Um pedido de divórcio pode ter sido a motivação de um feminicídio registrado na manhã desta quinta-feira (25) no Jardim Tarobá, na zona sul de Londrina. A informação foi confirmada pela delegada Livia Pini.

“A gente acredita que essa possa ser uma motivação do crime, até por esse ser um padrão dos feminicídios", disse Lívia Pini
“A gente acredita que essa possa ser uma motivação do crime, até por esse ser um padrão dos feminicídios", disse Lívia Pini | Foto: Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA

De acordo com Pini, na residência da vítima foram encontrados documentos que mostram que a mulher estava sendo acompanhada pela Defensoria Pública de Londrina para efetuar o pedido de divórcio. A vítima deixa um filho de 14 anos.

“A gente acredita que essa possa ser uma motivação do crime, até por esse ser um padrão dos feminicídios. Ainda vai ser melhor apurada a motivação, mas, a princípio, a gente acredita que essa foi a causa”, disse.

De acordo com a Polícia Civil, o homem matou a mulher com disparos de arma de fogo e testemunhas disseram ter ouvido pelo menos três tiros. O autor também acertou golpes de faca no rosto e no corpo da vítima.

Após o crime, o agressor saiu do local portando um revólver e uma faca e foi em direção à PEL (Penitenciária Estadual de Londrina) 1, onde estava ocorrendo um evento. Os policiais penais tentaram fazer uma contenção, verbalizando para que ele deixasse a arma no chão.

“Em algum momento ele realmente dispensa a arma, mas segue com a faca. Ele se autolesiona com a faca e, em um determinado momento, também há verbalização para que ele deixe a faca. Ele não deixa, vai em direção aos agentes, que é o momento em que a gente ouve os últimos disparos e ele indo ao chão”, relatou Pini. Um vídeo que circula na internet flagrou esse momento em frente à penitenciária.

Testemunhas disseram ter ouvido uma discussão entre o casal. Depois, a mulher pediu socorro e um primeiro tiro foi ouvido; logo depois foram efetuados os outros disparos.

Procurada pela reportagem, a PPPR (Polícia Penal do Paraná) disse, através de nota, que o homem confrontou os policiais penais que reforçavam a portaria da PEL 1.

“As tratativas para promover a segurança conduziram o homem a entregar a arma de fogo, contudo, ele investiu contra os policiais com a faca. Ele foi contido com dois disparos de arma de fogo, e ainda sim, utilizou a referida faca para se mutilar, e foi a óbito”, diz a nota.

INVESTIGAÇÃO

Para a investigação do caso, serão instaurados dois inquéritos nas delegacias de Homicídio e da Mulher, que irão apurar, respectivamente, a morte do homem e o feminicídio.

“O SOE [Setor de Operações Especiais, da PPPR] é um grupamento bem treinado, bastante capacitado, mas isso vai ser apurado no inquérito. É situação de praxe quando há confronto”, explicou a delegada, pontuando que serão solicitadas imagens de câmeras de segurança e será apurado se havia ou não armamento menos letal.

De acordo com Pini, toda situação de morte demanda a instauração de inquérito para apurar as circunstâncias - mesmo quando o autor do feminicídio, como neste caso, vai a óbito.

“Nessa situação, a princípio, estamos numa situação de legítima defesa que, a princípio, não haveria crime. Mas a gente tem a necessidade de instauração de inquérito para documentação de que realmente não há crime”, completa.

ORIENTAÇÃO

A delegada afirma que a vítima não possuía nenhum BO (Boletim de Ocorrência) e nem medida protetiva contra o agressor. Também, há a suspeita de que ele poderia ser usuário de cocaína, “o que aumentaria de certa forma o nível de agressividade”, segundo Pini.

“A gente até aproveita a ocasião para alertar as mulheres que passam por situações de violência doméstica, que formalizem ocorrências de ameaça, de situações violentas, porque muitas vezes um pedido de medida protetiva pode evitar uma ação mais grave do autor”, disse.