificante. Muitos não têm a oportunidade que estou tendo hoje”, ressaltou.

O neto de Anésia, João Pedro Fadel, 21, estudante universitário do curso de Veterinária, ressaltou que a palavra que define esse reencontro é felicidade. “É vó, né? Ela sempre teve carinho com a gente, sempre zelando, levando para a escola. Poder ver ela bem não tem preço que pague”, destacou. Ele ressaltou que durante esse período em que as visitas não eram permitidas, eles mantiveram contato por ligação de vídeo por WhatsApp, ou por áudio, ou enviando fotografias. “Ou a gente passava aqui na frente de carro e de longe dava um tchauzinho. Mas a gente priorizou a vida dela”, destacou.

A enfermeira Eliane Alves relatou que os parentes não puderam visitar por um ano e oito meses, e também não foram feitos passeios. Foi muito difícil, porque há idosos que todo domingo saíam para almoçar ou passavam o fim de semana nas casas dos parentes e voltavam. Sem isso a pressão arterial subia ou eles sentiam depressão, porque muitos não entendiam o que estava acontecendo. A gente explicava e eles entendiam, mas aqueles que têm Alzheimer logo depois esqueciam”, explicou.

Alves ressaltou que ao repassar a informação de que as visitas seriam retomadas no grupo de WhatsApp das famílias, todo mundo queria agendar. “Eles tinham esperança de que eles seriam liberados para passar o Natal e o Ano Novo, mas eles não foram liberados. Mas eles ficaram felizes. Nós estamos morrendo de medo com essa história de nova variante. Acompanhamos a visita o tempo todo para não correr o risco de o idoso abraçar e beijar. Os idosos ficaram bem felizes com essa retomada das visitas”, relatou.

Ela destacou que os visitantes precisam preencher um questionário que a Vigilância Sanitária repassou para eles. "Eles precisam responder se tiveram tosse, contato com alguém, se tiveram febre. A visita não pode ter frequentado locais muito movimentados antes, apenas maiores de 18 anos são autorizados, duas pessoas no máximo. [Também é cobrado o] uso de máscaras correto, álcool em gel nas mãos, não é autorizado compartilhar presentes, não pode levar comidas no momento da visita. É sem contato nenhum mesmo. Após a visita tem que comunicar se teve algum sintoma de Covid até três dias depois. Precisamos ficar alertas. E é preciso comprovar que o idoso recebeu as três doses da vacina há mais de 15 dias", destacou.

Antes disso a instituição havia criado uma maneira dos idosos terem contato com a família. "Nós criamos a cortina do abraço, que toda semana permite os familiares darem um abraço através de um plástico, e isso amenizou um pouco a saudade.”

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