São Paulo - As emissões brasileiras de gases-estufa ligadas ao desmatamento cresceram 3,6% em 2018. Entre 2017 e 2018, o desmatamento da Amazônia cresceu 14% e alcançou o maior valor desde 2008, o que fez o País patinar no objetivo de reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

Taxas de desmatamento cresceram acentuadamente em diversos meses deste ano
Taxas de desmatamento cresceram acentuadamente em diversos meses deste ano | Foto: Felipe Werneck/Ibama

Os dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), projeto do Observatório do Clima, que reúne 47 organizações da sociedade civil, foram divulgados na manhã desta terça (5), em São Paulo.

No total, puxadas pelo desmatamento relacionado ao agronegócio, as emissões brasileiras entre 2017 e 2018 tiveram um leve aumento de 0,3%. Sozinho, o setor do agronegócio respondeu por 69% das emissões do País em 2018. Levando-se em conta o período de 1990 até 2017, o agronegócio responde por cerca de 80% das emissões brasileiras.

Considerando somente a atividade agropecuária - que responde por emissões relacionadas a gases relativos à fermentação entérica (com a produção de metano na digestão de animais ruminantes), o manejo dos dejetos animais (que também produzem metano) e até mesmo o cultivo de arroz em áreas inundadas -, houve diminuição de 0,8% nas emissões.

O problema é que no Brasil a agropecuária ainda encontra-se associada ao desmatamento (o que no inventário de emissões aparece como mudança de uso da terra). E, nessa área, as emissões subiram pouco mais de 3%.

Tal aumento, de cerca de 6 milhões de toneladas de carbono equivalente, já era esperado, considerando os dados mais recentes de desmatamento, que mostram aumento em cerca de 14% e o maior valor desde 2008, com a derrubada de 7.900 km² de floresta, segundo o Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Em 2018, o Ministério do Meio Ambiente associou o aumento da destruição a mudanças políticas, câmbio favorável ao agronegócio (o que estimula derrubada de mata para abertura de novas áreas para produção) e seca, o que leva ao aumento das queimadas.

O inventário de emissões anterior do Seeg (relativo ao ano de 2017) mostrava redução das emissões puxada pela diminuição no desmate. Com o aumento do desmatamento em 2019, é possível esperar um cenário mais pessimista para as emissões que serão anunciadas no ano que vem.

As taxas de desmatamento cresceram acentuadamente em diversos meses deste ano. Em junho, o desmate cresceu 90% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em julho, o aumento foi de 278%. Agosto teve crescimento de 222%, e setembro de 96%.

A situação das queimadas no país - que, segundo estudo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), se concentram em propriedades privadas e em florestas públicas não destinadas, onde desmate e uso de fogo são ilegais - também chamou a atenção nos últimos meses. Até 1º de setembro, o número de queimadas no Brasil bateu o recorde dos últimos nove anos, com concentração na Amazônia.