Em nota dúbia, PT decide por "saída política" do governo do RJ
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sábado, 01 de abril de 2000
Por Clarissa Thomé
Rio, 02 (AE) - Depois de sete horas de reunião, o diretório regional do PT decidiu pela "saída política" do governo do Rio de Janeiro. A nota dúbia, aprovada por um voto de diferença (25 a 24), não esclarece se os petistas vão deixar os cargos de confiança e estabelece 15 dias para a "concretização do ato", que depende ainda de "ações políticas" do governador Anthony Garotinho (PDT). O PT faz várias exigência para ficar no governo.
"O PT não tem mais responsabilidade no governo, Garotinho não pode cobrar do PT uma votação na Assembléia Legislativa (Alerj), mas a entrega dos cargos é de responsabilidade de quem está no governo", afirmou o presidente regional e deputado federal Carlos Santana. "O governador está com a bola, o calção e a camisa."
A nota foi redigida pela Articulação, facção da vice-governadora Benedita da Silva, depois que a bancada de deputados petistas decidiu, por sete a um, votar pela retirada do partido do governo - o líder da bancada, Paulo Pinheiro, representa a opinião dos demais deputados no diretório; apenas o deputado Arthur Messias votou pela permanência.
Diante da decisão, a Articulação, que tinha 24 delegados contra 24 das demais facções, pediu uma pausa na reunião. A nota aprovada foi redigida após encontro tenso, em que a vice-governadora teria voltado a ameAçar retirar sua candidatura à prefeitura, segundo testemununhas, e abandonou o encontro.
Interpretações - Os deputados decidiram pela "saída política" por cinco votos (Carlos Minc, Paulo Pinheiro, Tânia Rodrigues, Arthur Messias e Andre Siciliano) a três (Chico Alencar, Cida Diogo e Hélio Luz) e aprovaram a nota. "Saída política é deixar esfriar a panela e depois vê se sai mesmo ou não; quem tem que explicar isso é a maioria que aprovou a nota"
afirmou Chico Alencar.
Nem o secretário de Planejamento, Jorge Bittar, da corrente Articulação, soube explicar o termo e contradisse o presidente do partido. "Continuamos no governo", afirmou. "É uma solução de compromisso entre a nossa posição e a da bancada, mas não é a nota que eu redigiria."
Exigências - Para permanecer no governo, os petistas querem que Garotinho apure as denúncias de irregularidades na Companhia Estadual de Habitação e na Secretaria de Segurança Pública, diminua o poder concentrado na secretaria do gabinete do governador e na Secretaria de Fazenda, transfira o controle dos programas bolsa-escola e cheque-cidadão para o Conselho Estadual de Educação e "assuma" a poluição dos esgotos da Companhia de águas e Esgotos. Tudo isso em 15 dias.
"Queremos nesse período uma sinalização de que o governador está tomando atitudes", afirmou o vice-presidente municipal do partido, William Campos. "Não podemos tomar a atitude infantil de abandonar os cargos, como quer o grupo mais uma vez derrotado". O deputado federal Milton Temer disse que se sentia vitorioso. "Quem sai politicamente se considera fora do governo, esse paradoxo de continuar recebendo os salários a ciência política vai resolver", ironizou.
No fim do encontro, um grupo de petistas protestou, fazendo paródia com a música do grupo As Meninas: "e o resultado todo mundo já conhece: a boquinha sobe e o partido desce", alusão à expressão "Partido da Boquinha", cunhada pelo governador Garotinho ao criticar a briga por cargos.

